Na última terça (19), um dia antes
da abertura da 5ª Conferência Nacional das Cidades, a Comissão Especial criada
pela Câmara para discutir a Proposta de Emenda Constitucional 90/2011 aprovou a
inclusão do transporte como o 11º direito social previsto pela constituição
brasileira.
De acordo com o deputado Nilmário
Miranda (PT-MG), relator do parecer aprovado por unanimidade, a medida abre as
portas para que a principal reivindicação dos manifestantes que tomaram as ruas
em junho se transforme em realidade: um transporte público, gratuito e de
qualidade.
“No modelo que temos hoje, o
transporte é mercadoria. E como mercadoria, adquire quem pode”, afirmou
Miranda.
Segundo ele, durante as audiências
públicas para a discussão da proposta, os membros da Comissão tomaram ciência
de que uma pesquisa realizada em Salvador (BA) aponta que 40% dos moradores da
capital baiana andam a pé por não terem condições de arcarem com as tarifas do
transporte coletivo. “Milhões de brasileiros estão alijados do sistema de
transportes. E quanto mais pobre a pessoa, mas ela é onerada”, destaca.
Para o deputado, a única solução é
mudar a lógica do sistema de transporte, transformando-o em direito que precisa
ser universalizado. “Essa mudança constitucional abre a possibilidade de
revisão do modelo, abre a possibilidade de universalização para todos”.
Segundo ele, o que os debates
promovidos pela Comissão deixaram claro é que esta não é uma questão técnica,
mas de opção política. “Se decidirmos incluir o transporte como direito social,
teremos que debater a tarifa zero ou, pelo menos, uma redução substancial das
tarifas.”
Nilmário Miranda avalia que as
duas alternativas são viáveis. “Há vários países que destinam um subsídio forte
para o transporte coletivo. No Brasil, não é subsidiado, e é por isso que está
inviabilizado. Porque o usuário paga tudo. Até quando se dá passe livre para
idosos ou pessoas com deficiências, se distribui o custo para os usuários. E os
usuários são justamente os pobres. O gasto com transporte onera muito o
orçamento das famílias de menor renda”, alerta.
Autora da proposta, a deputada
Luíza Erundina (PSB-SP) não tem dúvidas de que ela só foi desengavetada em
função da pressão popular.
“Estou muito satisfeita com a
aprovação, porque este debate é fruto de uma construção coletiva e da
mobilização popular, o que dará maior legitimidade e mais força para que avance
nas demais instâncias da casa. É uma demanda concreta do Movimento Passe Livre
(MPL) há 18 anos, muito clara, muito consolidada e muito desejada”, afirmou.
Reportagem
de Najla Passos
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