Na última pesquisa nacional do Centro de Estudos Públicos (CEP) divulgada em dezembro passado, fez-se a seguinte pergunta aos chilenos consultados: Quanta confiança você tem no Congresso? A resposta foi categórica: apenas 13% disseram aprovar e legitimar o trabalho dos legisladores. Foi a segunda instituição mais mal avaliada do país, junto com os tribunais, e só superou em apoio os partidos políticos, que obtiveram 7%.
O escândalo que estourou no Chile na semana passada não contribuiu para evitar que o Poder Legislativo continue perdendo simpatias, assim como toda a classe política, incluindo governo e oposição. Os 38 senadores chilenos, depois de diversas gestões de todos os grupos políticos, receberão um aumento de cerca de 3.150 euros para gastos de representação sobre uma cifra que já era de 8.530 euros. O salário mínimo no Chile mal chega a 285 euros.
A medida passou despercebida para a opinião pública e só foi conhecida porque o deputado socialista Fidel Espinoza o denunciou no Twitter. "Que o presidente do Senado explique por que estão pedindo 2 milhões [de pesos chilenos] de aumento em seus salários parlamentares. Isto já é vergonhoso", escreveu ele, quando a iniciativa não era conhecida.
A reação popular foi imediata. A mensagem provocou o repúdio da população tanto nas redes sociais como em intervenções em programas de rádio e televisão. A pesquisa de emergência realizada pelo CEP reflete que os cidadãos estão "muito indignados" e "muito aborrecidos" com o que considera a elite política. A frase do legislador também causou uma insólita disputa pública entre a Câmara de Deputados e o Senado, cujos integrantes, à margem das tendências de uns e outros, começaram a se recriminar mutuamente. "Não estamos de acordo nem no fundo nem na forma como se solicitou e aprovou este aumento", indicou o presidente dos deputados, Nicolás Monckeberg, do partido governista Renovação Nacional. O líder dos senadores, o socialista Camilo Escalona, saiu em defesa de seus pares e, em plena sessão de quarta-feira (11), indicou que "todas essas afirmações desqualificadoras não têm fundamento algum e prejudicam profundamente a honra do Senado".
Os senadores de todos os partidos políticos solicitaram no ano passado que fossem elevados os recursos destinados a seus gastos de representação. Depois de reiterados pedidos, que continuaram em 2012, o aumento foi aceito pelo Ministério da Fazenda.
Além de seu salário de cerca de 12 mil euros mensais, os senadores chilenos recebem dinheiro para passagens aéreas, assessorias legislativas e contratação de pessoal. As autoridades, depois da eclosão da polêmica, se apuraram para salientar que os novos valores serão submetidos a controle e que seu gasto deverá ser justificado. "Nenhum desses recursos são para uso pessoal, já que tudo o que fizerem com eles deverá passar por uma auditoria", indicou o ex-senador democrata-cristão Sergio Páez, presidente do Conselho de Verbas Parlamentares. No entanto, apesar das reclamações populares, os senadores até ontem não davam um passo atrás e continuavam com a iniciativa.
Mas o conflito também se expandiu para a Câmara dos Deputados. Desde janeiro passado vigora um aumento de 2 milhões de pesos (cerca de 3.150 euros) para assessorias legislativas que tinham um valor aprovado de cerca de 180 mil pesos (280 euros).
O problema é que até o início da polêmica no Senado este também não era conhecido pela opinião pública. Os deputados, entretanto, negaram tais acusações. "Faço um apelo aos senhores senadores para que falem com verdade ao país", reiterou o deputado Espinoza, que fez explodir o inédito conflito em um Parlamento que não se caracteriza pelas controvérsias.
Já em outubro de 2011 a Câmara aprovou a compra de um iPad 2 para cada um dos 120 deputados, com o fim de "apoiar o trabalho parlamentar". Depois da indignação dos cidadãos, a compra finalmente não se concretizou.
Uma manifestação não autorizada em Santiago para protestar contra o projeto da HidroAysén, que contempla a construção de cinco represas na Patagônia chilena, acabou em confrontos com a polícia.
Reportagem de Rocío Montes para o jornal espanhol El País
tradução:Luiz Roberto Mendes Gonçalves
foto:bligoo.com
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