Antes tarde do que nunca:
"Depois de 40 anos, Iraê Sassi voltará a ser calouro. A Câmara de Ensino e Graduação da Universidade de Brasília aprovou, por unanimidade, esta semana a reintegração dele ao curso de Letras/Tradução. A decisão devolve ao paulistano de 59 anos o direito de estudar na UnB, que havia sido vetado pela ditadura militar. O estudante não participou da luta armada, mas estava envolvido com atividades políticas de esquerda.
A reintegração de Iraê Sassi foi aprovada, por unanimidade, pelos 15 integrantes que estiveram presentes à sessão da Câmara de Ensino e Graduação nesta quarta-feira (23/6). "Fizemos justiça a ele", comemora a relatora Elaine Maria de Oliveira Alves. Em setembro, quando começa o próximo semestre, o calouro de 59 anos, casado, pai de três filhos adolescentes, retomará sua caminhada em busca de um diploma de ensino superior. "Estou muito feliz, luto por isso há anos", desabafou Iraê, ao receber a notícia sobre sua readmissão.
Em 1970, Iraê passou no vestibular para estudar Engenharia Mecânica, mas não conseguiu efetivar sua matrícula. Segundo ele, seu nome ficou marcado depois de fazer parte de movimento secundarista. O rapaz de 19 anos pediu, então, que a reitoria reconsiderase e a decisão. Juntou atestado de bons antecedentes e garantiu que se subordinará às normas da universidade. Mas, em despacho do vice-reitor José Carlos de Almeida Azevedo o pedido foi rejeitado.
Diante dos fatos, Iraê partiu para a Justiça na tentativa de fazer valer seu direito de frequentar a UnB. A batalha judicial entre o aluno e os advogados da reitoria da universidade só terminou no final do ano seguinte no Supremo Tribunal Federal. Em sua argumentação, o reitor da época, Caio Benjamin Dias, disse que a universidade não poderia "acolher em seu seio, numa posição cômoda, porém masoquista (...) estudantes hostis à ordem, à disciplina e à própria comunidade universitária."
Em 25 de novembro de 1971, o ministro do Tribunal Federal de Recursos, Armando Rollemberg, decidiu em favor do estudante. Iraê Sassi, finalmente, foi registrado, mas não chegaria ao final do curso. "Lembro que cursei as disciplinas de cálculo, mas logo a repressão aumentou e tive que sumir de circulação", conta.
Retorno
"O aluno só conseguiu cursar a UnB em 72, depois da decisão do STF. E, além disso, não há registros de uma disciplina chamada Ciências Humanas", aponta Elaine Maria de Oliveira Alves, professora de Medicina, a quem coube relatar o processo na Câmara de Ensino e Graduação. As duas informações, mais a documentação do processo judicial, serviram como evidência de que a direção da universidade à época queria afastá-lo do campus.
Em seu retorno à UnB, Iraê cogitou estudar Ciência Política ou Agronomia, mas acabou se decidindo por Letras/Tradução com habilitação em inglês. A escolha foi ditada pelos rumos que a vida dele tomou depois da perseguição política. Sem formação específica e vivendo na clandestinidade, Iraê foi mandado pelo partido para a Europa no início dos anos 80. "Lá comecei a fazer trabalhos como intérprete por uma questão de sobrevivência", conta.
Depois de passar 19 anos fora, retornou à Brasília em 2000 e começou a atuar como tradutor de italiano e espanhol. "O curso de tradução em inglês vai completar minha formação".
fonte: http://www.conjur.com.br/2010-jun-24/40-anos-unb-reintegra-aluno-perseguido-ditadura-militar
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