No momento em que as mulheres tornam-se maioria entre os desempregados da Arábia Saudita, o governo do país decidiu romper com parte de suas rígidas normas culturais para promover a contratação de novas trabalhadoras.
É nesse contexto que surge a empresa Glowork.net, um site de recrutamento focado exclusivamente em mulheres sauditas que passará a receber uma comissão do Ministério do Trabalho por cada trabalhadora que conseguir empregar.
Khalid al-Khudairi, idealizador do projeto, teve de resistir a uma avalanche de e-mails e telefonemas que o acusavam de violar normas culturais até conquistar o apoio. “As mulheres sauditas são capacitadas, têm vontade de trabalhar e estão cansadas de esperar”, disse em entrevista ao jornalThe New York Times. Para ele, “a Primavera Árabe poderia ter acelerado isso, já que as mulheres da região têm opinado mais e reivindicado a igualdade de direitos há anos”. “Agora sim estamos vendo uma mudança real no país”, defende.
O objetivo do governo é reduzir os 2,4 bilhões de riais sauditas (cerca de 1,3 bilhão de reais) gastos em seguro desemprego. Por essa razão, o ministério do trabalho deu ao Glowork acesso a todo seu banco de dados sobre de desempregados. São 1,2 milhão de prontuários de mulheres desligadas do mercado de trabalho do país.
Como forma de elevar a oferta de postos de trabalho a esse setor da população, o Ministério do Trabalho já anunciou inclusive planos para construir uma cidade exclusiva para mulheres na província de Hofuf, no nordeste do país.
Desde quando assumiu seu cargo, em agosto de 2010, o ministro do Trabalho da Arábia Saudita, Adel Fakieh, conduz um intenso processo de inclusão de mulheres na população economicamente ativa do país. Foi ele o responsável por uma medida de janeiro deste ano que obrigou lojas de lingerie a substituírem seus funcionários homens por mulheres. Joalherias já acataram voluntariamente a resolução e, até o próximo ano, lojas de abaias (os véus que as mulheres sauditas são obrigadas a usar) também devem passar pelo que autoridades chamam de “feminização”.
Em um primeiro momento, o governo sofreu forte resistência de setores mais conservadores da sociedade, que consideram um desrespeito à Sharia (lei islâmica) permitir que mulheres trabalhem fora do ambiente doméstico. Muitos comerciantes também temiam dificuldades para encontrar mão de obra feminina em abundância e pelo mesmo valor pago a imigrantes do sul asiático.
“Inserir mulheres na força de trabalho do setor privado da região não será fácil e há o risco de tudo ocorrer muito rapidamente”, opina Leila Hoteit, executiva da consultoria Booz & Co nos Emirados Árabes. Ela ressalvou que “um trabalhador imigrante capacitado não pode simplesmente ser substituído por uma mulher nativa”. “No longo prazo, essa mudança é inevitável, as atitudes estão mudando na região e muitas companhias estão ajudando as mulheres a alcançar um papel mais central no mercado de trabalho da região”, concluiu.
Potencial inexplorado
Além de representarem 45% da população do país, estudos de consultorias revelam que as mulheres sauditas possuem potencial técnico e acadêmico praticamente inexplorado.
Embora elas componham apenas 15% da mão de obra nacional, um estudo da Oxford Strategic Consulting aponta que 57% possuem ao menos uma graduação universitária. A Booz & Co chegou a resultados semelhantes e alega que pelo menos 60% das mulheres sauditas com Ph.D. não trabalham.
Analistas argumentam que o principal obstáculo para a inclusão dessas profissionais ao Mercado de trabalho nacional é a prioridade que atribuem, por exemplo, aos cuidados com seus filhos. Logo em seguida, surgem critérios como condições de trabalho inadequadas, treinamento insuficiente e cultura machista.
Reportagem de Fillipe Mauro
foto:nofemininonegocios.com
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