30/06/2015

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Como os desodorantes usados nos anos 1970 prejudicam o ambiente ainda hoje

O flúor é um gás que pode causar problemas sérios. E também é usado para fabricar uma série de outros gases artificiais, alguns dos quais quase deixaram a humanidade exposta a queimaduras por luz ultravioleta - e ainda hoje contribuem para o aquecimento do planeta.
"O flúor é o Tiranossauro Rex da tabela periódica", diz o professor de Química Andrea Sella. "Ele reage espontaneamente com qualquer outro elemento, exceto hélio, neônio e argônio."
Se você algum dia se deparar com flúor elementar, puro, verá que ele tem uma aparência inócua: é um gás pálido, de cor amarela. Mas na verdade ele é tão perigoso que o departamento onde Sella trabalha, na University College London, em Londres, sequer guarda a substância em estoque.
O gás tem um cheiro parecido com o do cloro, diz Sella. "Mas se você cheirar flúor, saia correndo o mais rápido que pode."
Sella tem uma garrafa de um outro material assustador - o ácido hidrofluorídrico. Sua acidez - ou seja, a reatividade dos íons de hidrogênio que ele contém - não é na verdade tão forte quanto a dos ácidos hidroclorídrico e sulfúrico.
Ainda assim, trata-se de uma substância excepcionalmente nociva, porque os ferozes íons de flúor podem penetrar no seu corpo profundamente. "É uma queimadura incrivelmente dolorosa, que você não consegue tratar porque o gás está lá dentro", diz Sella.
Uma vez dentro, o flúor "engole" o cálcio do corpo, o que pode levar à falência cardíaca nos casos mais extremos.
A corrosividade do ácido hidrofluorídrico tem suas utilidades, por exemplo, no corte de vidro ou na fabricação de circuitos de microchip.
Mas esse gás nocivo é usado principalmente para produzir uma série de outras substâncias químicas que, em comum, possuem uma propriedade surpreendente: são incrivelmente não reativas, ou seja, não reagem quimicamente com facilidade.
"O resultado dessa extrema reatividade do elemento flúor é que seus componente são incrivelmente estáveis", explica Sella. "Moléculas cercadas por flúor são como uma tartaruga cercada por uma carapaça que você não pode quebrar."
O Teflon (nome comercial da substância politetrafluoretileno), por exemplo, é composto por longas cadeias de átomos de carbono envoltas em flúor. Quando o carbono e o flúor se unem, formam um material particularmente forte e quimicamente impenetrável. Ele não reage ao calor, à eletricidade, nem a outros produtos químicos (incluindo ácidos e solventes). E também é a substância com menor atrito que se conhece. Por tudo isso, é ideal para revestir panelas.
A pasta de dente é um outro exemplo. Ela contém quantidades minúsculas dos agressivos íons de flúor. Porém, uma vez na sua boca, os íons se combinam ao cálcio nos seus dentes para criar uma camada protetora de fluoreto de cálcio, bastante resistente.
Depois, há os gases - os "gases F", como são chamados.
Os mais notórios são os clorofluorcarbonetos, ou CFCs - compostos de flúor, carbono e cloro - que, como se descobriu na década de 1980, estavam destruindo a camada de ozônio na atmosfera.
As moléculas de CFC são robustas o suficiente para atingir, intactas, as regiões superiores da atmosfera. Uma vez lá, poderosos raios ultravioleta do sol quebram as moléculas, liberando o cloro que, por sua vez, começa a destruir o ozônio à sua volta.
Como o ozônio filtra as ondas mais nocivas de ultravioleta emitidas pelo sol, isso é problemático. Caso a liberação do CFC tivesse continuado, a quantidade de ultravioleta atingindo a superfície da Terra teria aumentado até cem vezes, causando queimaduras extremas e câncer de pele.
Os gases CFC começaram a ser produzidos em massa porque foram identificados como um refrigerante perfeito - um fluido que passa rapidamente da forma gasosa para a líquida e vice-versa, absorvendo e liberando grandes quantidades de calor no processo.
Por causa disso, podiam ser circulados por refrigeradores ou aparelhos de ar condicionado para transferir o calor para fora. Sua rápida habilidade de resposta também faz com que sejam usados como propelentes em sprays e aerossóis, como os de desodorantes.
Seu inventor foi o químico americano Thomas Midgley Jr. (1889-1944), homem que teve uma vida um tanto quanto trágica: intoxicou-se com chumbo após despejar a substância em suas próprias mãos para tentar provar que não era tóxica. Contraiu poliomielite na meia idade e construiu um mecanismo que o ajudava a sair da cama. No entanto, acabou morrendo asfixiado na engenhoca.
Segundo o químico Ian Shankland, que hoje tenta desenvolver substâncias com propriedades refrigerantes na gigante da indústria química Honeywell, os CFCs inventados por Midgley tiveram consequências sérias para o mundo.
"Se voltarmos aos anos 1920", ele diz, "refrigerantes eram inflamáveis, como os hidrocarbonos, tóxicos, como a amônia, ou inflamáveis e tóxicos, como o metil cloro. Havia acidentes e pessoas morriam".
Os CFCs, no entanto, eram aparentemente inertes, então Midgley achou que tinha criado uma alternativa "segura" - o que levou à proliferação de aparelhos de ar condicionado em residências, escritórios e automóveis.
Décadas se passariam até que os perigosos efeitos dos gases CFC fossem identificados. O mundo reagiu rapidamente com a assinatura, em 1987, de um dos primeiros tratados globais sobre o meio ambiente, o Protocolo de Montreal.
E funcionou. Estudos feitos no ano passado encontraram evidências de que a camada de ozônio pode ter finalmente se estabilizado - 25 anos após o início do processo de suspensão do uso de CFCs.
Mas essa foi a boa notícia. A má notícia é que ainda nos vemos às voltas com um outro terrível legado desses gases: eles contribuem para o efeito estufa e seu efeito é muito mais potente do que o do dióxido de carbono.
Ainda hoje, respondem por 14% de todo o aquecimento global que resulta de ações humanas.
E um problema adicional é que a mesma estabilidade química que torna os CFCs tão "seguros" como refrigerantes também faz com que sua decomposição na atmosfera demore muito tempo. (A camada de ozônio estava sendo destruída por uma proporção relativamente pequena de moléculas que alcançaram a atmosfera e ficaram expostas aos raios ultravioleta mais fortes.)
"Sua potência resulta do fato de que a ligação entre o carbono e o flúor é a mais forte ligação única entre átomos em moléculas orgânicas", explica o químico Ian Shankland. "Essa mesma ligação de carbono e flúor absorve a radiação infravermelha e portanto os CFCs são gases muito potentes do efeito estufa."
Por conta disso, a proibição no uso de gases CFC também teve "o maior impacto até hoje na atenuação da mudança climática", segundo Stefan Reimann, que monitora emissões de gases flúor para a World Meteorological Organization (Organização Meteorológica Mundial, WMO na sigla em inglês).
Mas ainda há várias outras emissões de "gases F". O uso de fluoreto de cálcio na fundição de alumínio, por exemplo, para baixar a temperatura e permitir a extração do metal do minério, resulta em emissões de CF4, o tetrafluoreto de carbono.
Suas moléculas contém quatro dessas ligações ultra estáveis de flúor com carbono, o que significa que ele dura dezenas de milhares de anos na atmosfera - e é cinco mil vezes mais potente do que o CO2 como gás causador do efeito estufa.
Há também o trifluoreto de nitrogênio, que dura séculos e é 17 mil vezes mais potente do que o CO2 como gás causador do efeito estufa. Ele é com frequência emitido no processo de gravar silicone - incluindo, ironicamente, o silicone usado na manufatura de alguns painéis solares, supostamente positivos para o meio ambiente.
O pior infrator é o hexafluoreto de enxofre - um gás usado para impedir faíscas elétricas em sub estações de eletricidade. Ele tem 20 mil vezes mais potência do que o CO2 na produção do efeito estufa.
Segundo Stefan Reimann, esses novos gases F - a maioria deles lançada após o Protocolo de Montreal ter entrado em vigência, em 1989 - contribuem para entre 1% e 2% do efeito estufa, mas essa contribuição deve subir para 20% em meados do século, na medida em que chineses, indianos e africanos comecem a usar ar condicionado - particularmente em automóveis.

Corrida do Ouro

Em vez de CFCs, a maioria dos aparelhos de ar condicionado modernos usa um outro refrigerante não inflamável chamado hidrofluorcarbono, ou HFC. Essa linha de refrigerantes foi desenvolvida na década de 1980 por Ian Shankland e sua equipe na Honeywell.
Eles retiraram o cloro que destruía a camada de ozônio nos CFCs e o substituíram por hidrogênio. Segundo Shankland, isso cria um mecanismo que permite que a molécula se degrade mais rapidamente na atmosfera - ao longo de décadas em vez de séculos.
Ainda assim, esses gases são mil vezes mais poderosos como causadores do efeito estufa do que o CO2. E isso é particularmente problemático em aparelhos de ar condicionado para automóveis porque a vibração do veículo faz com que 10% do HFC vaze para a atmosfera anualmente.
Por conta disso, a União Europeia está proibindo o uso de HFCs a partir de 2017. E a equipe de Shankland já tem um substituto: os HFOs, ou hidrofluor-olefinas. Segundo Shankland, essa nova geração de refrigerantes reage muito rápido na atmosfera, desaparecendo em poucas semanas.
Apesar da vida curta e riscos mínimos para o meio ambiente, os HFOs já causam dores de cabeça para seus fabricantes, a Honeywell e sua associada Dupont.
Em 2012, o fabricante alemão de carros Daimler disse que, durante testes, um Mercedes que usava o novo refrigerante HFO virou "uma bola de fogo". Mais tarde, a empresa disse que as chamas produziram vapor de HF e também uma outra substância química, um gás venenoso parecido com o fosgênio (usado como arma química na Primeira Guerra Mundial).
Desde o teste, tem havido um bate-boca entre a Honeywell e a Daimler - a Honeywell acusa a Daimler de ter programado o teste para obter aquele resultado.
Os incentivos comerciais são imensos: os HFOs custam cerca de dez vezes mais do que seus antecessores. Aliás, a diferença no preço levantou suspeitas de que a Honeywell e a Dupont teriam feito um acordo para fixar o preço do novo refrigerante, o único que atende às novas especificações europeias. Por conta disso, a UE iniciou uma investigação com base em leis antitruste.
Qualquer que seja o resultado da investigação, os HFOs já estão sendo instalados em milhões de carros novos. Até agora, nenhum explodiu. E nenhum está emitindo poderosos gases causadores do efeito estufa, o que parece ser uma boa notícia...até agora.

Reportagem de Laurence Knight
fonte:http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/06/150608_desodorantes_ambiente_mv#orb-banner
foto:https://www.teachengineering.org/view_lesson.php?url=collection/cub_/lessons/cub_air/cub_air_lesson08.xml

Scioli, o resistente que está a caminho de presidir a Argentina


Quem o conhece diz que para entender Daniel Scioli (foto acima) é preciso ir a Villa La Ñata, onde está a mansão sobre o delta do rio Paraná em que vive o homem que tem mais possibilidades de ser o novo presidente da Argentina. Ali ele está em seu meio. Esportista doente, obcecado por não parecer um político clássico, fez construir às portas de sua mansão uma quadra de futebol de salão e comprou um time, que levou à primeira divisão, com um único objetivo: que pudesse jogar todos os sábados.
Aos 58 anos e com um único braço —perdeu o outro em um acidente quando competia com sua lancha de corrida— Scioli joga —ou tenta— com pessoas de vinte e poucos anos e se irrita com o treinador, que não coloca o dono se a partida está difícil. Scioli é o rei em La Ñata. O locutor, outro funcionário, exige pelo megafone que o técnico coloque em campo o “artilheiro”, enquanto Scioli se indigna com os amigos —também famosos— que vão visitá-lo. “O idiota não me escala”, ri.
Alguém liga no celular, outro funcionário passa o aparelho para o chefe suado. Ele fala e depois joga o telefone para trás para que alguém pegue. Acima do vestiário há dois balcões com estátuas de cera em tamanho natural de Perón, Evita, Mandela, Churchill e Néstor Kirchner, que contemplam o jogo de Scioli e seus amigos. Sentado perto dos banheiros está Maradona, de cera. É o mundo particular de um personagem difícil de rotular.
O governador de Buenos Aires é rico desde criança, como seu grande rival, Mauricio Macri. Ambos são filhos de bem-sucedidos empresários italianos. Macri, da construção civil. Scioli, de lojas de eletrodomésticos. Os dois foram playboys e famosos antes de entrar na política. Macri é mais discreto, mas Scioli continua vivendo da mesma forma: cercado de famosos, em uma vertiginosa vida social controlada por sua esposa, Karina Rabolini, modelo nos anos oitenta e hoje empresária da área de cosméticos. E assim, sempre consciente de sua imagem, está há 18 anos na política, mas fez com que as pessoas não o vissem como político.
Apesar de sua vida confortável, Scioli conseguiu, com uma enorme habilidade para construir o relato de si mesmo, vender-se como um sofredor. Um resistente. Em cada intervenção televisiva, lembra do dia há 26 anos em que perdeu um braço no acidente. Voltou a competir e a ganhar em um esporte do qual ninguém sabia nada. Tornou-se muito famoso.

O relato do sofredor

Ele e sua mulher também lembram sempre do dia em que sobreviveram a um incêndio em sua casa. As pesquisas mostram que é um homem simpático. O relato do homem sofredor é imbatível, e ele o arremata mostrando na televisão como é capaz de fazer o nó da gravata com um braço só. Os estrategistas de Macri deram ordem de não criticá-lo abertamente. Macri diz que é seu amigo. “Tem imagem de boa pessoa, e criticá-lo transforma você em má pessoa. É muito difícil ganhar dele”, admite um rival.
A história política de Scioli não é menos peculiar. Foi inscrito por Menem em 1997, que no final de seu mandato procurava esportistas e famosos para salvar o peronismo em plena crise. Quando o menemismo fez água, Scioli soube se refazer e chegou a ser vice-presidente da Néstor Kirchner. Foi chamado porque sempre se saía bem nas pesquisas. Mas os dois nunca se entenderam. E muito menos se entendeu com a mulher de Kirchner, Cristina.
Kirchner era um homem de ação que defendia a esquerda e entrava em guerra contra tudo, Scioli um esportista rico que não gosta de se comprometer nem de brigar com ninguém. Scioli prefere resistir ao combate. Sempre aguenta.
Há muitos anos, dizem os seus, tem um único objetivo: ser presidente. Não importa como nem para quê; a ideologia não é um assunto que o preocupa muito. Mas quer ser presidente e está a ponto de conseguir. “Ainda me subestimam”, costuma dizer ele, que sempre sai vivo de todas as batalhas. Queria ser prefeito de Buenos Aires, mas Kirchner o obrigou a concorrer a governador da província. E foi sem dar um pio. Cristina Kirchner cortou os fundos da província, o humilhou em atos públicos, fez com que o kirchnerismo falasse dele como “o candidato dos fundos abutre”. E ele aguentou.
Agora ela, que não confia em um homem que vê muito à direita de suas ideias, colocou como candidato a vice-presidente seu homem mais fiel, Carlos Zannini, e o rodeou de kirchneristas. Scioli não se importa, se assim conseguir ser presidente. Ele conseguiu o que queria: ela não teve outro remédio além de apostar nele, porque nenhum kirchnerista de verdade se saía tão bem nas pesquisas.

Reportagem de Carlos E. Cué
fonte:http://brasil.elpais.com/brasil/2015/06/28/internacional/1435523910_667960.html
foto:http://trelewonline.com/?p=5752

Seminário na Faculdade de Direito da USP debate danos existencial e moral

Menos famosos do que os tradicionais danos material e moral, os danos existencial e social foram examinados no I Seminário Brasileiro de Direito do Consumidor Contemporâneo, ocorrido nesta semana na Faculdade de Direito da USP, em São Paulo.
Dano existencial é aquele que compromete o projeto de vida da pessoa, explicou a professora de Direito Civil da USP Teresa Ancona Lopez. Segundo ela, são lesões que impactam os interesses cotidianos, comprometendo a qualidade de vida e a concretização de um projeto existencial. Por exemplo, se um jogador de futebol perde uma perna ou se um violinista perde um braço. Nesses casos, eles não mais poderão exercer seus ofícios, e terão seus futuros prejudicados.
Porém, o dano existencial é diferente de dano à saúde ou integridade física, destacou Teresa. Isso porque ele não existe como evento danoso, apenas como consequencia. Dessa forma, só pode se falar de lesão existencial quando há uma causa danosa anterior.
De acordo com a professora, o dano existencial é uma espécie de lesão extrapatrimonial, fundada no princípio da dignidade humana, que ora tem tratamento de dano moral, ora tem tratamento autônomo. A diferença dele para o dano moral é que este se baseia no sentimento da pessoa, no psíquico, enquanto a lesão existencial é externa e consiste no fato de a sua vítima não mais poder seguir sua rotina, analisou.
Essa espécie de dano pode refletir em terceiros. Assim, a mulher de um homem que ficou tetraplégico pode pedir reparação pelo acidente, uma vez que seu casamento e sua vida financeira ficaram comprometidos, prejudicando seu projeto de vida. Também podem requerer indenização quem deseja que um parente morra com dignidade ou quem quer abortar uma criança que não terá condições de existência dignas.
Enquanto o dano existencial ainda não está difundido no Direito Civil, ele já é consagrado pelo Direito Trabalhista, sendo frequentemente aplicado pelos tribunais, disse Teresa. A razão disso é que nesta área jurídica basta o nexo causal para a lesão ficar configurada, ao passo que naquela é preciso mostrar como era a vida da pessoa antes do evento traumático e como ficou depois.
Os casos mais frequentes de dano existencial são aqueles em que o trabalhador é submetido a uma jornada de trabalho exaustiva, que acaba afetando sua saúde (física e mental), seus lazeres e seu convívio social.
Dano social
Dano social é aquele que compromete não apenas o patrimônio material ou moral da vítima, mas prejudica a sociedade como um todo, diminuindo a qualidade de vida da população, afirmou o desembargador do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul e professor da PUC-RS Eugênio Facchini.

Baseado nos argumentos do antigo professor da USP Antonio Junqueira de Azevedo, Facchini disse que o Direito Penal é insuficiente para prevenir crimes, e que a responsabilidade civil não tem somente função reparatória, mas pode também ter utilidade punitiva, de forma a desestimular atos ilícitos.  
Com isso, caberia indenização por dano social em casos de assaltos frequentes, fraudes econômicas ou interrupção injustificada de serviços públicos. Para o professor, qualquer cidadão pode pleitear indenização por dano social. Mas o ideal, em sua opinião, é que o dinheiro fosse destinado a um fundo público.
A jurisprudência brasileira possui precedentes sobre o assunto. Em 2007, o Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região (SP) condenou o Sindicato dos Metroviários e o Metrô paulistano a pagarem 450 cestas básicas a entidades beneficentes por danos sociais devido a uma greve considerada abusiva (processo 2007-2288).
Em outro caso, do qual o Facchini participou como juiz (Recurso Cível 71001281054), a Justiça gaúcha condenou os operadores de uma fraude na loteria na alterava os números sorteados a pagarem indenização por lesão social ao Fundo de Proteção aos Consumidores.

Reportagem de Sérgio Rodas
fonte:http://www.conjur.com.br/2015-jun-26/seminario-direito-usp-debate-danos-existencial-moral
foto:https://fernandapassini.wordpress.com/2015/03/02/dano-existencial-nas-relacoes-de-trabalho/

Lei na França proíbe corte no fornecimento de água e luz por falta de pagamento

As concessionárias de energia, gás e água na França têm uma ferramenta a menos que no Brasil para cobrar dívida dos usuários. Em solo francês, a falta de pagamento não é justificativa para cortar o fornecimento do serviço. Uma lei no país proíbe que as empresas desliguem a água dos consumidores que deixam de pagar a conta. Já a energia e o gás podem até deixar de ser fornecidos, desde que não seja no inverno.
No mês passado, a lei passou pelo crivo do Conselho Constitucional da França, órgão que faz as vezes do STF brasileiro. Os conselheiros tiveram de analisar especificamente o trecho da legislação que impede o corte no fornecimento de água. Na ação, a empresa responsável pelo serviço alegou que a regra violava principalmente o direito à igualdade, já que para as concessionárias de energia e gás, o fornecimento só não pode ser cortado durante os meses de inverno.
Ao rejeitar os argumentos da concessionária, o Conselho Constitucional explicou que o objetivo da lei é manter serviços essenciais ao cidadão, mesmo que ele esteja passando por dificuldades financeiras. Água é essencial o ano inteiro. Já energia e gás podem ser dispensados nos meses de verão, quando não há necessidade de ligar aquecedores para esquentar a casa e a água e as longas horas de sol garante a iluminação das casas, explicou o órgão.
Clique aqui para ler a decisão em francês.

fonte:http://www.conjur.com.br/2015-jun-25/lei-franca-proibe-corte-agua-luz-falta-pagamento
foto:http://planetasustentavel.abril.com.br/noticias/verao-pode-ter-corte-luz-se-nao-chover-suficiente-810394.shtml

29/06/2015

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Intolerância religiosa leva terreiros de umbanda a reforçar segurança no RJ

"É triste chegar aqui e ver os cadeados arrombados, tudo bagunçado, imagens jogadas na rua, quebradas. É uma violação do nosso espaço sagrado". É assim que Pai Costa, de 63 anos, há 45 atuando como dirigente umbandista, descreve o último ataque que seu templo, o Centro Espírita Pai Benedito de Angola, sofreu em 7 de junho, na zona norte do Rio de Janeiro.

Maranhense, Costa mudou-se para o Rio aos 16 anos, e mantém o centro no mesmo local há 26, mas diz que nunca esteve tão preocupado com atos de violência contra os praticantes de cultos de matriz africana. Embora não sejam novidade, os ataques ganharam destaque nos últimos dias após a menina Kaylane Campos, de 11 anos, ter sido atingida por uma pedra na cabeça quando saía de um culto de candomblé na Vila da Penha, também na zona norte.
O caso gerou grande repercussão e trouxe à tona uma situação descrita por dirigentes de cultos de matriz africana como um aumento das hostilidades contra seus praticantes e seus locais de reunião, assim como aos símbolos sagrados destas religiões.
Em reação ao que classificam como uma gradual escalada de violência, alguns terreiros resolveram investir pesado em segurança, com cercas de arame farpado, muros com cacos de vidro, alarmes com sensores de movimento, cadeados e portões reforçados, além de câmeras de vigilância - alterações que levam alguns dos centros a parecerem mais fortalezas medievais do que centros de devoção religiosa.

'Central' e preocupação

Pai Costa gastou R$ 4.500 para instalar oito câmeras, além de um sistema de alarmes e cercas de arame farpado. Vizinho ao templo, ele monitora tudo que é gravado a partir de uma central instalada em sua sala de estar. "Daqui a gente pode ver tudo que está acontecendo, e podemos recuperar as imagens e depois enviar para a polícia", conta.
As medidas foram tomadas após três invasões. A primeira, em dezembro do ano passado, e as outras em janeiro e abril deste ano. "Eles já deixaram uma Bíblia sobre minha mesa. Abrem arquivos, espalham papéis, quebram garrafas de bebida e jogam sobre as imagens. Levam oferendas para a rua, quebram e deixam tudo largado. É muito desrespeito", diz, complementando que objetos de valor, como televisores, nunca foram roubados.
O umbandista acredita que o investimento está valendo a pena. "Há duas semanas, na quarta invasão, arrombaram os cadeados e passaram pelo portão, quando o alarme foi disparado. Só deu tempo de pegarem uma imagem próxima e quebrá-la na calçada. Não conseguiram chegar até o salão", relembra.
Para Luiz Fernando Barros, de 52 anos, e há 37 religioso da umbanda, o cenário atual é de muita preocupação. "Está havendo uma inversão de valores. Em tese, ninguém nasce odiando ninguém. Há uma campanha sistemática por parte de algumas igrejas de disseminar esta mensagem em massa, incitando a discriminação e ao preconceito inter-religioso", opina.
Seu centro, o Templo Estrela do Oriente, ocupa o mesmo espaço há oito anos, no bairro de Piedade, zona norte do Rio. Antes dele, o local abrigou outro templo de umbanda por 65 anos.
A casa centenária, muito bem conservada, ganhou ares de fortaleza, com portões de aço, câmeras de vigilância, muros altos com cacos de vidro e cercas de arame farpado. O investimento, de R$ 2.500, chegou após duas tentativas de invasão, e uma estátua quebrada.
"Forçaram a porta, quebraram cadeados. Não tinha câmeras, não posso provar, mas uma estátua muito grande apareceu em pedaços. Se a segurança também nos protege de roubos? Claro que sim, agora nossa decisão foi indiscutivelmente motivada pelo temor de mais intolerância religiosa contra nosso local de reunião e nossos irmãos frequentadores", indica.

Ódio e intolerância

Além das invasões e dos reforços de segurança, Pai Costa e Luiz Fernando Barros têm em comum uma preocupação com o cenário atual e críticas contra o poder público, que segundo eles, poderia fazer mais para coibir "mensagens de ódio" .
"A intolerância religiosa está para o Brasil assim como o racismo está para os Estados Unidos. Todo mundo acha que não existe, mas há exemplos gritantes de violência e todos lamentam, mas não fazem nada a respeito", diz Pai Costa.
Para o deputado estadual Átila Nunes (PSL), presidente da Comissão de Combate à Intolerância Religiosa da Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro), os casos de violência contra cultos africanos têm se intensificado, e fazem parte de uma tendência observada há no mínimo 30 anos.

Leis e delegacia especializada

Nunes cobrou em reunião recente com o governador do Estado do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão (PMDB), a execução da Lei nº 5931, aprovada em 25 de março de 2011, que cria a Decradi (Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância).
Trata-se de um núcleo especializado dentro de apenas uma delegacia com policiais treinados e estrutura adequada "com a finalidade de combater todos os crimes praticados contra pessoas, entidades ou patrimônios públicos ou privados, cuja motivação seja o preconceito ou a intolerância", segundo o texto da lei.
Aprovada desde 2011, a legislação ainda não foi implementada.
Para Luiz Fernando de Barros, a medida é crucial, pois muitos religiosos reclamam de irem a delegacias e terem suas queixas registradas apenas como "invasões a domicílio".
"Dado o momento ao qual chegamos, é urgente que a polícia comece a tratar dessa questão de forma específica. Precisa haver investigação e punição, uma resposta mais contundente do poder público", diz.
Consultada pela BBC Brasil, a Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro disse que os casos são apreciados individualmente, "cabendo ao delegado de polícia, que tem autonomia jurídica, a interpretação do fato com base nas informações colhidas. Havendo indício de desvio de conduta, a Corregedoria Interna da Polícia Civil pode ser acionada".
A Polícia Civil também diz manter reuniões e atividades semanais em parceria com a Comissão de Combate à Intolerância Religiosa da Alerj e, na mesma nota, ressaltou que orienta a população a valer-se da Central de Atendimento ao Cidadão (CAC) para denunciar queixas de intolerância religiosa.

Reportagem de Jefferson Puff
fonte:http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/06/150625_intolerancia_religiosa_terreiros_pai_jp#orb-banner
foto:http://novacarpiediembaby.blogspot.com.br/2015/04/intolerancia-religiosa-e-preconceito.html

No Ano Internacional da Luz, 1,5 bilhão de pessoas vivem no escuro pelo mundo


O Ano Internacional da Luz, criado pela Organização das Nações Unidas (ONU) para sensibilizar os governos do mundo para um fato grave, será comemorado ao longo de 2015. De acordo com a ONU, apesar de todos os avanços científicos da humanidade, 1,5 bilhão de pessoas ainda vivem sem energia elétrica no mundo.
Os desdobramentos do problema são muitos, entre eles a impossibilidade de estudar à noite, dificuldade de acesso à informação, desperdício de comida por falta de geladeira e insegurança. Segundo a Unesco, a prática cultural no continente africano de usar querosene como combustível para lamparinas mata 1,5 milhões de pessoas por ano e é uma das principais causas de problemas respiratórios em milhões de moradores da região.
No Brasil, há 12 anos o governo tenta universalizar o acesso à energia elétrica por meio do programa Luz para Todos. Entretanto, boa parte da população continua sem luz. Segundo o diretor do programa, Aurélio Pavão, do Ministério de Minas e Energia, cerca de 190 mil famílias brasileiras ainda vivem sem energia, a maior parte na zona rural.
Para o diretor, o avanço foi significativo desde 2002, quando o ministério estimou que 10 milhões de pessoas, cerca de 2 milhões de moradias, não tinham luz no país. “Em maio de 2009, o programa cumpriu a meta dos 10 milhões. À medida que avançamos, identificamos novas famílias e novos domicílios no meio rural que também precisavam de energia. O programa já levou energia a 15,5 milhões de pessoas”, esclareceu Pavão.
Ele explicou que são três as razões para a construção de muitas novas casas no país nos últimos anos. “O crescimento econômico, que gerou mais construções nas propriedades familiares, retorno de muitas famílias ao campo e os programas de assistência social, como Bolsa Família, que incrementou a renda das famílias."
Segundo Aurélio Pavão, nas regiões Sul e Sudeste e parte do Nordeste o acesso à luz já está universalizado.  “A partir de agora, nosso maior desafio são alguns estados do Nordeste, principalmente Bahia, Piauí, Maranhão e Alagoas, além de Goiás, no Centro-oeste, e toda a região Norte."  O novo prazo para universalização de energia no país é 2018.
Além das 190 mil residências mapeadas pelo ministério, Aurélio Pavão destacou a existência de comunidades isoladas na Amazônia. Elas não estão contabilizadas, mas não têm energia. Pavão explicou que o problema de levar energia para a região são as dificuldades de logística e obstáculos naturais.
Para superar os problemas, o programa foi modernizado com o uso de novas tecnologias, como cabos subaquáticos, postes de fibra de vidro, que boiam facilitando transporte pelos rios, e uso de energia solar. “Em tese, ainda temos uma população grande para atender nessa região, mas a o ministério está conseguindo avançar bastante”, acrescentou.
Até maio de 2015, os investimentos no programa Luz para Todos chegavam a R$ 22,7 bilhões.

fonte:http://www.jb.com.br/ciencia-e-tecnologia/noticias/2015/06/28/no-ano-internacional-da-luz-15-bilhao-de-pessoas-vivem-no-escuro-pelo-mundo/
foto:https://www.ambienteenergia.com.br/index.php/2014/11/em-um-ano-consumo-de-energia-eletrica-cresce-3/24667

Como responder a quem diz que o leite faz mal


No mundo de hoje, há dois tipos de pessoas: as que toleram a lactose e as que não. Se você está no segundo grupo, não tem opção a não ser restringir os lácteos ou eliminá-los (conforme o grau de intolerância que tiver) para evitar problemas. Mas inclusive se você não tem dificuldade de ingerir leite e derivados, possivelmente acredita que esses alimentos possam causar danos ou prejudicar sua saúde; talvez tenha lido ou ouvido todo tipo de afirmações, muitas delas contraditórias, pois esse líquido branco suscita fortes paixões e fobias entre críticos e partidários. Não há motivo para o temor, como diz Giuseppe Russolillo, presidente da Fundação Espanhola de Dietistas-Nutricionistas: “Os membros da comunidade científica, e os nutricionistas em particular, veem o leite como o alimento biologicamente completo e muito apto para o consumo humano.”
A seguir, apresentamos algumas afirmações sobre o leite que podem confundir o consumidor. E oferecemos a informação para responder, com rigor, a essas sentenças frequentes.

“A maioria da população mundial não pode beber leite”

É verdade. Estima-se que dois terços da população mundial não podem ingerir a lactose depois dos oito anos. Um poderoso argumento para que essa maioria restrinja os lácteos (iogurtes e alguns queijos costumam ser bem digeridos pela maioria dos que têm intolerância, assim como pequenas quantidades de outros laticínios) ou não os consuma nos casos mais extremos. Para poder digerir o açúcar do leite, é necessária uma enzima chamada lactase. Na Europa, onde a capacidade de produção dessa enzima aumentou, entre 70% e 90% da população a produz (embora isso possa mudar ao longo da vida). Na Ásia e na África, ao contrário, a maioria dos habitantes são intolerantes, com taxas que superam 90% em muitos lugares. Por outro lado, existe a alergia ao leite (mais exatamente à sua proteína), que não tem nada a ver e afeta uma porcentagem mínima da população – em geral, menos de 1%. Além disso, a alergia costuma ser transitória. Um conselho pode ser útil para quem sofre dela: não tome lácteos. Já para você que não tem intolerância nem é alérgico, mesmo que se compadeça e se solidarize com os demais, a afirmação que encabeça esse parágrafo não o impede de se deleitar.

“O ser humano é o único animal que bebe leite após a amamentação"

Também é certo. Isso porque o ser humano é o único animal que desenvolveu a agricultura e pecuária. Também é o único que cozinha feijoada, que joga futebol e diz obviedades. Os traços que nos tornam humanos são exatamente os que apenas nós desenvolvemos – muitos deles bons, outros nem tanto. Além disso, embora a frase aí de cima geralmente seja aplicada como argumento contrário, poderia ser perfeitamente a favor. Há cerca de 8.000 anos, um grupo de humanos utilizou o leite para se alimentar na Europa e, com o tempo, acabou desenvolvendo a capacidade de digeri-lo. E onde o hábito foi adotado, a adaptação (ao longo de gerações) foi majoritária, de modo que a digestão da lactose parece mais uma vantagem evolutiva que um inconveniente.

“Os produtos lácteos contêm muita gordura saturada”

Para começar, há lácteos desnatados que praticamente não contêm gordura alguma. Entre os demais, alguns têm porcentagens modestas (o leite integral tem 3,6% e um iogurte não desnatado tem ao redor de 3%). Esse é um terreno escorregadio, onde a evidência científica parece colocar em xeque ideias que estavam muito arraigadas. Como explica o nutricionista Juan Revenga, durante um tempo pensou-se que todas as gorduras saturadas eram ruins, mas novos estudos mostram que não se pode generalizar e que as provenientes do leite podem inclusive ser benéficas para a saúde.

“O leite está cheio de antibióticos e hormônios aplicados às vacas”

Começando pelo final, dar hormônios aos animais é uma prática proibida há anos. Aplicar antibióticos para fomentar o crescimento também é (na União Europeia desde 2006). Miguel Ángel Lurueña, doutor em ciência e tecnologia dos alimentos e autor do blog Gominolas de Petróleo, explica que os antibióticos só podem ser empregados em situações específicas, exclusivamente para fins de tratamento. “Caso sejam administrados, é necessário respeitar um tempo de espera para conseguir que o animal metabolize essas substâncias, a fim de que não estejam presentes no leite (ou na carne) em quantidades que possam representar um risco à saúde humana. Quem menos deseja que haja resíduos de antibióticos no leite é a indústria de alimentos: a presença dessas substâncias traz enormes inconvenientes, entre eles a impossibilidade de elaborar laticínios fermentados como queijo e iogurte. Isso porque os antibióticos podem impedir o desenvolvimento das bactérias que entram em sua elaboração”, diz Lurueña. A Autoridade Europeia de Segurança Alimentar (EFSA) publica todo ano um relatório mostrando os resultados do controle que realiza periodicamente sobre os alimentos. No relatório do ano passado, apenas 0,09% do leite analisado apresentou uma quantidade de antibióticos acima dos limites estabelecidos por lei.

Reportagem de Pablo Linde
fonte:http://brasil.elpais.com/brasil/2015/06/24/ciencia/1435133903_111790.html
foto:http://www.besthealthmag.ca/best-eats/nutrition/is-milk-bad-for-you

ONU: Mulheres consomem mais sedativos do que homens e têm menos acesso a tratamento contra drogas

Homens são maioria quando o assunto é uso de drogas, mas as mulheres os superam no consumo de tranquilizantes. Os dados são do relatório mundial sobre drogas publicado na última sexta-feira (26/06) pelo Escritório de Drogas e Crimes da Organização das Nações Unidas (UNODC, na sigla em inglês) e apresentado em Viena.
Entre os principais dados levantados sobre as tendências atuais no mercado mundial de drogas está o consumo de substâncias por mulheres. A responsável pela pesquisa e análise dos dados do relatório, Angela Me, afirma que, embora haja uma mulher em cada três usuários de droga, apenas uma em cada cinco consegue tratamento.
O estudo mostra ainda que mulheres que sofrem de transtornos decorrentes do uso de substâncias costumam vir de famílias nas quais há outros casos semelhantes, além de tender a apresentar história de responsabilidade familiar excessiva e mais conflitos do que os homens, relacionados à criação dos filhos e traumas na infância e vida adulta. Muitas mulheres identificam ainda problemas de relacionamento como causa do uso excessivo de substâncias e apresentam problemas psiquiátricos.
O resultado das pesquisas entre a população geral da América do sul, América do Norte e Europa central e ocidental mostra que mulheres consomem o dobro de sedativos e tranquilizantes que os homens, durante toda a vida, no período do último ano e nos últimos 30 dias. Na Europa, o uso desse tipo de medicamento é duas vezes maior que o consumo de maconha, anfetamina, cocaína e opioides.
Mulheres que consomem drogas injetáveis também estão mais vulneráveis, segundo os dados da Unaids. A combinação de sexo desprotegido e compartilhamento de seringas faz com que a incidência de HIV em mulheres seja maior do que em homens em diversos países.
A coordenadora da pesquisa ressalta que uma das principais desvantagens das mulheres que apresentam problemas decorrentes do uso de drogas é a dificuldade no acesso ao tratamento. Os programas existentes não consideram as necessidades específicas da mulher e as barreiras encontradas incluem a falta de apoio no cuidado de crianças, além da dificuldades para o custeio do transporte e do tratamento em si. Não são raras as atitudes punitivas que recebem e tornam ainda mais difícil o início e a manutenção do tratamento.
O relatório mundial de drogas é publicado anualmente pelo UNODC e a última edição trata das tendências do mercado de drogas de uso ilícito e desenvolvimento alternativo. Entre as conclusões do trabalho surge uma nova perspectiva sobre prevenção e tratamento. Cerca de 27 milhões de pessoas no mundo precisam de ajuda, mas apenas uma em cada seis pessoas consegue obtê-lo. Um grande volume de pesquisa indica que hoje, tanto organizações governamentais como não governamentais apresentam base científica suficiente para promover ações adequadas no tratamento de pacientes. “Chegamos à conclusão de que a melhor maneira de medir o sucesso de um tratamento é avaliar o bem estar geral da pessoa enquanto ela está sendo tratada. Não antes, nem depois”, completa Angela Me.

Reportagem de Heloísa Broggiato
fonte:http://operamundi.uol.com.br/conteudo/noticias/40847/onu+mulheres+consomem+mais+sedativos+do+que+homens+e+tem+menos+acesso+a+tratamento+contra+drogas.shtml
foto:http://mensagens.culturamix.com/frases/mensagens-de-combate-as-drogas

27/06/2015

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A lenta agonia da indústria brasileira


No mês em que, ano passado, se iniciou a campanha eleitoral gratuita em rádio e TV para o cargo de presidente da República, o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Braga Andrade, afirmou em palestra na Associação Comercial do Rio de Janeiro que o desempenho da indústria brasileira no segundo trimestre foi “um fracasso” e que o ano estava perdido para o setor, o qual atravessa “talvez um dos piores momentos da história”.
A situação não é muito diferente da vivida nos últimos três anos. Em 2011, o setor teve crescimento da produção de 0,4%; em 2012, queda de 2,5%; e, em 2013 passado, alta de 1,2%. Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Máquinas (Abimaq), o segmento por ela representado está ainda pior: nos primeiros cinco meses do ano passado, as vendas foram 14% menores do que no mesmo período de 2013. Números como esses reforçam a ideia de que o País passa por uma fase de desindustrialização.
O setor industrial é considerado o motor do desenvolvimento econômico pelos efeitos que exerce para a frente e para trás na cadeia produtiva, pelo potencial de elevação da produtividade, pela maior ocorrência de mudança tecnológica e sua possibilidade de difundir esse progresso a outros setores da economia. Quando a indústria de um país atinge elevado padrão de sofisticação, com a produção não só de bens de consumo, mas também de bens intermediários e bens de produção, ocorre a elevação da renda percapita, a pauta de exportações é dominada por produtos industriais de grande valor agregado e a própria estrutura produtiva passa a exigir serviços mais modernos e diversificados, aumentando seu peso relativo no PIB. Alcançado esse patamar, ocorre, então, um processo de desindustrialização da economia, que é positivo e natural.
De acordo com a definição mais amplamente aceita, a desindustrialização acontece quando tanto o emprego industrial perde importância no conjunto do mercado de trabalho quanto a produção industrial perde participação no PIB. A desindustrialização pode ocorrer, portanto, quando o emprego e o PIB estão em expansão, mas a indústria contribui em menor proporção para isso.
A desindustrialização adquire caráter negativo quando ocorre de forma precoce, sem que tenha havido o pleno desenvolvimento industrial de um país. Há, então, uma reversão da pauta exportadora em direção às commodities, produtos primários ou manufaturas com baixo valor adicionado e baixo conteúdo tecnológico, algo que, segundo alguns economistas, pode ser sintoma da “doença holandesa”, numa referência ao processo de perda de competitividade da indústria da Holanda quando a subida dos preços do gás nos anos 1960 aumentou expressivamente as receitas de exportação do país, valorizando a moeda local.
Alguns economistas consideram que a desindustrialização de maneira geral não é um fator relevante para o crescimento de longo prazo, que seria resultado do processo de acumulação e do progresso tecnológico, independentemente da composição setorial da produção. Outros acreditam que, no caso brasileiro, as mudanças da economia nos últimos vinte anos, ao contrário de trazer prejuízos, favoreceram a indústria ao permitir a importação de máquinas e equipamentos tecnologicamente mais avançados, modernizando o parque industrial brasileiro e, consequentemente, a própria expansão da produção industrial.
Independentemente das opiniões quanto aos efeitos da desindustrialização para o futuro da economia brasileira, é inegável que a indústria vem perdendo espaço no PIB. Esse processo teve início nos anos 1980. No texto “A desindustrialização no Brasil”, escrito em 2012, Wilson Cano, professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), lembra que a participação da indústria de transformação no PIB em 1980 era de 33% e caiu para 18% em 2010 – em 2012, segundo dados da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), desceu para 13,3%. Cano mostra que entre as taxas médias anuais de crescimento dos setores que formam o PIB, a da indústria de transformação é a que apresenta pior resultado: entre 1989 e 2001 ficou em 1,4%, entre 2001 e 2006, em 2,8% e entre 2006 e 2010,
em 2,3%.

Ele analisa ainda a evolução da relação entre o valor da transformação industrial (VTI) e o valor bruto da produção industrial (VBPI) – que mede o quanto o processo de transformação industrial representa no valor total dos produtos –, a qual caiu de 47 em 1996 para 41,1 em 2004, crescendo um pouco a partir de 2006, fato que atribui aos incentivos a determinados setores da indústria, em função de políticas anticíclicas do governo, como a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para automóveis e linha branca. Tais estímulos foram eliminados no início de 2015, quando Joaquim Levy assumiu o ministério da Fazenda.
Fernando Maccari Lara, professor da Unisinos, do Rio Grande do Sul, fez um estudo do processo de desindustrialização para o período de 1994 a 2010, separando os indicadores nos governos dos ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva. O trabalho mostra que, no conjunto desses dezesseis anos, a taxa média de crescimento da indústria foi de 1,93% ao ano. Considerando apenas a indústria de transformação, que tem maior poder de repercussão sobre o desenvolvimento, a taxa foi ainda menor, de 1,51% ao ano, enquanto o crescimento médio do PIB foi de 2,58%.
Lara utiliza como indicadores a diferença, expressa em pontos percentuais (pp), entre a taxa de crescimento do PIB e a taxa de crescimento da indústria e entre a taxa de crescimento do PIB e a taxa de crescimento da indústria de transformação. Quando a diferença é negativa, isso indica desindustrialização. No conjunto dos dezesseis anos, a taxa diferencial para a indústria de transformação foi de -1,07 pp – ou seja, a economia como um todo cresceu mais do que esse ramo da indústria. Para o conjunto da indústria, a diferença foi de -0,65 pp. A desindustrialização foi maior no período Lula: -0,77 pp para o conjunto da indústria e -1,34 pp para a indústria de transformação (no período FHC, os índices foram, respectivamente, -0,52 e -0,79).
O estudo utiliza também dados da Relação Anual de Informações Sociais (Rais) para analisar o comportamento do emprego, o outro indicador da desindustrialização. Para o conjunto do período há redução na participação do emprego industrial, que em 1994 representava 21,37% do total e caiu para 17,89% em 2010. Nos primeiros oito anos (período FHC) a taxa média de crescimento do emprego na indústria de transformação foi de 0,37% ao ano e a do emprego total foi de 2,43%, o que gerou o índice equivalente a -2,06 pp. No período Lula, quando a taxa de crescimento do emprego em geral foi maior, de 5,51% ao ano, a da indústria de transformação atingiu 5,32%, o que resultou em -0,19 pp, evidenciando que, também por esse ângulo de análise houve desindustrialização nos dezesseis anos analisados. No caso do emprego industrial, o problema também vem de antes: a participação da indústria de transformação no conjunto do pessoal ocupado caiu de 15,5% em 1980 para 12,4% em 1995.
Uma das principais causas apontadas para a desindustrialização precoce é a valorização da taxa de câmbio. Lara mostra que no período de câmbio desvalorizado, que vai do quarto trimestre de 1998 ao quarto trimestre de 2004, as diferenças entre o crescimento do PIB e do emprego no conjunto da economia e os respectivos crescimentos na indústria e na indústria de transformação são sempre positivas, indicando maior crescimento da indústria do que no conjunto da economia. Nos dois períodos de câmbio valorizado, entre o quarto trimestre de 1994 e o quarto trimestre de 1998 e entre o quarto trimestre de 2004 e o quarto trimestre de 2010, no entanto, as diferenças entre todas as taxas são negativas.
A observação em detalhe sobre como se deu essa queda de participação da indústria na economia brasileira revela que o setor não só perdeu importância na economia como regrediu em seu desenvolvimento interno, concentrando-se mais e mais na produção de bens menos sofisticados tecnologicamente. Cano mostra em seu trabalho que o VTI do setor de bens de capital representava 15,6% do VTI correspondente ao conjunto da indústria de transformação em 1970 e alcançou 19,9% em 1980. Mas, em 1996 já havia caído para 14,4% e chegou a 10% em 2003 (em 2009, era de 11%).
Em seu estudo, Lara apresenta dados levantados por Ricardo Carneiro, professor da Unicamp, correspondentes ao período entre 1996 e 2008, os quais detalham os saldos comerciais brasileiros relativos a produtos industriais e não industriais a cada três anos. Os saldos dos produtos não industriais crescem a partir de 1996 de forma contínua e expressiva (de 510 milhões de dólares em 1996 para 26 bilhões de dólares em 2008). Já os dos industriais são negativos no período de valorização cambial ocorrido entre 1996 e 1999 (-5 bilhões de dólares e -4,5 bilhões de dólares, respectivamente), tornam-se positivos em 2002 (8 bilhões de dólares) e em 2005 (33,2 bilhões de dólares), quando o câmbio se desvaloriza, e voltam a ser negativos em 2008 (-1,3 bilhão de dólares), novo período de valorização. Enquanto os saldos comerciais dos produtos de média-baixa tecnologia e baixa tecnologia são sempre positivos, com maior crescimento no saldo dos produtos de baixa tecnologia, os dos produtos de alta e média-alta tecnologia são sempre negativos, de tal forma que em 2008 esse déficit chega a 51 bilhões de dólares, mais do que a entrada de capital estrangeiro na forma de investimento direto no Brasil naquele ano (45 bilhões de dólares). (tabela)
A desvalorização cambial ao longo dos oito anos de governo Lula promoveu mudanças nos coeficientes de exportação e importação da indústria. O coeficiente de importação da indústria em geral passou de 14,6 % em 2005 para 21,8% em 2010 – no caso das máquinas e equipamentos para fins industriais e comerciais, saltou de 33% para 47,2%. O coeficiente de exportação da indústria em geral foi de 21,1% em 2005 para 18,9% em 2010, mas o de automóveis, caminhões e ônibus caiu mais, de 28,7% para 13,4%, enquanto o da indústria extrativa subiu de 54,5% para 75,3%, segundo dados da Fiesp apresentados por Fernando Maccari. E Carneiro observa ainda que dois conjuntos de setores aumentaram o coeficiente de exportação: o da empresas industriais ligadas à base de matérias-primas e o das produtoras de bens de capital, devido, neste caso, a uma tendência de crescimento de coeficiente de importação no setor, indicando atividades de montagem.
Mesmo o capital estrangeiro, que aumenta cada vez mais seu domínio sobre a indústria brasileira, está diminuindo seus investimentos no setor. Estudo da CNI, divulgado no início do mês passado, mostra que o investimento estrangeiro direto (IED) na indústria caiu de 46,5% em 2007 para 33% em 2013, enquanto o IED no setor agrícola e mineral cresceu de 13,9% para 26,2% e em serviços aumentou de 38,1% para 44% no mesmo período.
E com a perda do vigor da economia, que cresceu em ritmo lentíssimo nos últimos três anos, a situação da indústria ficou ainda mais agravada. Até no agronegócio se pode perceber o retrocesso. Nos últimos dez anos, segundo a Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), a produção de soja cresceu 73%, mas a capacidade de moagem da indústria aumentou apenas 35%, enquanto o volume de matéria-prima efetivamente processada cresceu menos ainda: 28%. E se em 2004 o Brasil processava 57% da soja produzida, a Abiove espera para este ano apenas 42%, devido, principalmente, a mudanças na China, que hoje prefere comprar soja para processar no próprio país. E mesmo a área automobilística, o setor mais dinâmico da indústria no País – o qual reduziu a produção de 2,8 milhões de veículos em 2010 para 2,7 milhões em 2014, período em que as vendas ao exterior passaram, respectivamente, de 610 mil para 397 mil unidades – estima forte retração este ano.
Diante da evidência da perda relativa do papel da indústria na economia, os empresários cobram medidas do governo. Em meados do ano passado, a CNI promoveu um debate com presidenciáveis, quando apresentou um conjunto de 42 proposições para o aumento da produtividade e da competitividade. A proposta da entidade estabelece para 2018 o cumprimento de cinco metas: sistema tributário livre de ineficiências que o caracterizam hoje, mudanças nas relações de trabalho no sentido de liberdade de negociação, crescente participação da iniciativa privada e maior alocação de recursos públicos em infraestrutura, juros em padrões próximos dos internacionais e taxa de câmbio competitiva, melhoria expressiva na educação básica. Nada muito diferente do rumo das reformas liberais dos anos 1990, cujo resultado foi exatamente a desindustrialização.
Carlos Pastoriza, presidente da Abimaq, eleito recentemente, disse ao diário Valor Econômico que, em conversas com empresários de diversos segmentos da indústria de máquinas, observou que muitos estão fechando fábricas e transformando suas empresas em importadoras. E as empresas que ainda estão resistindo constituem um parque fabril envelhecido, com equipamentos com dezessete anos de uso em média, segundo avaliação do ex-ministro do Desenvolvimento, Mauro Borges, exposta em evento sobre o comércio exterior brasileiro em 2014. Por essa razão, inclusive, um dos pleitos da Abimaq aos candidatos à Presidência da República foi a implantação de um programa de modernização, que vem sendo chamado de Modermaq, que envolveria crédito fiscal de 15% para empresas que comprovarem o descarte de máquinas antigas substituídas por novas.
Reverter o processo de desindustrialização não é fácil. Uma mudança na política de valorização cambial, como muitos reclamam, poderia, em tese, favorecer um processo de reindustrialização, como já ocorreu entre 1999 e 2004. Embora o câmbio tenha efetivamente um papel nesse processo, ele evidentemente não explica tudo. Basta ver que mesmo nos períodos de valorização cambial as áreas industriais menos avançadas tecnologicamente conseguem manter superávits, especialmente as de baixa tecnologia. Mas o problema está nos produtos de maior conteúdo tecnológico, nos setores de ponta, nos quais nossa indústria não é competitiva.
Em seu estudo, Cano aponta algumas das principais causas do processo que conduziu o setor a essa situação. Ele destaca a eliminação indiscriminada da proteção que o País tinha sobre as importações como um dos fatores que agravaram nossa desindustrialização. E, principalmente, o fato de ter assumido compromissos internacionais, como a entrada na Organização Mundial do Comercio (OMC), que o impede de enfrentar seus problemas com políticas adequadas. Cano atribui à abertura da conta de capital a questão central: China, Rússia e Índia, mesmo sendo economias de mercado, mantêm controle sobre entrada e saída de capitais internacionais e nacionais, sobre remessas de lucros e dividendos e sobre fluxos de investimentos.
Ele avalia que o que está ocorrendo com a indústria brasileira não é apenas uma crise passageira, mas a continuidade de uma longa crise iniciada no final da década de 1970, a qual destruiu instituições de desenvolvimento, debilitou o Estado e desvirtuou o caminho do empresariado produtivo e progressista. Ele lembra que nenhum país se tornou uma potência industrial sem forte apoio e proteção do Estado, cujos maiores exemplos são, antes da China, a Alemanha, o Japão e a Coreia do Sul. E no caso brasileiro, nenhuma política industrial será eficiente se não houver mudanças importantes na política macroeconômica, especialmente nos juros e câmbio e conta de capitais, além da subordinação à OMC.

Reportagem de Téia Magalhães
fonte:http://outraspalavras.net/brasil/a-lenta-agonia-da-industria-brasileira/
foto:http://noticias.r7.com/economia/produtividade-baixa-trava-expansao-industrial-06102013-1