Mais de 60 pessoas
foram mortas no ataque de um grupo de militantes supostamente ligados ao grupo
islâmico somali Al-Shabab ao shopping center Westgate, no centro de Nairóbi,
capital do Quênia. Abaixo, o jornalista queniano Joseph Warungu questiona se
algo poderia ter sido feito para evitar o ataque.
Os quenianos acumulam uma longa lista de
dúvidas, mas a primeira é: como isso aconteceu? Como um grupo de homens
fortemente armados transitou livremente por uma cidade com uma rotina de
segurança rigorosa?
Ataques frequentes em igrejas, bares e pontos de
ônibus deixaram muitos quenianos mortos ou feridos nos últimos anos e forçaram
as autoridades a estabelecer checagens de segurança na maioria dos espaços
públicos de Nairóbi.
É normal para todos, inclusive crianças, passar
por uma revista ao entrar em edifícios na cidade. As igrejas não são exceção.
O shopping Westgate tem um sistema de segurança
em tempo integral, com guardas que inspecionam cada carro que entra no
edifício. Os seguranças não permitem sequer que alguém fique sentado e espere
dentro de veículos estacionados.
Então como é possível que atiradores sejam
capazes de romper toda essa barreira de segurança e invadir um dos shopping
centers de maior prestígio do Quênia?
A resposta é que é difícil parar 15 pessoas com
metralhadoras AK-47 e granadas.
O que leva a outra pergunta: por que, então, as
pessoas têm de passar por revistas diárias em espaços públicos?
Como os atiradores conseguiram as armas e
munições que carregavam? Como todo esse planejamento e execução escaparam do
monitoramento da polícia e dos serviços de segurança?
Essas são perguntas difíceis, mas há algumas
pistas sobre elas.
Fronteira e corrupção
O Quênia, que possui uma longa fronteira com a
Somália, tem pontos de entrada porosos, e o fluxo de armas leves e pequenas que
chegam ao país se tornou uma grande dor de cabeça para as autoridades locais.
A corrupção também é frequente. Com a quantia
certa de dinheiro, é relativamente fácil para estrangeiros entrar no país sem
os documentos adequados ou maiores questionamentos.
Isso ficou demonstrado recentemente quando um
nigeriano que havia sido deportado por realizar atividades ilegais no país
conseguiu entrar de novo no Quênia com documentos falsos.
Do mesmo modo, com a quantia certa de dinheiro
nas mãos da pessoa certa, é fácil comprar a permissão de residência ou a
cidadania no Quênia.
O fato de que diferentes agências de segurança
do Estado se uniram para lidar com o ataque em Westgate foi algo positivo. A
polícia queniana, a paramilitar Unidade de Serviço Geral, as Forças de Defesa
do Quênia e o Serviço Nacional de Inteligência rapidamente juntaram forças para
tentar resgatar os reféns e enfrentar os atiradores.
Mas especialistas em segurança questionam se um
incidente deste tipo poderia ter sido evitado se essas agências tivessem
coordenado suas atividades e compartilhado informações antes.
Quando a polícia chegou ao local, havia relatos
de confusão sobre quem deveria fazer o quê e como.
Uma confusão parecida teria acontecido durante a
reação inicial a um incêndio recente no aeroporto Jomo Kenyatta, que chamou a
atenção para a necessidade de uma melhor coordenação.
Depois que a crise no Westgate tiver passado, o
governo queniano vai precisar revisitar algumas dúvidas:
1. Com as lições aprendidas após o atentado à
embaixada americana em 1998 e o ataque ao Westgate, como prevenir que algo
parecido volte a acontecer?
2. Como rever e reestruturar os órgãos de
segurança e coordená-los melhor para que possam ser mais eficientes no futuro?
3. Diante da histórica desconfiança dos
quenianos em relação à polícia, como reconquistar a credibilidade para que a
população possa contribuir com informações importantes para as autoridades?
4. Como evitar que a corrupção no país se torne
a arma mais poderosa de grupos radicais?
O próprio presidente Uhuru Kenyatta perdeu um
familiar no ataque em Westgate e prometeu permanecer firme no combate ao
terrorismo. Os quenianos esperam agora que o governo se concentre em realmente
enfrentar os problemas de segurança que preocupam o país.

Nenhum comentário:
Postar um comentário
Obrigada pela visita e pelo comentário!