12/03/2012

“A educação básica terá um colapso por falta de professores”

Em meio ao debate sobre o reajuste e o cumprimento do piso salarial do magistério, Maria Lucia Vasconcelos é enfática: sem valorização da carreira, teremos um colapso na educação básica pela falta de professores. “Tem que haver investimento do Estado no professor. É uma profissão estratégica”, afirma a ex-secretária de Educação de São Paulo e atual presidente do Conselho Municipal de Educação da capital paulista.

A professora e ex-reitora da Universidade Presbiteriana Mackenzie lançou na semana passada o livro “Educação Básica” (Editora Contexto), no qual discute os principais temas e problemas dessa etapa com outros educadores. Os cinco capítulos abordam a formação do professor, a autoridade do docente, a ação do professor em sala de aula, o diálogo na escola e o olhar jornalístico para a educação.
“A autoridade tem que ser exercida em todos os níveis da educação. Dar liberdade excessiva para o aluno acaba complicando a relação dos docentes com os estudantes”, destaca Maria Lucia. Para a educadora, os professores precisam chegar à sala de aula melhor preparados e mais seguros de seu trabalho para conduzir os alunos. E a formação universitária deve ser reformulada, para que esteja mais próxima da realidade escolar.
De acordo com Maria Lucia não há diálogo entre a universidade e a educação básica. Há um fosso. A universidade continua fazendo o que ela acha que deve fazer sem conhecer a realidade e as necessidades dos professores. Não vejo como melhorar a qualidade da formação sem mexer nas licenciaturas e na valorização do professor. Daqui a pouco vamos ter um colapso na educação básica pela falta de professores. Já estamos com uma crise braba, para algumas disciplinas como história e geografia em que é muito difícil encontrar professores. Tem que valorizar a carreira, torná-la mais atraente.
Além disso, a educadora enfatiza que a indisciplina afasta o professor da própria profissão, um ambiente desorganizado não é atraente. A autoridade tem que ser exercida em todos os níveis da educação. Dar liberdade excessiva para o aluno acaba complicando a relação dos docentes com os estudantes. O professor deve exercer a autoridade, porque o papel dele assim exige. Quando o aluno toma as rédeas, as coisas se perdem, e o professor se sente impotente. Nessa ânsia de se aproximar dos alunos, ele acaba perdendo a noção de que os papeis são diferentes. O professor tem que estar melhor preparado para chegar em sala de aula, ter segurança do que ele faz, e saber que ele vai chegar onde quer, sem abrir concessões.
Ela aponta outros problemas: a alfabetização deficiente e a evasão do ensino médio. "Se você não tem uma criança bem alfabetizada, ela vai levar essa dificuldade para o resto de sua vida escolar e não terá prazer em aprender. Não podemos fechar os olhos para o fato de que crianças caminham pela idade escolar com fragilidades. Precisa haver continuidade nas políticas públicas. O ensino médio é outro grave problema, porque não responde a nada. Se ele tiver uma clientela fortemente focada no vestibular, pode ser um preparatório. Mas se não, ele não tem sentido para o aluno. Precisa haver uma resignificação do ensino médio, para que o aluno perceba a utilidade daquilo. Não é mais uma criança que está aprendendo, mas um jovem que tem perspectivas, que muitas vezes quer entrar no mercado de trabalho. Precisa voltar para uma coisa mais prática, mais efetiva. No Estado de São Paulo há uma experiência de colocar no contraturno aulas profissionalizantes. Talvez o caminho seja esse".

Reportagem de Marina Morena Costa
foto:caramurupaiva.com.br

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