Um punhado de países, inclusive México, França, Finlândia e
Hungria, estabeleceram impostos sobre a venda de refrigerantes para coibir o
consumo de bebidas de alto valor calórico e praticamente nenhum valor
nutritivo. A Finlândia cobra um valor particularmente alto, 2,2 euros por
litro. No outro lado do espectro está o México, que estabeleceu uma taxa bem
mais reduzida, de um peso por litro de refrigerante, que levou a uma elevação
do preço final ao consumidor da ordem de 10%. Pode parecer pouco, mas pesquisa recente indica que os resultados
iniciais da medida foram positivos.
O estudo, feito pelo Instituto Nacional de
Salud Pública, do México, e a University of North Carolina, avaliou o padrão de
consumo de 50 mil residentes no país para avaliar os impactos da adoção da
taxa. Ele indica que houve uma queda de 6% no consumo ao longo de 2014,
primeiro ano da implantação, mais acentuada nas camadas mais pobres da
população. Outras pesquisas realizadas
no México parecem contradizer esse resultado e sugerir que o impacto do imposto
sobre as vendas não foi relevante, mas sua amostragem e visibilidade foram bem
mais reduzidas.
Por enquanto só uma cidade americana, Berkeley, na California,
estabeleceu uma taxa sobre refrigerantes, no caso 1 centavo de dólar por onça
[454g], volume equivalente a 300 mililitros. O diário Washington Post publicou editorial em dezembro em que
reivindica a introdução de um imposto nacional sobre o açúcar, que ampliaria o
escopo de taxação.
Diversos países asiáticos, inclusive Índia, Indonésia e Filipinas,
que tiveram um crescimento expressivo das vendas de refrigerantes nos últimos
cinco anos, também estão considerando implantar medidas de âmbito nacional. O
governo indiano está avaliando a possibilidade de introduzir uma taxa de até
40% do valor de bebidas adoçadas carbonatadas, num nível comparável ao dos
impostos sobre o tabaco e as bebidas alcoólicas. As Filipinas estão em vias de
aprovar projeto de lei que estabelece um imposto progressivo. A Indonésia passa
por discussão semelhante e a Malásia, embora não estude introduzir impostos,
retirou um subsídio ao consumo de açúcar em 2013.
Os opositores do amplo consumo de refrigerantes também enfrentam
alguns revezes. A Associação de Fabricantes de Bebidas dos Estados Unidos
chegou a investir US$ 16 milhões em atividades de lobby para evitar que o estado de Washington
estabelecesse um imposto em 2010. Outras dezenas de iniciativas locais e
estaduais foram brecadas pela indústria. O Vietnã, que estudava adotar um
imposto de 10% sobre o consumo de refrigerantes, engavetou a proposta, sob
pressão do setor. E a Dinamarca removeu há dois anos um imposto sobre o açúcar,
porque isto estava promovendo a evasão fiscal (os consumidores compravam
refrigerantes em países vizinhos).
O mercado global de refrigerantes é estimado hoje em US$ 580
bilhões, sendo que o maior consumidor são os Estados Unidos, responsáveis por
17% desse valor. Um americano médio consome cerca 170 litros anuais, faixa
similar à dos mexicanos. É uma média de meio litro diário. Não por
coincidência, estatísticas da Organização Mundial da Saúde indicam que a
incidência global de obesidade, diretamente associada ao consumo de
refrigerantes, dobrou desde 1980, atingindo 600 milhões de adultos em 2014. O
órgãos recomenda reduzir o consumo de refrigerantes para evitar cáries e o
excesso de peso que, por sua vez, está associado a doenças cardíacas,
hipertensão e diabetes.
Reportagem de Regina Scharf
foto:http://veja.abril.com.br/noticia/saude/consumo-de-bebidas-acucaradas-pode-causar-180-000-mortes-por-ano/
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