A Comissão Europeia quer pagar para os países africanos não deixarem
sair imigrantes em direção à Europa. Serão pagamentos em forma de
investimento — dinheiro a aplicar na criação de condições que melhorem a
vida dos que querem partir —, mas a proposta, que foi posta em cima da
mesa ontem em Valeta, numa cimeira Europa-África, não agrada
a muitos países.
"Muitos dizem que esta é uma forma de a Europa tornar externos os seus problemas, de pedir a outros que os resolvam como num outsourcing", disse ao jornal britânico The Guardian
uma fonte nas negociações na cimeira de Malta. "Os europeus não são
exatamente visionários e não percebem que já não estão no centro do
mundo", disse outra fonte do mesmo jornal.
Segundo estas declarações, a fórmula
"pagar para resolver problemas" está ultrapassada e já não basta para
resolver problemas. Mas não é só esta premissa que leva os analistas a
considerarem, antes mesmo da abertura dos trabalhos, que a cimeira de
Malta pode ter resultados muito limitados. O timming do encontro que junta durante dois dias a UE os países africanos, 60 no total, não é o melhor.
A cimeira começou a ser planeada no
início da Primavera, quando o fluxo de imigração ilegal entre África e a
Europa, através do Mediterrâneo, começou a ser anormal, no sentido de
estar em trânsito muito mais gente do que o habitual noutros anos. As
primeiras tragédias, ao largo da ilha italiana de Lampedusa, levaram
alguns dirigentes — o primeiro-ministro italiano, Matteo Renzi, e o Papa
Francisco, por exemplo — a dar o alerta.
Malta prontificou-se a receber a
cimeira. Só que, entretanto, a situação agravou-se noutro ponto do
Mediterrâneo, com a quantidade de pessoas a passar entre a Turquia e a
Grécia a suplantar largamente as que atravessam de África para a Itália.
Ao longo do ano, 540 mil pessoas chegaram à Grécia, enquanto que à
Itália chegaram 140 mil, segundo os dados oficiais da agência europeia
de fronteiras, Frontex.
O tipo de pessoas também se alterou —
se de África partem sobretudo imigrantes econômicos, da Turquia são
principalmente refugiados sírios.
Este dado é importante e vai estar em
discussão em Malta, onde o programa de ontem foi sobretudo
protocolar — chegada, fotografias —, estando os trabalhos concentrados
no dia de quinta-feira. Os 35 países africanos vão perguntar aos
europeus porque razão estão dispostos a pagar três milhões de euros à
Turquia, para conter os refugiados, e apenas 1,8 milhões a África. O que
Bruxelas vai propor é a criação de um fundo fiduciário que terá que ser
alimentado numa parte igual (outros 1,8 milhões) pelos países
africanos; até ao momento apenas um pequeno grupo de países aceitou esta
condição e disponibilizou pouco mais de 30 milhões de euros.
"Os parceiros africanos queixam-se de
que estamos dispostos a dar a um só país [a Turquia] três milhões
enquanto que damos apenas 1,8 milhões a um continente inteiro", disse
uma fonte diplomática citada pela El País.
A contrapartida que Bruxelas vai apresentar — segundo os jornais El País e The Guardian,
que adiantaram alguns pontos da proposta — é uma maior abertura dos
canais legais de imigração. Mas também aqui há condições, estando os 28
Estados-membros dispostos a facilitar a entrada no espaço europeu de
estudantes — está prevista, por exemplo, a duplicação do número de vagas
para estudantes africanos frequentarem o programa Erasmus de intercâmbio
entre universidades —, investigadores e "empreendedores".
Não será fácil às duas partes
chegarem a acordo. Além de todos estes pontos de desentendimento, também
porque não há em África um mecanismo de controlo dos muitos milhares de
pessoas que circulam entre países africanos, procurando melhores
condições de vida — destes, apenas um em cada dez parte ilegalmente para
a Europa.
fonte:http://publico.uol.com.br/mundo/noticia/uniao-europeia-quer-pagar-para-africa-nao-deixar-sair-imigrantes-1714122
foto:http://clickeaprenda.uol.com.br/portal/mostrarConteudo.php?idPagina=27326
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