Dívida mais desemprego é igual a despejo. Uma das equações que mais tem feito tremer europeus e norte-americanos desde o eclodir da crise financeira mundial em 2008 continua a fazer vítimas, e Espanha, apesar de ainda não ter chegado ao mau estado da Grécia, da Irlanda ou de Portugal, não tem conseguido fugir à regra.
De acordo com um estudo ontem divulgado pela Associação dos Atingidos por Despejos e Leilões (AFES), 150 mil famílias espanholas já ficaram sem casa entre 2008 e 2011, número que “vai aumentar a cada ano” e “levar a uma situação crítica”: mais de meio milhão de famílias poderão perder os lares até 2015.
Carlos Baños, presidente da associação criada para apoiar espanhóis em dificuldades financeiras, tem esperança de que as medidas para combater a crise, anunciadas pelo novo governo do Partido Popular (PP), “abram o debate sobre o processo de exclusão como solução para o problema” e levem à “procura de medidas alternativas, negociadas entre os bancos e os seus clientes”.
Mas os dados avançados no estudo não deixam tanta margem para optimismo. De acordo com os cálculos e registos da AFES, “se a situação não mudar”, 510 mil famílias vão perder as suas casas por execuções hipotecárias até 2015, prevendo-se ainda perdas a rondar os 34 mil milhões de euros para a banca.
“O mais preocupante nesta crise é que afecta tanto o cidadão como o banqueiro”, explica ao i a associação, criada “no final de 2006, à luz dos primeiros sintomas de abrandamento económico no sector imobiliário”, embora “tenha sido em 2009, já em plena crise, que a procura dos nossos serviços aumentou substancialmente”.
Neste momento, a lei obriga os contribuintes espanhóis a continuar a pagar a hipoteca mesmo depois de terem sido despojados de todos os bens de valor, incluindo as suas casas. Esta lei, aliada às execuções das hipotecas pela banca e à alta taxa de desemprego, levou a que, só em 2011, houvesse 200 famílias por dia a ficar sem habitação.
A AFES defende que a solução para inverter a tendência de despejos é simples. “Negociar. Eles [bancos] vão ter de se sentar e negociar com os clientes porque, ainda que o banco incorra em perdas, será sempre pior manter no balanço activos de venda difícil [casas hipotecadas].” Com essa renegociação, o banco conseguirá também “recuperar a confiança dos clientes”.
Por miúdos, a associação defende que cada banco analise, “caso a caso”, alternativas ao despejo. “A mediação entre bancos e afectados é hoje mais necessária do que nunca.”
O cenário negro previsto é, contudo, pautado por uma nota de fé no executivo de Mariano Rajoy. “O governo não vai ter um trabalho fácil, mas de momento está a preparar um corte de 20% sobre a taxação dos imóveis que a banca tem em balanço, para que as perdas com estes activos sejam assumidas, e isso parece--nos uma boa medida.” Ainda assim, contrapõem, “resta levar a cabo debates sobre o processo de execução hipotecária como resolução ou não destes conflitos, por forma a encontrar medidas alternativas e negociadas entre os bancos e os seus clientes”.
Os jovens espanhóis, que aos milhares têm saído à rua em várias cidades de Espanha para contestar as medidas de austeridade e reverter situações de injustiça como a que potencia este estudo, também são referidos pela associação – facto que ganha mais impacto face às baixas expectativas que os jovens têm de alcançar a estabilidade suficiente para adquirir casa própria no futuro. “Nós entendemos que, ainda que a crise tenha afectado toda a sociedade, o cidadão é a parte mais fraca e a indignação é compreensível”, responde Carlos Baños quando lhe perguntamos se apoia o movimento espanhol dos Indignados. “A AFES não é uma associação reivindicativa. Nós observamos o que acontece ao nosso redor e a nossa intenção é mudar as coisas através do nosso trabalho diário. Apoiamos as manifestações pacíficas, mas não as organizamos nem participamos nelas como associação.”
Reportagem de Giuliana Fierro Díaz
foto:exame.abril.com.br
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