05/11/2011

Idioma de índios do Xingu está em risco de extinção


Salvos da extinção pelos irmãos Villas-Boas na década de 1960, os índios iaualapitis, do parque do Xingu, correm sério risco de ver seu idioma desaparecer ao longo das próximas décadas.
A ameaça, no entanto, não é o português, mas os idiomas de etnias indígenas vizinhas, como os camaiurás, os cuicuros e os meinacos.
"Há uma grande preocupação entre povos como os iaualapitis, pois suas línguas não estão mais sendo transmitidas para as novas gerações", diz o linguista Angel Corbera Mori, pesquisador do IEL (Instituto de Estudos da Linguagem) da Unicamp.
Com 2,8 milhões de hectares, o parque do Xingu (MT) abriga quase 6.000 índios de 16 etnias. Segundo Mori, lá são faladas 11 línguas.
O pesquisador diz que só 5 dos 230 iaualapitis podem ser considerados falantes fluentes da língua nativa. Todos os cinco têm mais de 50 anos.
O quase desaparecimento do idioma nativo foi o preço a pagar pela sobrevivência da etnia, que foi quase dizimada por doenças do contato com o branco entre as décadas de 1940 e 1950.
"Os iaualapitis estavam desaparecendo. Então os irmãos Villas-Boas procuraram aqueles que estavam dispersos pelo Xingu e os juntaram para formar uma aldeia. Eles também incentivaram o casamento interétnico."
Esse histórico, segundo o pesquisador, fez dos iaualapitis a única sociedade "multilíngue" do Xingu, às custas da perda da língua original.
O cacique Aritana Yawalapiti, 63, é um dos falantes do idioma nativo. Ele se diz "muito preocupado". "Os jovens só falam línguas caribe [família linguística que inclui os idiomas calapalo, cuicuro, matipu e nauquá]."
Segundo o cacique, a maioria dos sobreviventes à época da reunião promovida pelos Villas-Boas era de homens, que se casaram com mulheres de outras etnias. "E as crianças aprendem mais com a mãe", diz o cacique.
Aritana também atribui a preferência dos mais jovens por outras línguas indígenas a uma suposta complexidade do idioma nativo. "Nossa língua é bem mais difícil que o camaiurá, por exemplo."
Desde 2000, um projeto de revitalização começou a registrar palavras, expressões, cantos e músicas em iaualapiti. Uma cartilha foi desenvolvida pela linguista Jaqueline França, da Unicamp, para um programa de alfabetização infantil a ser iniciado ainda neste mês na aldeia.
"Nosso foco serão as crianças, que têm facilidade natural para aprender idiomas", afirma a pesquisadora. Mas ela afirma ser difícil antecipar o resultado da empreitada. "A língua não é mais usada no cotidiano."
Mori é pessimista quanto às chances de revitalização de línguas nessa situação.
"Se a língua indígena deixa de ser usada na comunicação, já não faz parte da sociedade doméstica, do pai, da mãe, da comunidade, do jogo, da diversão, do namoro, não tem chances de sobreviver", afirma o especialista.


Reportagem de Rodrigo Vargas
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ciencia/fe0511201102.htm
foto:juraemprosaeverso.com.br

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