Para tentar conter o surto
de violência que a América Central tem enfrentado, as autoridades tentaram os
caminhos da repressão e da prevenção. Haveria uma terceira via, a negociação
com o crime organizado? A questão merece ser levantada no México, depois da
vitória do Partido Revolucionário Institucional (PRI, centro) nas últimas
eleições, e do sucesso da trégua entre as “maras”, os bandos de jovens
ultraviolentos, em El Salvador.
A trégua entre a Mara
Salvatrucha e a Barrio 18 foi negociada pelo bispo Fabio Colindres, capelão do
exército salvadorenho. Em março, os chefes dos dois principais bandos de El
Salvador ordenaram que suas tropas parassem de resolver suas diferenças por
meio da violência. Desde então, o número de homicídios caiu mais de 50%. Com 70
homicídios para 100 mil habitantes em 2011, El Salvador encabeçava a lista dos
países mais violentos do mundo, logo à frente de Honduras, também devastada
pelas “maras”. “Não gosto de falar em trégua, prefiro falar em processo de
paz”, declarou Dom Colindres.
Depois de ter negado em
março o envolvimento do governo no processo, o general David Munguia Payés,
ministro salvadorenho da Justiça e da Segurança Pública, agora reivindica o
avanço daquilo que se chama de uma “terceira via”. Poderia o México, que vem
sofrendo uma alta vertiginosa dos homicídios desde 2007, se inspirar nessa
experiência? Muitos mexicanos, para quem o PRI é sinônimo de autoritarismo e de
corrupção, acreditam que o ex-partido hegemônico está disposto a negociar com
os cartéis do narcotráfico.
Um negócio muito lucrativo
Essa percepção é uma
mistura de desconfiança e esperança. Uma desconfiança alimentada pela
cumplicidade demonstrada entre políticos e traficantes. Mas isso também remete
a uma certa nostalgia, ou até idealização, da relativa tranquilidade que
reinava na época em que o PRI estava no poder.
“Não haverá nem pacto nem
trégua com o crime organizado”, garantiu Enrique Peña Nieto, candidato do PRI
vencedor das eleições presidenciais. Independentemente da vontade política, as
diferenças entre o “pequeno” El Salvador e o “imenso” México tornam
problemática uma possível “terceira via” com os cartéis mexicanos.
Embora os “mareros”
salvadorenhos sejam revendedores de drogas no varejo, seus recursos vêm
sobretudo da extorsão, “la renta”, praticada nos bairros populares que eles
controlam. Entre seu faturamento e o lucro dos traficantes mexicanos (US$ 250
bilhões em dez anos), há uma diferença de vários zeros. Os “mareros” que
aceitaram a trégua estão buscando uma possível reinserção social. O
narcotráfico não está disposto a abrir mão de seu lucrativo negócio.
O dia a dia dos mexicanos
se torna um inferno com as descobertas macabras, a indústria do sequestro, as
extorsões, os roubos, as agressões... Mas, supondo que a via das negociações
pudesse ser considerada, com quem se conversaria? Os líderes das “maras” se
encontram nos presídios salvadorenhos. Já os chefes dos cartéis logo são
substituídos quando são presos. Em El Salvador, bastou negociar com as duas
principais “maras”. No México, a repressão fragmentou os cartéis e as gangues
em uma dezena de bandos. Apesar da impaciência dos mexicanos e da dor das
vítimas, não parece haver um atalho para o restabelecimento da ordem pública.
Tradutor: Lana Lim
Reportagem
de Paulo A. Paranagua
foto:wwp.greenwichmeantime.com
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