12/11/2015

União Europeia quer pagar para África não deixar sair imigrantes


A Comissão Europeia quer pagar para os países africanos não deixarem sair imigrantes em direção à Europa. Serão pagamentos em forma de investimento — dinheiro a aplicar na criação de condições que melhorem a vida dos que querem partir —, mas a proposta, que foi posta em cima da mesa ontem em Valeta, numa cimeira Europa-África, não agrada a muitos países.
"Muitos dizem que esta é uma forma de a Europa tornar externos os seus problemas, de pedir a outros que os resolvam como num outsourcing", disse ao jornal britânico The Guardian uma fonte nas negociações na cimeira de Malta. "Os europeus não são exatamente visionários e não percebem que já não estão no centro do mundo", disse outra fonte do mesmo jornal.
Segundo estas declarações, a fórmula "pagar para resolver problemas" está ultrapassada e já não basta para resolver problemas. Mas não é só esta premissa que leva os analistas a considerarem, antes mesmo da abertura dos trabalhos, que a cimeira de Malta pode ter resultados muito limitados. O timming do encontro que junta durante dois dias a UE os países africanos, 60 no total, não é o melhor.
A cimeira começou a ser planeada no início da Primavera, quando o fluxo de imigração ilegal entre África e a Europa, através do Mediterrâneo, começou a ser anormal, no sentido de estar em trânsito muito mais gente do que o habitual noutros anos. As primeiras tragédias, ao largo da ilha italiana de Lampedusa, levaram alguns dirigentes — o primeiro-ministro italiano, Matteo Renzi, e o Papa Francisco, por exemplo — a dar o alerta.
Malta prontificou-se a receber a cimeira. Só que, entretanto, a situação agravou-se noutro ponto do Mediterrâneo, com a quantidade de pessoas a passar entre a Turquia e a Grécia a suplantar largamente as que atravessam de África para a Itália. Ao longo do ano, 540 mil pessoas chegaram à Grécia, enquanto que à Itália chegaram 140 mil, segundo os dados oficiais da agência europeia de fronteiras, Frontex.
O tipo de pessoas também se alterou — se de África partem sobretudo imigrantes econômicos, da Turquia são principalmente refugiados sírios.
Este dado é importante e vai estar em discussão em Malta, onde o programa de ontem foi sobretudo protocolar — chegada, fotografias —, estando os trabalhos concentrados no dia de quinta-feira. Os 35 países africanos vão perguntar aos europeus porque razão estão dispostos a pagar três milhões de euros à Turquia, para conter os refugiados, e apenas 1,8 milhões a África. O que Bruxelas vai propor é a criação de um fundo fiduciário que terá que ser alimentado numa parte igual (outros 1,8 milhões) pelos países africanos; até ao momento apenas um pequeno grupo de países aceitou esta condição e disponibilizou pouco mais de 30 milhões de euros.
"Os parceiros africanos queixam-se de que estamos dispostos a dar a um só país [a Turquia] três milhões enquanto que damos apenas 1,8 milhões a um continente inteiro", disse uma fonte diplomática citada pela El País.
A contrapartida que Bruxelas vai apresentar — segundo os jornais El País e The Guardian, que adiantaram alguns pontos da proposta — é uma maior abertura dos canais legais de imigração. Mas também aqui há condições, estando os 28 Estados-membros dispostos a facilitar a entrada no espaço europeu de estudantes — está prevista, por exemplo, a duplicação do número de vagas para estudantes africanos frequentarem o programa Erasmus de intercâmbio entre universidades —, investigadores e "empreendedores".

Não será fácil às duas partes chegarem a acordo. Além de todos estes pontos de desentendimento, também porque não há em África um mecanismo de controlo dos muitos milhares de pessoas que circulam entre países africanos, procurando melhores condições de vida — destes, apenas um em cada dez parte ilegalmente para a Europa.



fonte:http://publico.uol.com.br/mundo/noticia/uniao-europeia-quer-pagar-para-africa-nao-deixar-sair-imigrantes-1714122
foto:http://clickeaprenda.uol.com.br/portal/mostrarConteudo.php?idPagina=27326

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