19/03/2012

A violência machista e a diferença salarial na Europa

A violência machista já não é um assunto que fica em casa: 48% dos europeus a identificam como o principal problema entre as desigualdades de gêneros na União Europeia. E essa porcentagem é muito mais alta entre os espanhóis: para 74%, a agressão contra as mulheres é o problema primordial, segundo revela um Eurobarômetro sobre igualdade de gêneros apresentado ontem em Bruxelas. E atrás deles, para os suecos (74%) e os romenos (62%) também é, muito à frente de outros, o principal obstáculo. Por outro lado, só 27% dos alemães identificam esse como o maior problema.
"As agressões contra as mulheres são algo que homens e mulheres reconhecem como um enorme problema, sem grandes diferenças (46% dos homens e 50% das mulheres)", afirmou Mikael Gustafsson, presidente da Comissão de Igualdade de Gêneros e Direitos da Mulher no Parlamento Europeu, que explicou que o fato de alguns países mencionarem esse assunto acima de outros não significa necessariamente que neles haja mais situações de violência machista. "Pode ser que os cidadãos sejam mais conscientes disso. E reconhecer o problema é um passo fundamental", afirmou durante um seminário no Parlamento Europeu, em Bruxelas.
A diferença salarial é o segundo fator de discriminação mais identificado pelos europeus. "É um problema que, além disso, se perpetua, porque ganhar menos implica ter depois menos benefício por desemprego e aposentadoria", aponta a holandesa Ria Oomen-Ruijtenj, do PP. Para 43% dos cidadãos, o fato de ainda existirem mulheres que ganham menos que seus colegas homens por um trabalho de igual valor --17% a menos em média, segundo dados da UE-- é o problema principal. Algo a que dão mais importância as mulheres (46%) que os homens (39%), e os cidadãos a partir de 40 anos. Os franceses, belgas, espanhóis e suecos são os cidadãos que dão maior transcendência a essa realidade, que entretanto não tem importância para 28% dos europeus.
"Estamos diante de uma situação inaceitável", considera a eurodeputada italiana Roberta Angelilli (Partido Popular Europeu). "As mulheres são mais de 60% dos trabalhadores da Europa, estão mais preparadas e melhor formadas, mas sofrem mais dificuldades para ter acesso ao mundo do trabalho e ganham menos", diz.
As leis europeias proíbem desde 1950 essa discriminação salarial. Uma norma que foi seguida de muitas outras --comunitárias e nacionais-- que, apesar de tudo, não conseguiram resolver o problema. A eslovaca Edit Bauer (PPE) acredita que não são necessárias mais medidas legislativas para combater esse problema --"há muitas, mas parece que não têm todo o efeito desejado"--, e sim outro tipo de política de controle e transparência em contratos e salários que impeçam essa desigualdade.
A pesquisa, realizada em janeiro com mais de 25.500 pessoas dos 27 países, mostra que os europeus são partidários de sancionar as empresas que não respeitem a igualdade. Também consideram eficaz estabelecer um sistema para que os salários sejam mais transparentes. Britta Thomsen, eurodeputada social-democrata alemã, propõe uma fórmula de incentivos. "Poderíamos criar um selo de qualidade para as empresas. Assim eu, como trabalhadora, saberei que se vou me candidatar a um cargo nessa empresa receberei a mesma remuneração que meus colegas homens."

Oportunidades iguais?

A maioria dos espanhóis diz que em sua empresa existem as mesmas oportunidades de promoção para homens e mulheres. Segundo uma pesquisa da Metroscopia, 76% são dessa opinião. Há matizes por idade e sexo: para os homens com menos de 34 anos, a sensação se transforma quase em certeza, pois 94% afirmam que as mulheres não enfrentam mais dificuldades que eles no trabalho. Entre as mulheres jovens, a porcentagem é menor, 66%. "Sua impressão da realidade deixa transparecer um presente no qual ainda resta um caminho para a igualdade", explica Susana Arbas, diretora-geral da Metroscopia.
Sessenta e quatro por cento dos trabalhadores aceitariam um cargo com maior responsabilidade, remuneração e dedicação se a empresa lhe oferecesse. E aqui voltam a surgir diferenças: 42% das mulheres entre 35 e 54 anos declinariam a oferta. A maternidade é um freio nessa etapa. Depois dos 55 anos, ou antes dos 35, sentem-se por sua vez mais dispostas a assumir maior responsabilidade no trabalho.
Reportagem de María R. Sahuquillo para o jornal espanhol El País
Tradutor: Luiz Roberto Mendes Gonçalves 

foto:anapaulafitas.blogspot.com

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