04/06/2011

A ONU reconhece emergência alimentar

Escolhemos três reportagens muitos esclarecedores sobre o mesmo tema: a alimentação humana. Uma questão debatida constantemente nos veículos de comunicação e que sempre está na pauta das reuniões internacionais dos governos. No entanto, nada disso altera a realidade. Milhões de pessoas continuam morrendo de fome, buscando seus alimentos nos lixões ou dos restos que encontram nas ruas.Na mesma proporção cresce a produção agrícola e nunca se plantou e colheu tantos grãos como na atualidade. Então por que ainda existe a fome, por que tanta gente não tem acesso aos alimentos?



O Programa Mundial de Alimentação, das Nações Unidas (WFP, em inglês), considerado a maior agência humanitária do mundo, lançou, durante a Páscoa, um apelo eloqüente aos países que lhe destinam fundos. Precisa de 500 milhões de dólares suplementares, em seu orçamento, para 2008. Do contrário, será obrigado a cortar as rações de 90 milhões de pessoas, em 80 nações a que presta assistência.
O pedido, também dirigido a doadores individuais, é motivado por uma alta espantosa nos preços dos alimentos, em todo o mundo. Só em 2007, a elevação foi de 40%, e a tendência altista vem desde 2004, segundo cálculos da FAO, outra agência da ONU. Embora possa, a médio prazo, favorecer os trabalhadores no campo (onde se concentram três quartos dos habitantes mais empobrecidos do planeta), o movimento está provocando emergência alimentar. Acredita-se que poderá ser mais grave que a do início dos anos 70 — a maior do pós-II Guerra.
Dois fatores estão estimulando a alta dos preços. O primeiro é a mudança nos hábitos alimentares de centenas de milhões de pessoas, principalmente na Ásia. O consumo médio de carne dos chineses saltou, nos últimos vinte anos, de 20 para 50 quilos ao ano. Alterações semelhantes estão em curso na Índia e no sul e sudeste da Ásia. Isso provoca um enorme aumento do consumo de alimentos. São necessários três quilos de cereais para produzir um quilo de carne de porco — e oito quilos, para um de carne de boi.
Do ponto de vista mais imediato, o vilão são os combustíveis vegetais — especialmente o milho, cuja eficácia para movimentar motores é paupérrima. Ainda assim, subsidiado nos Estados Unidos por fortes incentivos monetários aos produtores e por altas taxa sobre a importação (de etanol de cana, por exemplo), o milho cultivado para álcool está roubando espaço de todos os cereais destinados à alimentação humana e animal.
As conseqüências políticas da alta de preços são profundas. Países como o Brasil poderão ganhar acesso a grandes mercados de álcool de cana. Para evitar que isso gere devastação ambiental e concentração de riquezas, terão de adotar medidas que redistribuam os ganhos dos grandes produtores, e impeçam a devastação de ecossistemas como a Amazônia, o Pantanal e o cerrado. Outra tentação perigosa são os alimentos transgênicos. Diante da escassez de comida, será preciso apresentar alternativas que tornem desnecessário seu cultivo.


Texto de Antonio Martins
fonte:http://ponto.outraspalavras.net/2008/03/24/a-onu-reconhece-emergencia-alimentar/
foto: dilmanarede.com.br

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