11/08/2012

El Salvador explora terceira via contra crime organizado


Para tentar conter o surto de violência que a América Central tem enfrentado, as autoridades tentaram os caminhos da repressão e da prevenção. Haveria uma terceira via, a negociação com o crime organizado? A questão merece ser levantada no México, depois da vitória do Partido Revolucionário Institucional (PRI, centro) nas últimas eleições, e do sucesso da trégua entre as “maras”, os bandos de jovens ultraviolentos, em El Salvador.
A trégua entre a Mara Salvatrucha e a Barrio 18 foi negociada pelo bispo Fabio Colindres, capelão do exército salvadorenho. Em março, os chefes dos dois principais bandos de El Salvador ordenaram que suas tropas parassem de resolver suas diferenças por meio da violência. Desde então, o número de homicídios caiu mais de 50%. Com 70 homicídios para 100 mil habitantes em 2011, El Salvador encabeçava a lista dos países mais violentos do mundo, logo à frente de Honduras, também devastada pelas “maras”. “Não gosto de falar em trégua, prefiro falar em processo de paz”, declarou Dom Colindres.
Depois de ter negado em março o envolvimento do governo no processo, o general David Munguia Payés, ministro salvadorenho da Justiça e da Segurança Pública, agora reivindica o avanço daquilo que se chama de uma “terceira via”. Poderia o México, que vem sofrendo uma alta vertiginosa dos homicídios desde 2007, se inspirar nessa experiência? Muitos mexicanos, para quem o PRI é sinônimo de autoritarismo e de corrupção, acreditam que o ex-partido hegemônico está disposto a negociar com os cartéis do narcotráfico.
Um negócio muito lucrativo
Essa percepção é uma mistura de desconfiança e esperança. Uma desconfiança alimentada pela cumplicidade demonstrada entre políticos e traficantes. Mas isso também remete a uma certa nostalgia, ou até idealização, da relativa tranquilidade que reinava na época em que o PRI estava no poder.
“Não haverá nem pacto nem trégua com o crime organizado”, garantiu Enrique Peña Nieto, candidato do PRI vencedor das eleições presidenciais. Independentemente da vontade política, as diferenças entre o “pequeno” El Salvador e o “imenso” México tornam problemática uma possível “terceira via” com os cartéis mexicanos.
Embora os “mareros” salvadorenhos sejam revendedores de drogas no varejo, seus recursos vêm sobretudo da extorsão, “la renta”, praticada nos bairros populares que eles controlam. Entre seu faturamento e o lucro dos traficantes mexicanos (US$ 250 bilhões em dez anos), há uma diferença de vários zeros. Os “mareros” que aceitaram a trégua estão buscando uma possível reinserção social. O narcotráfico não está disposto a abrir mão de seu lucrativo negócio.
O dia a dia dos mexicanos se torna um inferno com as descobertas macabras, a indústria do sequestro, as extorsões, os roubos, as agressões... Mas, supondo que a via das negociações pudesse ser considerada, com quem se conversaria? Os líderes das “maras” se encontram nos presídios salvadorenhos. Já os chefes dos cartéis logo são substituídos quando são presos. Em El Salvador, bastou negociar com as duas principais “maras”. No México, a repressão fragmentou os cartéis e as gangues em uma dezena de bandos. Apesar da impaciência dos mexicanos e da dor das vítimas, não parece haver um atalho para o restabelecimento da ordem pública.


Tradutor: Lana Lim
Reportagem de Paulo A. Paranagua
foto:wwp.greenwichmeantime.com

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