A mobilização internacional em torno da ajuda humanitária às vítimas do tufão Hayan nas Filipinas, que segundo autoridades locais já chegou a mais de 3.600 mortes, acabou sendo afetada pela disputa geopolítica na região do Pacífico asiático.
Enquanto os países vizinhos e as potências ocidentais se prontificaram a enviar milhões em ajuda financeira e toneladas de alimentos, remédios e recursos humanos, a China, que se encontra em disputa contra os Estados Unidos pelo controle político e econômico da região, teve uma atuação muito modesta, mesmo também sido afetada pelo tufão, que deixou quatro mortos e sete desaparecidos em sua região sul na segunda-feira (11).
Quando Hayan deixou as Filipinas, a União Europeia enviou 17,5 milhões de dólares em ajuda, o Japão aproximadamente 11 milhões, o Reino Unido 24 milhões e os Estados Unidos 20 milhões, além do envio do porta-aviões USS George Washington, 5 mil soldados e 80 veículos aéreos de transporte. A ONU conseguiu arrecadar 72 milhões de dólares para as vítimas. Já a China se comprometeu inicialmente com apenas 100 mil dólares, menos do que os 150 mil dólares doados pelo papa Francisco. Após críticas, a contribuição passou para 1,6 milhão, ainda inferior aos 2,9 milhões doados pela companhia sueca de móveis domésticos Ikea, por exemplo. Também foram enviadas tendsa e cobertores.
Há razões políticas que podem explicar essa diferença de tratamento, já que China e Filipinas estão envolvidas, juntamente com outros países, em disputas territoriais no Pacífico, que envolvem desde pequenos arquipélagos até zonas de pesca, rotas comerciais e a possibilidade de recursos naturais no subsolo.
Em janeiro, as Filipinas levaram a disputa contra a China pela soberania do recife Scarborough, na costa leste do país, para o Tribunal Internacional de Direito ao Mar, ligado à ONU. Pequim rejeita a ideia que o caso seja levado para tribunais internacionais, preferindo negociações bilaterais.
As Nações Unidas afirmaram que pelo menos 4.400 pessoas morreram na passagem de Haiyan pelas províncias centrais do arquipélago, enquanto os desabrigados chegam a 8 milhões de pessoas, números bem superiores ao anunciado pelo governo filipino.
A atitude chinesa foi defendida pela imprensa local, como em um editorial do Global Times, próximo ao PCCh (Partido Comunista Chinês), que pediu que fossem enviados navios de guerra ao território filipino. "As Forças Armadas deveriam ter papel mais relevante na diplomacia chinesa". Para o jornal, a China como uma potência, não deveria se preocupar com a opinião internacional de que está fazendo pouco pelos filipinos.Por causa da disputa territorial, as Filipinas também deixaram claro que não permitem que um país adversário entre com veículos militares em seu território.
Para Li Haidong, professor associado da Universidade de Relações Exteriores da China, os EUA eo Japão podem ter mais intenções ocultas por trás da ajuda humanitária. "Com a ajuda prestada, o Japão tem como objetivo, em parte, ajudar os EUA a realizar sua estratégia geopolítica para a Ásia. Enquanto isso, os EUA podem manter suas boas relações com as Filipinas e, consequentemente, garantir o apoio do aliado posterioremente", disse Li ao Global Times.
Ontem (16/11), pouco depois do desastre, o governo de Hong Kong chegou a pedir aumento de sanções econômicas aos filipinos em razão de uma crise de reféns ocorrida no arquipélago asiático em 2010, que culminou com a morte de oito pessoas da ex-dependência britânica, causando revolta entre a população local.
Enquanto isso, militares e especialistas de Estados Unidos, Reino Unido, Espanha, Canadá, Austrália, Japão, Coreia do Sul, Alemanha e Suécia continuam nesta sexta-feira os trabalhos de emergência. Helicópteros do USS George Washington continuam a levar ajuda a algumas das áreas mais afetadas, um destroyer britânico HMS Daring deve chegar ao porto filipino de Cebu , no fim de semana, levando uma tripulação de 200 soldados treinados para emergências humanitárias, bem como pacotes de ração e equipamentos de resgate.
As necessidades são colossais, com corpos de vítimas já em estado de decomposição que ainda precisam ser recolhidos e que estão espalhados pelas ruas das cidades atingidas. Além disso, dezenas de milhares de pessoas estão sem acesso a alimentos e água na região central do arquipélago.
Não por acaso, a marinha norte-americana descarregou na zona milhares de sacas de arroz e outros alimentos utilizando helicópteros Blackhawk que estão no porta-aviões.
O contratorpedeiro britânico HMS Daring, com capacidade de tornar potável uma grande quantidade de água, também se juntou aos trabalhos de ajuda com o apoio de aeronaves e será substituído mais adiante pelo porta-helicópteros inglês HMS Illustrious para expandir as operações.
A segurança para lidar com os constantes saques e a precariedade dos serviços de saúde, devido à destruição de grande parte dos hospitais e postos de saúde, são alguns dos problemas mais graves, sobretudo nas ilhas de Samar e Leyte.
Reportagem de João Novaes
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