19/02/2012

Onda crescente de ataques com ácido contra mulheres assusta Colômbia


“Ele passou o braço por debaixo do meu. Me virei assustada, então ele lançou esse líquido no meu rosto. Depois, tentou tomar minha bolsa, mas não o deixei”. Enquanto conta, Luz Adriana Cifuentes, se cansa ao mover os lábios, que, com um único olho, são as únicas partes do rosto que não estão cobertas com vendas. No último dia 19 de janeiro, quando saía de casa, no sudoeste de Bogotá, para ir ao trabalho, Luz foi atacada com ácido por um desconhecido.

O caso de Luz Adriana não é o único, mas sim mais um de uma série crescente de ataques com ácido a mulheres na Colômbia. Nos últimos 15 anos, foram denunciados pelo menos 24 casos, quase todos ocorridos na cidade de Bogotá, mas as autoridades acreditam que ainda há muitos mais.


“Levantei-me como pude. Meu rosto já doía muito, não podia abrir bem os olhos, não podia ver, saí gritando para que me ajudassem. Meu filho saiu chorando e me trouxe água para lavar o rosto. Logo me ajudou a pegar um táxi e eu fui para o hospital”, contou a mulher ao Opera Mundi.

O irmão, Alexander Cifuentes, não entende o que aconteceu já que Luz “não tem inimigos em nenhum lugar, nem no trabalho e nem na vizinhança, não deve dinheiro a ninguém e muito menos tem ideia de quem poderia fazer”.

A doutora Linda Guerrero, diretora da Fundação de Vítimas de Queimaduras, que ajuda na recuperação física e psicológica dessas mulheres, sustenta que a gravidade deste tipo de violência é que o criminoso, muitas vezes, diferentemente do caso de Luz, é uma pessoa que teve alguma relação sentimental com a vítima e busca vingança. Por isso, não apenas quer fazer visível a agressão, como também deixa na vítima uma marca para a vida toda, que se torna um estigma estético e social. “Vou desfigurá-la para que não seja de mais ninguém”, explica.

Para confirmar a teoria da médica há, por exemplo, o caso de Olga Lucia Galindo que, em 2008, quando tinha 19 anos, foi atingida com gasolina e ácido muriático pelo ex-companheiro, que também lhe ateou fogo.

No mesmo ano, Dagoberto Rodríguez, de 23 anos, mandou queimar com ácido sulfúrico sua ex-noiva de 14 anos, e para isso pagou um menino de 12 anos o equivalente a US$ 1,50.

Dois anos depois, Gloria Liliana, de 26 anos, foi atacada com ácido por seu ex-companheiro: “em sua cara vou cagar e com a lei vou limpar o c...”, lhe havia prometido.

Pena branda

E tinha razão, na Colômbia este delito é tipificado como “danos pessoais” e por isso possui uma condenação máxima de quatro anos, sem prisão preventiva. A fundação de vítimas de queimaduras espera que se possa mudar a jurisprudência. Da mesma forma pensa o ex-vice-procurador Francisco José Sintura: “o delito está absolutamente mal qualificado, porque tem a característica de até uma tentativa de homicídio”.

O certo é que as vítimas ficam para o resto da vida com as sequelas físicas da agressão, sejam físicas ou psicológicas.

Consuelo Rosaura Cañate, de 51 anos, usa uma máscara que cobra seu rosto há mais de 10 anos. Pois, mesmo com dezenas de operações, as feridas ainda a incomodam. “Me chamam de monstro ou de indigente e os ônibus não param quando me vêem”, comenta.

Ainda que sejam crimes que aconteçam em situações socioeconômicas baixas, há exceções, como a história da modelo Maria Fernanda Núñez Gutiérrez que, há quase um ano, foi atacada no dia anterior à competição de senhorita Santander, no qual era considerada a mais favorita para conquistar o acesso à competição nacional. Maria Fernanda conseguiu sobreviver mas, infelizmente, não salvou a carreira.

Estudo

Esta série de crimes que não tem paralelo na região, mas que acontecem em alguns países da Ásia, como Bangladesh, está inscrito em um cenário de extremas violações às mulheres.Em um estudo de 2010 publicado pela organização Oxfam, pelo Coletivo de Advogados José Alencar Restrepo e pela Casa da Mulher, entre outros, estima-se que entre 2001 e 2009 quase 500 mil mulheres colombianas em zonas de conflito tenham sido vítimas diretas de algum tipo de violência sexual, tais como: estupro, assédio, imposições sociais, gravidez forçada, aborto forçado, esterilização forçada ou prostituição forçada.



foto:jornalgospelnews.com.br

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