Apesar de o Brasil mostrar sinais cada vez mais frequentes de que vai passar com poucas turbulências pela crise mundial, a sétima economia do mundo enriquece sem resolver os seus problemas mais básicos. Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), as disparidades regionais na coleta de esgoto permaneceram inalteradas no Brasil entre 2000 e 2008.
Para o órgão, enquanto 95% dos municípios do Sudeste têm rede de esgoto, na região Norte a taxa fica próxima à verificada em países africanos: o serviço não abrange mais que 13% das cidades, e mesmo nos municípios onde chega, há regiões em que a coleta de esgoto não ultrapassa 3,5% dos domicílios.
O dado alarmante faz parte do Atlas de Saneamento 2011, divulgado nesta quarta-feira (19) pelo IBGE, com base nos dados da Pesquisa Nacional de Saneamento Básico de 2008.
A gerente da pesquisa, Daniela Santos Barreto, reitera que no período foram feitos investimentos, mas eles muitas vezes estavam concentrados nas regiões já ricas do país. Além disso, reforça que muito do dinheiro gasto com as redes é usado para manutenção, dificultando assim que o acesso universal tanto à rede de água quanto à coleta de esgotos seja alcançado nas regiões mais pobres.
- De fato este é um dos grandes nós para o desenvolvimento do pais, a política de saneamento. Investimentos tem sido feitos mas as pesquisas indicam que ainda há uma grande carência em certas áreas, principalmente Norte e Nordeste. Algumas regiões sempre ficam à margem das políticas de saneamento.
Daniela ressalta ainda que é preciso tratar e coletar o esgoto em mais da metade dos municípios brasileiros, assim como também é necessário ampliar os serviços em locais onde ainda não chegaram. “Há casos de municípios que tem redes coletoras mas não possuem tratamento adequado”, reitera.
Excluindo a região Sudeste – onde se localizam as áreas mais ricas do país -, as demais regiões contam com rede de esgoto em menos de 50% dos municípios: 13,2% no Norte, 28,3% no Centro-Oeste , 39,7% no Sul e 45,6% no Nordeste. A única exceção fica por conta do município de Itapura (SP), que não possuía rede de esgoto em 2008.
O levantamento do IBGE revela que as autoridades e o poder público não conseguem acompanhar o ritmo do crescimento da populacional nestas áreas, assim deixam de com levar a esse contingente serviços básicos (e de qualidade). Esta situação embora esteja presente ao longo de todo o território brasileiro, fica ainda mais evidente nas regiões de fronteira, aponta Amanda Estela Guerra, pesquisadora da Coordenação de Geografia do IBGE.
Segundo ela, a situação é alarmante no eixo Manaus (AM)-Santarém (AM) e no eixo Belém (PA)-Marabá (PA).
Incidência de doenças e desperdício de águaNão é coincidência a pesquisa constatar que as regiões Norte, Nordeste e Centro-oeste, que possuem os piores indicadores quando o assunto é saneamento básico, também apresentarem as piores taxas de internação por doenças diretamente ligadas ao tratamento de água. As regiões Norte e Nordeste registram índices africanos quando o assunto é taxa de internação por diarreia. No ano de 2009, os valores verificados nestas áreas chegavam a ser até 22 vezes superiores às observadas na região Sudeste. Além disso, o desperdício e baixa qualidade do serviço também são fatores que contribuem para dificultar o acesso universal ao sistema. Analisando os dados da pesquisa, percebe-se que nos municípios com menos de 100 mil habitantes (cerca de 45%), as perdas também são menores, chegando a 20%. No entanto, na parcela de cidades com mais de 100 mil habitantes (cerca de 60%), o desperdício fica entre 20% e 50%. Segundo Amanda, o levantamento não consegue mostrar as causas das perdas, mas pode dar um panorama para que as autoridades consigam traçar metas mais eficazes para estas regiões. - A pesquisa não levanta as causas das perdas, investiga apenas o percentual do desperdício que as entidades operadoras possuem. A gente percebe que tem muito furto além da própria ineficiência do sistema, Com esses dados em mãos, as autoidades poderão traçar políticas públicas de saneamento básico mais eficientes. A pesquisa é divulgada no mesmo dia em que começa no Rio de Janeiro, a primeira conferência mundial da OMS (Organização Mundial da Saúde), com a presença de mais de cem ministros da saúde, para discutir políticas que busquem soluções para questões sociais que estão na base dos problemas de saúde das populações e que podem trazer desenvolvimento econômico aos países.
Reportagem de Sergio Vietra
http://noticias.r7.com/cidades/noticias/brasil-enriquece-mas-ainda-tem-indicadores-basicos-de-terceiro-mundo-20111019.html
foto:iguatu.org
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