A polícia francesa desmantelou na última quinta-feira (09/08), dois
acampamentos ciganos de etnia roma na cidades de Hellemmes e Villeneuve d’Ascq,
ambas na região de Lille (norte do país). As ações fazem parte de uma operação
em escala nacional iniciadas nesta semana.
Além de Lille, as forças de segurança, sob coordenação do Ministério do
Interior, também expulsaram 160 pessoas de um acampamento dentro de Paris.
Desde domingo, três acampamentos em cidades nos arredores de Lyon, que
comportavam cerca de 200 pessoas, também foram fechados.
Até esta quinta-feira, 240 ciganos foram postos em um avião de volta para a
Romênia, segundo integrantes de ONGs. De acordo com o governo, eles concordaram
em deixar o país mediante compensação financeira. Os destinos da maioria deles
são a Romênia ou a Bulgária.
O ministro do Interior francês, Manuel Valls, justificou a decisão acusando os
acampamentos de provocarem “riscos sanitários”. Segundo a ONG Médicos do Mundo,
que apóia a decisão do governo francês, esses locais são focos de tuberculose.
“Além de tudo, são montados em bairros de classe trabalhadora e provocam
tensões em seus vizinhos”.
Há dois anos, o então ministro do Interior Claude Guéant, durante o governo de
Nicolas Sarkozy, da UMP (União por um Movimento Popular) causou revolta ao
optar pelo desmantelamento desses acampamentos ilegais e do envio de seus
componentes de volta à Romênia. Ele foi duramente criticado pelos membros do PS
(Partido Socialista), que hoje compõem o governo do presidente François
Hollande, eleito em junho.
ONGs defensoras dos
direitos da comunidade cigana, entre elas a Solidarité Roms, protestaram contra
o desmantelamento dos campos sem que soluções alternativas fossem encontradas.
E também lembraram uma carta assinada pelo presidente François Hollande
dirigida a essas associações, durante a campanha eleitoral na primeira metade
do ano. Na ocasião, ele prometeu não desmontar acampamentos em condições de
insalubridades sem que outra solução alternativa fosse encontrada.
“Estamos consternados”, disse Yann la Folie, presidente da ONG Ateliê
Solidário, integrante do coletivo Solidariedade aos Romas. “Aqui funcionava
como um laboratório para a descoberta de soluções”. Para ele, essa ação do
governo francês demonstra “um desejo do poder de destruir o trabalho das
associações beneficentes”.
O primeiro aviso do governo foi feito há duas semanas, quando Valls afirmou que
não iria mais permitir a proliferação desses locais improvisados. “Não posso
admitir estes campos ilegais que acolhem centenas de pessoas em pleno calor do
verão [que chega a alcançar médias acima de 40ºC na França] e geram problemas
de saúde insuportáveis. Cada vez que houver uma decisão da Justiça favorável,
haverá um desmantelamento”.
Reações políticas
O secretário-nacional do Partido de Esquerda, Èric Coquerel afirmou que o
governo do premiê Jean-Marc Ayrault “começou a seguir os passos do governo
anterior (da UMP)”, “apontando o dedo aos Romas”. Ele pediu que o governo adote
“uma política que compreenda de maneira global o problemas desses migrantes. É
necessário que os Romas possam ter uma vida digna dentro de nosso país”.
A ação do governo francês gerou críticas até mesmo na extrema-direita, corrente
política abertamente favorável à contenção de imigrantes. A presidente da
Frente Nacional, Marine Le Pen, terceira colocada na eleição presidencial,
afirmou que as expulsões em Lille são “absolutamente inúteis” e não passam de
um “espetáculo midiático”.
“O desmantelamento dos acampamentos dos Romas são absolutamente necessários,
estamos dizendo isso há anos. Esses acampamentos são indignos para nosso país e
insuportáveis para as populações ribeirinhas”, diz Marine em um comunicado à
imprensa. “A cada ano, os franceses percebem que essas operações televisionadas
não levam a lugar algum: os ciganos estão ainda mais numerosos. (...). A
verdadeira solução passa logicamente pelo controle das fronteiras, um ponto que
nem PS nem UMP querem abordar”.
O único partido a apoiar as ações de Valls foi a UMP. Eric Ciotti,
secretário-nacional do partido, afirmou que, “enfim, o ministro do Interior
mostrou um pouco de lucidez”. “Bem tardia por sinal, pois nos lembramos muito
bem da reação colérica após o pronunciamento de Sarkozy em 2010 em Grenoble
(sudeste da França), quando ele denunciou a existência de acampamentos
selvagens”.
Reportagem de João
Novaes
foto:fabulouskimino.blogspot.com
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