Vários escritores indígenas e acadêmicos
pediram na última terça-feira mais atenção para a cultura e a literatura dos
povos nativos no sistema educacional do Brasil.
Os autores denunciaram, durante um debate na Bienal do Livro do
Rio de Janeiro, que uma lei de 2008 que tornou obrigatório o ensino da história
e cultura indígenas em colégios públicos e privados de todo o país foi
praticamente esquecida.
A escritora e doutora em letras Graça Graúna afirmou que
"mesmo com essa lei" encontra "impedimentos" para dar
espaço à literatura indígena nas universidades.
"Falta tempo para mostrar que existimos", disse a
autora, da etnia potiguar, que expressou "certa decepção" com os
programas de formação de professores, que, segundo ela, se baseiam na repetição
de conceitos "que não têm nada a ver com a realidade" dos povos
indígenas.
Por sua vez, o escritor Daniel Munduruku lamentou que nenhuma
universidade do país tenha ainda uma cátedra de cultura indígena, mas ressaltou
que nos últimos anos vários pesquisadores começaram a dedicar seus mestrados e
doutorados à literatura destes povos, o que "cria uma nova perspectiva de
formação de professores".
"Ainda há uma mentalidade retrógada, que o índio só existe
como elemento de folclore. Têm que perceber que os índios estão aí ganhando
prêmios literários e de cinema. Isso é a realidade, temos que acabar com o
romantismo, com a mentalidade do bom selvagem", comentou.
Já a acadêmica Lucia Sá destacou que nas aulas de literatura
brasileira, as lições só remontam a 1500, ano do desembarque dos portugueses no
Brasil.
A professora salientou que a narrativa oral dos índios é mais
antiga e que, além disso, influenciou na dos portugueses, como por exemplo no
romance "Macunaíma" (1928), de Mário de Andrade, uma das grandes
obras modernistas do país e que "se baseou em histórias extraídas de povos
do norte da Amazônia".
"A alta literatura se alimenta todo o tempo de relatos
orais", comentou a professora, autora do livro "Literaturas da
Floresta".
Munduruku acrescentou que a literatura escrita é "outra
forma de expressão" à qual se adaptaram os índios, assim como a outros
elementos culturais trazidos pelos conquistadores europeus como "vestir
roupas, comer macarrão e beber Coca-Cola".
"Uma cultura não pode sobreviver, quando está em contato
com outras, se não for com atualização permanente e constante", comentou
Munduruku, vencedor do Prêmio Jabuti.
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