A economia brasileira apresentou na terça-feira novos sinais de desaceleração. O setor siderúrgico reduziu suas previsões de crescimento, a TAM reviu seus planos de expansão, e uma nova pesquisa mostrou um crescente pessimismo entre as indústrias.
O Instituto Aço Brasil (IABr) reduziu a previsão de produção do setor neste ano para 36,3 milhões de toneladas - o que ainda é 10,5 por cento acima dos níveis de 2010, mas está bem abaixo dos 39,4 milhões de toneladas da estimativa anterior. A nova previsão reforça uma tendência recente: embora o Brasil continue com índices de crescimento bem superiores ao do mundo desenvolvido, o otimismo começou a esmaecer em vários setores.
Parte dessa perspectiva menos otimista se deve a problemas globais, mas também há sinais de fadiga no consumo interno, depois da forte expansão alimentada pelo crédito nos últimos anos.
Também na terça-feira, a Cepal (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe, um órgão da ONU) se somou ao grupo de entidades que tem reduzido a previsão de crescimento para o Brasil. Depois dos 7,5 por cento registrados em 2010, a expectativa anterior para 2011 era de 4 por cento. Agora, foi rebaixada para 3,5 por cento.
"O sinal amarelo de alerta foi ligado", disse Paulo Francini, diretor titular do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).
"A indústria deve perder fôlego, e o emprego vai sentir isso. Não me surpreenderia se (o emprego) entrasse em território negativo."
Uma pesquisa da Reuters revelou que os analistas preveem, em média, um crescimento anualizado de 3,2 por cento no segundo trimestre. Os dados oficiais serão divulgados na sexta-feira.
A desaceleração é generalizada, e chega até a áreas prósperas, como o setor aéreo doméstico, que se tornou um símbolo da ascensão da classe média brasileira nos últimos anos.
A TAM, maior companhia aérea brasileira, disse que agora prevê chegar ao final de 2012 com 159 aeronaves, quatro a menos do que no plano anterior. O presidente da empresa, Líbano Barroso, disse que isso representará uma economia anual de 50 milhões de dólares, compatível com "um contexto de maior racionalidade do mercado".
Barroso disse que ainda espera um aumento de 15 a 18 por cento na demanda em 2011 - um índice fantástico sob qualquer aspecto, mas bem abaixo do crescimento de 21 por cento registrado no tráfego de passageiros no Brasil no ano passado.
A desaceleração é até comemorada por alguns economistas e membros do governo, que vinham se preocupando com o surgimento de bolhas econômicas. O setor imobiliário, por exemplo, parece estar voltando à realidade - a venda de novas moradias em São Paulo caiu 31,3 por cento no primeiro semestre em comparação a um ano antes, disse a entidade Secovi-SP na terça-feira.
INDÚSTRIA EM QUEDA
Mas muita gente está descontente com a desaceleração. A previsão de expansão do PIB para os próximos anos é inferior à de outras economias do bloco Bric, formado por Brasil, Rússia, Índia e China, grandes economias emergentes.
Além disso, o Brasil pode crescer em 2012 num ritmo inferior ao de outras grandes economias latino-americanas, segundo o Fundo Monetário Internacional. Essa perspectiva leva alguns investidores locais a pressionarem o governo para que realize reformas tributárias e outras mudanças que permitam um maior crescimento, embora a atual crise política torne essas medidas improváveis.
Em certas áreas da economia, há quem fale até em retração nos próximos meses.
Um novo estudo da Fiesp mostrou uma perspectiva cada vez mais sombria para o setor industrial, que ficou retardatário mesmo durante os anos de maior expansão, em parte devido aos elevados custos logísticos do Brasil e à supervalorização do real.
O Indicador do Nível de Atividade (INA) teve alta de 0,3 por cento em julho em relação ao mês anterior, segundo dados com ajuste sazonal divulgados pela (Fiesp). E uma pesquisa divulgada pela entidade mostrou que o nível de confiança entre os executivos de indústrias caiu ao menor nível desde dezembro.
A pesquisa "está dizendo que vem tempo ruim à frente", afirmou Francini.
Nesse cenário, vários setores estratégicos cobram proteção. "Precisamos proteger nosso aço produzido domesticamente, precisamos defender nossos empregos, e não criar empregos para os chineses", disse Catia Mac Cord, diretora de marketing e economia do Instituto Aço Brasil.
O consumo também está começando a se desacelerar, em parte devido à elevação dos juros. O Banco Central já elevou a taxa Selic em cinco ocasiões neste ano, até os atuais 12,5 por cento, na esperança de que isso arrefeça a inflação, que ameaçou disparar devido ao estonteante crescimento do ano passado.
Na terça-feira, a presidente Dilma Rousseff manifestou a esperança de que a Selic possa começar a cair em breve, refletindo o resfriamento econômico. Mas economistas acham que o BC manterá os juros no mesmo patamar na reunião de quarta-feira do Comitê de Política Monetária, já que as pressões salariais continuam intensas.
A Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs) disse que ainda espera para este ano um crescimento de 20 a 23 por cento no faturamento das empresas que atuam nesse setor. Mas seu presidente, Claudio Yamaguti, afirmou que o crescimento se deve mais a "mudanças nos hábitos do consumidor" - redução do uso de cheques e proliferação dos pagamentos automatizados - do que ao crescimento econômico.
Reportagem adicional de Vivian Pereira, Brian Ellsworth, e Aluísio Alves, texto de Brian Winter para a agência de notíca Reuters
http://br.reuters.com/article/topNews/idBRSPE77T0PG20110830?pageNumber=2&virtualBrandChannel=0&sp=true
foto:g1.globo.com
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