08/05/2012

EUA lançam guia para envelhecer sem tomar muitos remédios



"Teme a velhice, porque ela nunca vem só", pontificava o filósofo grego Platão no século IV a.C. Hoje, envelhecer, ainda que inexorável, é infinitamente mais tranquilo, saudável e até certo ponto controlável do que era na antiguidade. No entanto, apesar de todos os avanços na medicina da longevidade, a velhice realmente nunca vem só. Cuidar dos problemas relacionados ao envelhecimento significa consumir uma batelada de comprimidos e cápsulas. Um idoso toma de cinco a dez medicamentos diferentes todos os dias. Não bastassem os riscos inerentes a qualquer remédio, nessas quantidades há o perigo das interações medicamentosas. 
Um terço dos idosos, indicam levantamentos recentes, sofre as consequências do mau uso de medicamentos. Nos Estados Unidos, ele é a causa de 28% das internações a partir dos 60 anos. "A cada novo composto acrescido à rotina de um paciente mais velho, o risco de problemas sobe 10%", diz Milton Gorzoni, coordenador de geriatria da Santa Casa de São Paulo. Com o aumento da expectativa de vida, o problema tende a se agravar. Em 2050, conforme dados da Organização Mundial de Saúde, o número de homens e mulheres com 60 anos ou mais deve pular de cerca de 690 milhões para quase 2  bilhões — 64 milhões deles no Brasil.
Com o objetivo de orientar médicos e pacientes, a Sociedade Americana de Geriatria lançou recentemente as novas diretrizes sobre o uso de medicamentos por idosos. Concebida por onze especialistas de várias áreas, a cartilha foi elaborada a partir da revisão de 2 000 estudos científicos sobre o assunto e traz 53 medicamentos, de trinta classes diferentes, potencialmente perigosos para os mais velhos. 
A primeira diretriz foi publicada em 1991 e a última atualização tinha acontecido em 2003. De lá para cá, 38 medicamentos ou classes de substâncias foram acrescidoAs à lista e outros dezenove retirados. Entre os que foram mantidos, decidiu-se agora pelo estabelecimento de novas recomendações para alguns. É o caso dos benzodiazepínicos, consumidos com bas­tante frequência para o controle da ansiedade. Em 2003, a Sociedade Americana de Geriatria sugeria usá-los em doses baixas. Atualmente, aconselha evitá-los, sob o risco de causarem problemas de memória, confusão mental aguda, quedas e fraturas.
Todo medicamento oferece riscos. Para um idoso, eles são maiores porque seu organismo funciona de forma mais lenta. A composição corporal muda. Os músculos tendem a ser substituídos por gordura e a concentração de água diminui. As células de defesa do organismo tornam-se menos eficientes e os ossos ficam mais frágeis. O fígado e os rins demoram a eliminar os compostos ativos dos medicamentos. "Se tomado diariamente, um comprimido do benzodiazepínico diazepam pode ficar circulando por 200 horas no organismo de um idoso", diz o geriatra Rubens de Fraga Júnior, da Sociedade Brasileira de Geriatria. 
"No organismo de um jovem, ele é descartado em apenas seis horas." Há também os remédios contraindicados devido ao modo como os idosos tendem a usá-los. Os anti-inflamatórios não hormonais, a classe dos populares Aspirina, Advil e Cataflam, estão entre os mais consumidos pelos mais velhos. Metade das pessoas com 60 anos ou mais sofre de dores crônicas. Soma-se a isso o fato de que esses anti-inflamatórios são vendidos sem receita e tem-se o cenário para o abuso e o agravamento das reações adversas. Entre elas, hemorragias estomacais e insuficiência renal.
A cartilha da Sociedade Americana de Geriatria não contempla os fitoterápicos, como ginkgo biloba e ginseng, entre tantos outros. Aparentemente inofensivos, quando combinados a outros remédios, esses compostos podem trazer consequências graves, como insônia, aceleração cardíaca e sangramentos. "Em geral, o idoso não informa ao médico que usa fitoterápicos achando que os naturais não oferecem perigo", diz Gorzoni. "Sem saber por quê, o paciente pode sofrer uma série de efeitos colaterais e tomar outros remédios para tratá-los." É uma reação em cadeia de riscos evidentes.

foto:zun.com.br

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