Uma das bandeiras mais levantadas durante a campanha eleitoral nas 
eleições deste ano foi o combate à corrupção. Em discursos inflamados, 
candidatos ao Congresso, ao Senado e à presidência, criticaram 
veementemente os crimes de corrupção na Petrobras e no poder público, de
 modo geral, prometendo combatê-los. Mas dizem que santo de casa não faz
 milagres. Ou ao menos não tão facilmente. Prova disso foi a votação da Medida Provisória 651, primeiro pelo Congresso, a uma semana do segundo turno das eleições, e depois pelo Senado, três dias depois da vitória de Dilma Rousseff.
A MP 651 trata, essencialmente, da desoneração da folha de pagamento 
de diversos setores. Um dos seus mais de 100 artigos, porém, se tornou 
polêmico. O artigo 35, que abriria uma brecha para aliviar as dívidas de
 condenados por desvios de dinheiro público. O artigo define o 
parcelamento, desconto e a redução de juros e multas às dívidas de 
“qualquer natureza perante a Fazenda Nacional”, segundo o texto.
Ou seja, as cobranças a servidores públicos que tenham se apropriado 
indevidamente de recursos oriundos do contribuinte poderiam ter redução 
ou até a exclusão total dos juros e multas, além da possibilidade de ser
 parceladas em até 15 anos, de acordo com a lei. Passados os horários 
políticos e os debates eleitorais, parece que tudo voltaria ao normal em
 Brasília, onde o discurso de endurecer perante à corrupção, muitas 
vezes, não condiz com a realidade.
O deputado federal Newton Lima (PT), relator da MP, disse, por meio 
de uma nota, que “a emenda foi apresentada pelo senador Gim Argello 
(PTB) minutos antes da reunião que analisou a MP”. Porém, se o artigo 
fosse simplesmente retirado do texto, o documento teria que voltar à 
Câmara dos Deputados, ser aprovado novamente, para só então retornar à 
aprovação do Senado, e então seguiria para que a presidenta o 
sancionasse. Não haveria tempo hábil. “Acolhi a emenda no meu relatório 
final, em consenso com os líderes presentes, apenas com o objetivo de 
viabilizar a aprovação da MP no âmbito da comissão”, disse Lima. Como o 
prazo para a sanção estava chegando ao fim – se expira no dia 6 de 
novembro – foi feito um acordo entre o Legislativo e o Governo.
O senador Romero Jucá (PMDB), que presidiu a comissão criada no Congresso para apreciação da MP, procurou o ministro-chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante,
 e das Relações Institucionais, Ricardo Berzoini, para articular um veto
 da presidenta ao artigo 35. “Não dá para beneficiar quem tem que fazer 
devolução por causa de desvio público por conta de improbidade”, diz 
Jucá. “E essa lei abriria uma brecha para que isso ocorresse”, explica. 
Na nota, o relator Newton Lima reforçou a expectativa em relação ao veto
 da presidenta. “Considerando que não estou de acordo com seu conteúdo 
[se referindo ao artigo 35], minha expectativa agora é que a matéria 
seja vetada”, disse.
Não foi à toa que o senador Gim Argello tentou incluir o artigo em 
cima da hora. Alvo de seis investigações no Supremo Tribunal Federal por
 suspeita de lavagem de dinheiro, corrupção ativa e passiva, falsidade 
ideológica, peculato e crime contra lei de licitações, Argello, se vier a
 ser condenado, poderia ser o próprio beneficiado dessa brecha. 
Procurada, a assessoria do senador afirmou que ele não falaria sobre o 
assunto.
Não é a primeira vez que o Congresso tenta passar, por emendas, 
bondades para beneficiar a poucos em detrimento do coletivo. Em maio 
deste ano, a Medida Provisória 627, que tratava da tributação de 
empresas no exterior, ganhou também de última hora uma emenda que 
beneficiava seguros de saúde.
Campeãs de reclamações dos clientes, elas são multadas em casos de 
abusos com seus clientes. Se deixar de atender a algum procedimento 
estabelecido, por exemplo, que estava no contrato, elas são multadas 
pelos órgãos competentes. Segundo noticiou o jornal O Globo na época, o 
deputado Eduardo Cunha, do PMDB, incluiu um dispositivo que visava 
reduzir as penas às seguradoras, que àquela altura chegava aos 2 bilhões
 de reais. Na época, o artigo foi vetado por Dilma Rousseff. Cunha é 
hoje líder do PMDB na Câmara dos Deputados e articula a sua eleição para
 presidente da Casa em 2015.
Reportagem de Marina Rossi
fonte:http://brasil.elpais.com/brasil/2014/10/31/politica/1414789409_686138.html
foto:http://blog.opovo.com.br/portugalsempassaporte/nacao-valente-e-imortal-onde-e-que-esta-a-crise-entao/corrupcao-5/

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