Quanto ainda temos que descobrir dos nossos índios! Quanto a aprender com eles! Infelizmente pouco fazemos para preservar esta cultura e seus últimos representantes no país. O alcoolismo, a depressão, a fome e a exclusão continuam produzindo um genocídio lento e constante.
Uma tribo de índios da Amazônia, os Amondawa (foto acima), contactada pela primeira vez em 1986, não teria um conceito abstrato de tempo nem palavras para expressá-lo, afirmam pesquisadores em estudo da Universidade Federal de Rondônia e da Universidade de Portsmouth publicado no periódico "Language and Cognition". A ideia, no entanto, está gerando controvérsia nos meios acadêmicos e novas pesquisas estão previstas para descobrir se outras línguas amazônicas também carecem desta definição.
- Não estamos dizendo que eles são pessoas sem tempo ou fora do tempo - explicou Chris Sinha, professor de psicologia da linguagem da Universidade de Portsmouth e um dos autores do artigo, em entrevista à BBC. - Os Amondawa, assim como qualquer pessoa, podem falar sobre eventos ou sequências de eventos. O que não encontramos entre eles foi uma noção do tempo como algo independente dos eventos e de quando eles ocorrem.
Segundo os pesquisadores, a tribo não tem uma palavra para "tempo" e nem para períodos como "mês" e "ano". Os índios não fazem referência a suas idades e atendem por nomes diferentes nos vários estágios de suas vidas ou por conquistarem status na sua comunidade. Mas o que mais surpreendeu os cientistas foi o fato de eles não unirem os conceitos de passagem de tempo e movimento no espaço, que formam a base do que é conhecido como "hipótese do mapeamento". As ideias de passado e futuro estão presentes na maior parte das línguas, mas não dos Amondawa.
- Nada disso implica que tais noções estão além da capacidade cognitiva dos índios, eles apenas não lidam com isso no seu dia a dia - esclarece Sinha, destacando que, quando aprendem português, os Amondawa não têm problemas em compreender as noções de tempo da língua.
A hipótese dos pesquisadores é de que a falta de um conceito de tempo da tribo vem da ausência de "tecnologias de tempo", como calendários ou relógios, e estaria relacionada ainda com o fato de ela, assim como muitas outras na Amazônia, ter um sistema numérico extremamente limitado. Esses argumentos, no entanto, não convencem pesquisadores como Pierre Pica, linguista do Centro Nacional de Pesquisas Científicas da França, cujo trabalho é focado em uma língua amazônica similar conhecida como mundurucu.
- Ligar números, tempo, conjugação, modo e espaço em uma relação casual única me parece sem sentido baseado na diversidade linguística que conheço - disse.
Pica admitiu que o estudo "mostra dados interessantes", mas considera que a falta de união entre os conceitos de tempo e espaço não é bastante para afirmar que a tribo não faz um "mapeamento" de seus eventos. Sociedades pequenas como os Amondawa tendem a adotar termos absolutos para relações espaciais normais, como, por exemplo, referir-se a uma localização particular em um rio de uma forma que todos os pertencentes a sua cultura conhecem intimamente ao invés de usarem palavras genéricas como "rio" e "margem". Isso, segundo Pica, não permite que as palavras sejam cooptadas para descrição do tempo:
- Quando você tem um vocabulário absoluto, você simplesmente não pode usar as palavras em outros domínios e, assim, fazer o mapeamento.
Em outras palavras, enquanto os Amondawa podem se perceber movendo-se pelo espaço e tempo, sua linguagem não reflete isso de maneira óbvia. Para Sinha, essas dúvidas podem ser sanadas com mais estudos.
- Queremos voltar lá e verificar tudo de novo antes que a língua dos Amondawa desapareça e mais e mais índios tenham contato com sistemas de calendário.
foto:espnmediazone3.com
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