É um rito dos adolescentes norte-americanos, celebrado na cultura popular por “American Graffiti” e “Picardias Estudantis”: um adolescente com carteira de motorista empilhando o máximo de amigos que cabem num carro para ir passear.
Mas cada vez mais, os estados norte-americanos estão legislando contra esse passeio descuidado, aprovando leis que restringem quando, como e com quem os adolescentes podem estar atrás do volante.
Quinze estados e o Distrito de Columbia agora proíbem os adolescentes de dirigir com outro adolescente, e todos exceto sete estados proíbem que eles dirijam com mais de um adolescente. Na Carolina do Sul, os adolescentes não podem dirigir depois das 18h no inverno (20h no verão), e em Idaho, eles são proibidos de dirigir do por do sol ao nascer do sol.
Em Nova Jersey, que há muito tempo é o estado com a idade mais alta para habilitação, 17 anos, os legisladores estão pressionando mais, exigindo que os motoristas adolescentes coloquem um adesivo vermelho em suas placas para facilitar que a polícia supervisione um toque de recolher e restrições a passageiros, e estão propondo uma lei para exigir que até os pais façam um curso de educação de motoristas.
As leis geraram reclamações de que o estado está transferindo o papel dos pais para a polícia – sem mencionar que os limites de passageiros tornam ilegais os adolescentes passearem em casais.
Mas os que fazem campanha pela segurança apontam para estudos que mostram que as leis reduziram significativamente as mortes no trânsito, e chamam-nas de uma extensão natural para uma geração que cresceu protegida por leis de carrinhos de bebê esportivos e capacetes para pedalar.
“Eu tenho um filho; fiz tudo o que podia para que ele chegasse até aqui”, diz Pam Fischer, que faz campanha pela segurança e leis mais rígidas em Nova Jersey, e cujo filho fará teste para tirar habilitação provisória esta semana. “Não vou simplesmente jogar as chaves para ele.”
As batidas de carro continuam sendo a principal causa de morte para adolescentes, que têm uma taxa de colisão quatro vezes maior do que a de motoristas mais velhos. E dois terços dessas mortes acontecem num carro dirigido por outro adolescente.
Estudos mostraram que os adolescentes tendem a supervalorizar suas habilidades na direção e minimizar os riscos nas ruas, e têm mais dificuldades de fazer várias tarefas ao mesmo tempo – falar com amigos, ouvir rádio e enviar mensagens de texto são particularmente prejudiciais. O risco de um motorista adolescente bater aumenta 44% com um passageiro adolescente, e quadruplica com três ou mais.
A pressão para restringir os motoristas adolescentes começou em meados dos anos 90, quando os estados, a começar com a Flórida, começaram a aprovar leis que forneciam carteiras de motoristas para menores, o que exigia períodos de supervisão e testes de direção antes que eles pudessem ter uma habilitação completa.
Agora, todos os estados têm habilitação para menores – o Dakota do Norte, o último a adotá-la, começou a exigi-la em janeiro. Mas a maioria dos estados estão revisitando as leis para torná-las mais rígidas; 29 fizeram isso desde 2009, de acordo com o Instituto de Seguros para Segurança nas Estradas, um grupo financiado pelo setor.
Eles estão sobretudo restringindo o número de passageiros ou tornando os toques de recolher mais rígidos. E cada vez mais, também estão proibindo o uso de telefone celular mesmo com headsets e ligando a habilitação à frequência escolar. As restrições normalmente não se aplicam a novos motoristas acima de 21 anos.
Os esforços foram particularmente agressivos no nordeste do país, nos lugares mais congestionados. Leis exigindo um adesivo como o de Nova Jersey estão tramitando em Nova York e Rhode Island. No ano passado, a Pennsylvania aprovou uma restrição de um passageiro adolescente e impôs as restrições mais rígidas do país para a prática da direção, 65 horas. E uma tentativa de aliviar a proibição de passageiros adolescentes em Connecticut, permitindo que eles levem irmãos, fracassou em março.
Em nível federal, a lei das estradas aprovada neste verão estabeleceu incentivos para que os estados aumentem as restrições sobre os motoristas adolescentes, com um incentivo particular para impor limites mais rígidos sobre o número de passageiros e de horas que os adolescentes podem dirigir, para proibir o uso de celular e estender as restrições até os 18 anos em estados onde elas acabam mais cedo.
“Não queremos dizer que os adolescentes são uma ameaça para todos nós, mas a realidade é que, quando os motoristas adolescentes batem, são as pessoas nos outros carros ou os passageiros adolescentes que acabam morrendo”, diz Justin McNaull, diretor de relações estatais do AAA, que endossa o limite de passageiros até os 21 anos, ou até mesmo 25.
“Basta assistir a 'Grease' e “American Graffiti' para entender o amor dos jovens pelos seus carros. Mas agora nós entendemos bem mais os riscos envolvidos nisso.”
A experiência de Nova Jersey, considerada um dos modelos para leis mais rígidas sobre a direção adolescente, mostra como essas leis evoluíram.
O estado implementou sua habilitação para menores em 2001, limitando os adolescentes a um passageiro com exceção para membros da família. Depois de descobrir que de repente os carros dirigidos por adolescentes estavam cheios de “primos”, o estado tornou a lei mais rígida em 2009, proibindo até mesmo os irmãos. Mas uma comissão estatal descobriu que os policiais estavam relutantes em fazer cumprir a lei, e os adolescentes sabiam disso.
“Disseram-nos muito claramente que eles sabiam 'que não podiam nos parar só porque parecíamos jovens'”, diz Fischer, que liderou a comissão. Então o estado começou a exigir adesivos com uma lei que levou o nome de Kyleigh D'Alessio, um adolescente de 16 anos morto num carro dirigido por outro adolescente em 2006.
Aqueles que têm habilitação ou licenças provisórias – geralmente, qualquer jovem com menos de 18 anos que esteja licenciado há menos de um ano – precisa usar o adesivo ou correr o risco de pagar uma multa de US$ 100.
Este mês, o mais alto tribunal do estado decidiu contra um pai que desafiou o adesivo, Gregg D. Trautmann, dizendo que ele violava as leis federais de privacidade dos motoristas.
“Temos jovens voando helicópteros Apache no Afeganistão para nos proteger; você está dizendo que eles não pode dirigir um carro depois das 23h?”, disse Trautmann.
Ele instruiu sua filha a não usar o adesivo, dizendo temer, como outros, que o adesivo a tornaria vítima de predadores sexuais.
O deputado estadual John S. Wisniewski, democrata de Sayreville, que é presidente do comitê de transporte disse que entendeu as reclamações sobre as restrições sobre os motoristas adolescentes. Quando a restrição sobre passageiros entrou em vigor, sua filha mais velha não pode mais levar as irmãs para a escola; sua mulher teve de passar a fazê-lo.
“Tínhamos dois carros indo para a mesma escola todos os dias; minha filha ficou bem chateada comigo”, disse Wisniewski. “Mas em nome da segurança pública, achei que foi uma boa medida.”
Aqui neste subúrbio de Nova York, quase não existem adesivos no estacionamento do lado de fora de uma rede de iogurte gelado cheia de adolescentes. Foi raro encontrar um adolescente que disse observar as restrições. (Um estudo do Instituto de Seguros feito em dezembro revelou que a lei do adesivo não melhorou a forma como os adolescentes cumprem a lei, mais dobrou o trabalho da polícia.)
“Com quantas pessoas eu estou dirigindo?”, perguntou Oriah Aponte, 17. “Quantas couberem.”
Como muitos pais não sabem das regras, o estado está fazendo cursos de educação para motoristas para os pais, que Connecticut exige desde 2008. Eles já são uma exigência para ter permissão de estacionar em algumas escolas de segundo grau, inclusive na Mainland Regional, perto de Atlantic City, onde um Ford Explorer lotado com oito jogadores de futebol bateu em agosto passado, matando quatro deles.
Megan Lavery, estudante sênior na escola que apareceu nas mensagens da televisão local lembrando os estudantes sobre as leis, disse que um ano depois do acidente, os alunos ficaram menos preocupados em não lotar o carro de amigos.
“Até eu esqueço algumas vezes”, diz ela. “Você não esquece o que aconteceu, mas alguém pede uma carona para casa, e você pensa: são só alguns quarteirões. É fácil esquecer que as regras estão lá para nos manter seguros. Alguns quarteirões podem mudar uma vida inteira.”
Tradutor: Eloise De Vylder
Reportagem de Kate Zernike
foto:dogknobit.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Obrigada pela visita e pelo comentário!