18/08/2011

Governo chinês dificulta regras de adoção para evitar tráfico de crianças

A partir de agora só os orfanatos oficiais poderão oferecer bebês abandonados.




O governo chinês vai endurecer as regras de adoção por parte das famílias chinesas para lutar contra o tráfico de crianças, segundo publicou ontem a imprensa oficial. Uma vez que seja aprovada a nova legislação, só os orfanatos oficialmente designados poderão oferecer bebês e crianças abandonados. Além disso, os adultos que adotarem sem o registro oficial não serão reconhecidos como pais legais, e as autoridades negarão o certificado de residência às crianças cuja origem seja duvidosa.
O certificado, conhecido como "hukou", é crucial para a educação, o atendimento médico e o emprego no país asiático. Atualmente, os casais chineses sem filhos podem adotar de qualquer fonte, o que originou um florescente mercado clandestino, alimentado por famílias que querem ter filhos ou pessoas que os compram para utilizá-los como mão-de-obra escrava.
Ji Gang, diretor do departamento de Adoção Doméstica do Centro para o Bem-estar e a Adoção da China, afirmou no jornal "China Daily" que obrigar os futuros pais a passar pelos canais oficiais reduzirá a demanda por crianças sequestradas, um grave problema que gerou a ira de muitas famílias cujos filhos foram roubados por bandos de traficantes.
A norma, que deverá ser apresentada ao governo no final do ano, obrigará os que descobrirem uma criança abandonada a informar imediatamente a polícia, que comprovará sua identidade e, caso proceda, a enviará a um orfanato, segundo Ji.
Milhares de bebês - especialmente meninas - são abandonados todos os anos na China, que nos últimos tempos também enrijeceu as regras para adoção internacional. Em julho passado a polícia resgatou 89 crianças que tinham sido sequestradas e deteve 369 pessoas supostamente ligadas a redes de compra e venda, segundo a imprensa de Pequim. Alguns dos menores eram vietnamitas e foram vendidos nas regiões chinesas de Guangdong e Guangxi, no sul do país. Outros eram chineses. Alguns bebês recuperados - de idades entre 10 dias e 7 meses - tinham sido drogados com soníferos.
Muitos sociólogos afirmam que as medidas oficiais de controle de natalidade, destinadas a limitar o crescimento da população e a preferência tradicional pelos filhos homens, promoveram o tráfico de crianças e de mulheres na China. Segundo a política de filho único, as famílias que vivem na cidade só podem ter um filho, enquanto as residentes nas áreas rurais em geral podem ter dois se o primeiro for menina. A consequência é que muitas meninas são abandonadas, vendidas ou entregues para adoção.


Reportagem de José Reinoso para o jornal espanhol El País
Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves
http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/elpais/2011/08/18/governo-chines-dificulta-regras-de-adocao-para-evitar-trafico-de-criancas.jhtm
foto:lib.utexas.edu

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