" Não há nada mais trágico neste mundo do que saber o que é certo e não fazê-lo. Que tal mudarmos o mundo começando por nós mesmos?"
Martin Luther King
28/08/2015
Conheça o primeiro banco de currículos online para pessoas em situação de rua
Criado por grupo de publicitários, Projeto Olhe quer dar visibilidade e emprego à população de rua em todo Brasil.
Da série de livros-infantis “Onde Está Wally?” surgiu a ideia de um
projeto que pretende criar o primeiro banco de currículos online voltado
a pessoas em situação de rua. “Fizemos uma comparação entre o famoso
personagem e a condição daqueles que não tem uma moradia para viver.
Ambos são praticamente invisíveis em meio à multidão. A diferença é que
na história do Wally, o desafio é resgatá-lo do anonimato, enquanto a
população de rua segue no esquecimento”, explica o publicitário e um dos
idealizadores do projeto Olhe, Edgard Vidal.
Atualmente, em todo Brasil, aproximadamente dois milhões de pessoas
sobrevivem em meio a marquises, praças, calçadas e outros meios de
moradias improvisadas. Entre essa população, maior que a de cidades como
a capital uruguaia Montevidéu , por exemplo, cerca de 70% exerce algum
tipo de atividade remunerada.
Segundo pesquisa do Ministério de Desenvolvimento Social, das
atividades profissionais mais comuns entre os moradores, 27,2% são
ligados à construção civil, 4,4% ao comércio e trabalho doméstico e 4,1%
à mecânica. “O objetivo é trazer um novo olhar para essa parcela da
população, mostrando que eles têm talentos e habilidades diversas, como
qualquer um de nós. Queremos que nossa plataforma ajude essas pessoas a
conseguirem novas oportunidades”, ressalta Edgard.
Para dar vida ao projeto, os publicitários Thómas Fernandes, Lucas
Cordeiro, Júlia Rebouças, Gustavo Orsati e Edgard Vidal, à frente do
Coletivo Criativo F5, buscaram inspiração no comum interesse pela
situação de vulnerabilidade social aliada à rotina profissional do
mercado publicitário.
“Como muitos dos integrantes são de cidades diferentes, a quantidade
de pessoas vivendo nas ruas de São Paulo foi algo que impactou a cada um
individualmente. Por trabalharmos juntos, diversas conversas surgiram
ao longo do tempo sobre o assunto. Um dia, em uma reunião de brainstorm,
surgiu a vontade de fazermos algo específico para essa parcela da
população. A ideia não se encaixava no briefing daquele cliente, mas
decidimos levar o projeto adiante por conta própria”.
Qual o maior desafio enfrentado desde que surgiu a campanha?
Nossa maior dificuldade é (e continuam sendo) conhecer o assunto a
fundo. A cada dia aprendemos mais e mais sobre as pessoas que vivem em
situação de rua e estamos longe de esgotarmos a questão. Lemos diversos
materiais, entramos em contato com profissionais e instituições para
tentar entender a heterogeneidade do assunto. Antes de querermos quebrar
o preconceito dos outros, precisamos nos desfazer dos nossos.
Nesse tempo, nos deparamos com informações que não imaginávamos.
Soubemos, por exemplo, que há quase 2 milhões de moradores de ruas no
país, dos quais quase 16 mil estão em São Paulo. Além disso, segundo
pesquisa do Núcleo de Direitos Humanos da Defensoria Pública do Rio de
Janeiro, muitos moradores de rua são alfabetizados e a maioria não bebe
ou usa drogas.
Quantos currículos já foram cadastrados?
O banco de currículos está em processo inicial de formação. Hoje, no
site, contamos a história de quatro pessoas que tem habilidades
diferentes e estão dispostas para o trabalho. Agora estamos em um
momento de buscar parcerias com novas instituições que realizem um
trabalho sério nessa área para imputar novos currículos na plataforma e
fazer com que mais gente seja beneficiada.
Quantas pessoas foram impactadas?
A campanha em si está tendo um alcance fenomenal. Sem realizarmos uma
única divulgação paga, já conseguimos milhares de visualizações nas
redes sociais. O retorno das pessoas sobre o projeto tem sido bastante
positivo e tem aparecido muita gente querendo ajudar de alguma forma.
Quais são as propostas para o futuro?
O nosso objetivo é que, em um futuro não tão distante, esse projeto
ganhe o país. Queremos expandi-lo para as outras regiões e estabelecer
contato com instituições de todo o Brasil. E, claro, que as empresas
possam apostar na iniciativa e comecem a abrir postos de trabalho para
essas pessoas.
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