13/05/2016

Falta de mulheres e de negros em Ministério de Temer é criticada


A equipe ministerial anunciada pelo presidente em exercício, Michel Temer, não foi bem recebida por ativistas de causas sociais e defesa das minorias. Entre os 23 nomes confirmados para o primeiro escalão do peemedebista, não há nenhuma mulher ou negro.
— É quase inacreditável que tenhamos retrocedido quase três décadas. Foram duas grandes perdas: o fato de não termos nenhuma ministra e o desaparecimento da Secretaria das Mulheres, que foi incorporada pelo Ministério da Justiça — critica a escritora e presidente da entidade Rio Como Vamos, Rosiska Darcy de Oliveira.
Desde que a primeira mulher assumiu o comando de uma pasta do primeiro escalão, a ministra da Educação Esther de Figueiredo Ferraz, do governo de João Figueiredo (1979-1985), todos os presidentes sempre tiveram colaboração feminina em algum momento. Sarney contou com apenas uma ministra; Collor e Itamar, duas, cada um; já Fernando Henrique Cardoso, ao longo de seus dois mandatos, teve quatro ministras; Lula, também em oito anos, reuniu dez mulheres na equipe. Já Dilma Rousseff, quando assumiu seu primeiro mandato, empossou outras dez mulheres. Sem contar ministras interinas, 14 mulheres ocuparam os gabinetes da administração de Dilma.

Para Rosiska, uma feminista histórica que passou a integrar a Academia Brasileira de Letras em 2013, a Secretaria de Políticas para as Mulheres, criada em 2003, era uma conquista importante para a proposição de novas políticas, além de um instrumento para garantir o cumprimento de leis que protegem mais da metade da população brasileira.
— Em que mundo vivem esses governantes? Pensei que nunca mais fosse repetir esses argumentos. Denuncio a invisibilidade das mulheres há mais de 40 anos. Não tenho dúvida que na população brasileira existe um número expressivo de mulheres que poderiam ocupar ministérios em todas as áreas — acrescenta.
Lúcia Xavier, da Articulação de Mulheres Negras Brasileiras, endossa as críticas à extinção do Ministério das Mulheres, Igualdade Racial, Juventude e Direitos Humanos. A ativista explica que a proposição de políticas para populações historicamente oprimidas vai além da garantia de justiça, envolvendo também áreas como educação, saúde e economia:
— Na Justiça, a secretaria fica legada a uma área técnica, como se esse fosse o único problema. A ideia dos ministérios específicos era transversal: eles tinham uma atuação em torno das interseccionalidades das opressões, para evitar discriminações e constituir pontes entre os direitos — diz ela, completando:
— O que nos assusta é Temer ter passado pelo mandato anterior da presidente Dilma e não ter compreendido que esse foi um processo de conquista da sociedade. Não foi um partido que construiu esse processo, foi uma luta histórica das mulheres e dos negros por seus direitos.
Romero Jucá, novo ministro do Planejamento, não se pronunciou em relação à falta de negros na equipe. Ele creditou a falta de ministras às articulações políticas que apoiam o governo.
— Isso precisa ser discutido com os partidos que negociaram e indicaram técnicos ou políticos para compor essa base — disse Jucá, garantindo que haverá nomes femininos em cargos como as secretarias nacionais.
Ex-ministra do Supremo Tribunal Federal, Ellen Gracie foi convidada para assumir a AGU, mas recusou o convite.
DESIGUALDADE HISTÓRICA
Marcelo Dias, que integra a comissão de Igualdade Racial da OAB/RJ, é outro que não vê com bons olhos a falta de diversidade étnica do novo governo. Ele reforça que, no Brasil, mulheres recebem menos do que homens, e negros são mais mal remunerados que mulheres brancas. Na base da pirâmide, ficam as mulheres negras, com os salários mais baixos.
— Estou cético com relação à continuidade das políticas afirmativas e de inclusão que tivemos nos últimos anos. Qual é a força que uma secretaria vai ter para continuar essas políticas? As conferências de igualdade racial, de mulheres, de direitos humanos vão continuar? — questiona.
Ele também se mostra preocupado com o novo ministro da Justiça e Cidadania, Alexandre de Moraes, que ocupava até então a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo. Para o advogado, as declarações do novo ministro de poucos dias atrás, equiparando as manifestações contra o governo Temer a “atos de guerrilha”, são “estarrecedoras”:
— Isso significa que vai vir muita repressão contra as manifestações contra o presidente interino e seu ministério — conclui.
Frei David, da ONG Educafro, vê como um “desrespeito” e uma “afronta” o fato de haver apenas homens brancos no ministério:
— Todos os setores da vida nacional precisam rever a exclusão do povo negro em seus espaços: industria, comércio, etc. Quantos negros os ministros brancos irão chamar, pelo menos, para o segundo escalão? Somos 53,7% de brasileiros, e o conjunto da sociedade brasileira tem nos excluído.
Os ativistas relatam que já estão se organizando para evitar a perda de conquistas recentes. Entre as políticas citadas, estão as de cotas raciais, o Bolsa Família e o Minha Casa, Minha Vida. Lúcia Xavier, que participa da organização da Marcha das Mulheres Negras, pretende manter os eventos de rua, além de realizar reuniões para denunciar eventuais supressões de direitos:
— Vamos buscar fazer valer a constituição.
Frei David, por outro lado, já tem o primeiro evento na agenda: apesar de estar marcado há cerca de oito meses, o Encontro de Estudantes e Coletivos Negros Universitários (EECUN), que acontece de sexta-feira até domingo no campus da Ilha do Fundão, da UFRJ, vai incluir debates sobre o novo governo na pauta.



Reportagem de Aline Macedo e Sérgio Roxo
fonte:http://oglobo.globo.com/brasil/falta-de-mulheres-de-negros-em-ministerio-de-temer-criticada-1929376
foto:http://www1.folha.uol.com.br/poder/2016/05/1770863-ministerio-de-michel-temer-amplia-participacao-congressistas.shtml

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigada pela visita e pelo comentário!