30/06/2012

Greve de fome de soldado traz à tona insatisfação de jovens israelenses contra exército

Yaniv Mazor foi preso por se negar a cumprir serviço militar na Cisjordânia e se juntou ao protesto de prisioneiros palestinos detidos sem acusações formais.


Natural de Jerusalém, o soldado Yaniv Mazor foi sentenciado à prisão no último dia 11 de junho por se recusar a servir o exército israelense no território ocupado da Cisjordânia. Em Israel, o serviço militar é obrigatório para todos os cidadãos maiores de 18 anos, sendo três anos para os homens e dois para as mulheres.
Entretanto, muitos jovens como Mazor declaram-se objetores de consciência para não cumprirem com tais obrigações. O ato de objeção de consciência consiste em negar-se ao cumprimento de uma lei ou norma por motivos particulares, sejam eles religiosos, éticos ou morais. No país do jovem soldado, tomar uma atitude como essa implica em ser tratado como um criminoso.


Apesar de muitos objetores declararem possuir alguma doença ou problema físico para evitar a prisão, os que decidem não prestar o serviço por motivos políticos enfrentam condenações prisionais. Com essa atitude, Mazor passou a engrossar o movimento conhecido como “refuseniks”, grupo de pessoas que rejeita o recrutamento obrigatório.
“Yaniv não acredita que Israel deva estar na Cisjordânia já que o país está ocupando a zona e causando danos aos palestinos”, comenta Itamar Shapira, amigo de Mazor e refusenik assumido.
“Não é que ele se negue a ir ao exército, é que ele não acredita na política israelense para com os palestinos. Ele é contrário aos assentamentos e à presença israelense no local. Por isso quando chegou sua carta que o convocava para a reserva na Cisjordânia, ele negou-se completamente a aceitar. Se houvessem enviado ele para outra base em Israel, ele iria”, completou Shapira.


Mazor, que ingressou na prisão no dia do seu aniversário, será liberado no fim deste mês, depois de 20 dias encarcerado. Durante este período, o soldado aderiu à greve de fome de dois presos palestinos que protestavam contra as detenções administrativas a que foram submetidos.
Neste tipo de detenção, um prisioneiro pode permanecer preso por um período de tempo indeterminado, sem julgamento nem acusações concretas. Os dois presos palestinos, que acumulavam mais de três anos de prisão sem julgamento, iniciaram o protesto a três meses. A iniciativa levou outros mil prisioneiros palestinos a unirem-se ao protesto e forçou o governo israelense a rever as condenações de centenas deles.
A greve de fome de Mazor não durou muito, apenas alguns dias. Segundo seu advogado, Michael Sfard, houve pressões para que o jovem abandonasse o protesto. “Um dos presos deixou a greve quando foi comunicado que seria liberado no mês seguinte, já que temiam por sua saúde. Mas também não pegava bem o fato de um israelense unir-se aos palestinos nisto. Assim, houve uma certa pressão para que ele largasse. Influenciou também o fato de o outro preso começar a comer de novo”, declarou Sfard.
Ainda que Mazor seja até agora o único israelense que aderiu à greve de fome pelas detenções administrativas, o movimento dos refuseniks não para de crescer no país. A cada ano, centenas de jovens se perguntam por que devem ceder três anos de suas vidas para servir a um exército que possui políticas que não estão de acordo com suas crenças.
Para Yoav Hass, porta-voz do grupo Yesh Gvul, que ajuda os israelenses que não querem prestar o serviço militar, o número de pessoas nesta situação é enorme, mas o exército não quer que as cifras sejam divulgadas. “Não posso dar um número exato de jovens que se negam a ir ao exército porque muitos alegam doenças, como o meu filho, que queria evitar a prisão”, explicou Hass.
O Yesh Gvul nasceu após a primeira Guerra do Líbano, em 1982, quando um grupo de reservistas que havia participado do confronto negou-se a seguir certas ordens do exército israelense.
“Yaniv, como a maioria dos integrantes do Yesh Gvul, não é contra o exército em si, como organização. Ele é contra uma série de decisões e ordens que ele sabe que lhe darão uma vez que chegue à Cisjordânia. Em Israel, existem dois tipos de opositores do exército: os que negam por completo a sua existência e os que se negam a seguir certas ordens, como Yaniv”, afirmou Hass.
O governo israelense leva anos incentivando os jovens do país a alistarem-se no exército com campanhas televisivas e dotações econômicas, mas ainda assim o número de refuseniks cresce a cada ano. Em 2012, cerca de 1800 jovens não prestaram o serviço militar, enquanto que em 2011, o número saltou para 2700.
Para conter esta sangria em suas filas, o exército lançou uma onda de prisões para capturar os falsos doentes e religiosos, já que muitos jovens, especialmente mulheres, alegam ser judeus ortodoxos para fugir do serviço militar. Esta operação de caça aos refuseniks teve como saldo a prisão de 800 falsas religiosas, depois que o exército comprovou que elas usaram o Facebook durante um sábado, dia de descanso judeu, no qual está proibida a utilização de qualquer aparelho elétrico, entre outras coisas.
Percebendo a fuga dos jovens e o pouco interesse dos mesmos em passar três anos em barracões militares, o governo iniciou uma nova campanha para estimular o patriotismo entres os adolescentes. Oficiais do exército israelense visitam escolas do país para reforçar os valores militares e a importância de servir a pátria.
Diante desta onda de refuseniks, o exército alega que suas campanhas e seus métodos de recrutamento forçoso são necessários para o país, já que Israel é uma nação pequena, "rodeada por inimigos".
“Se esta tendência continuar, a próxima década poderia trazer até 40% de refuseniks, e tendo em conta que os árabes israelenses não se alistam, poderíamos ter uma abstenção de até 70%”, afirmou um oficial do exército.



Reportagem de Susana Mendoza
foto:static2.todanoticia.com

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