Mais uma matéria sobre meio ambiente. Desta vez a notícia é de uma iniciativa da Comunidade Européia que busca minimizar dois problemas com uma ação: diminuir a taxa de desemprego e também a sujeira no Mediterrâneo.
O Mediterrâneo banha 21 países |
Mares e oceanos dão cada vez menos pesca, o que reduz a capacidade de emprego do setor pesqueiro, e oferecem, entretanto, inúmeros dejetos plásticos, com incontáveis efeitos indesejáveis. Um duplo problema cada vez mais agudo, para o qual a comissária de Pesca da UE, a grega Maria Damanaki, acredita ter encontrado a solução: a captura de plásticos. "Isso tem muitos benefícios", diz a comissária. "Haverá resultados em termos de despoluição, e os pescadores poderão trabalhar em épocas em que não podem pescar." À falta de outras reações, a patronal europeia de reciclagem de plásticos aplaude a iniciativa. Pescadores e industriais, acompanhados de autoridades locais e deputados europeus, preveem lançar no final do mês um projeto piloto sobre pesca de plástico na Costa Azul.
O Mediterrâneo, berço da civilização ocidental, mar de três continentes, está se transformando lenta e decididamente em um "lixão". No último verão, um estudo franco-belga estimou que suas águas azuis escondem 250 bilhões de pequenos objetos plásticos e que cerca de 500 toneladas de plástico já estão dissolvidas entre as ondas. Uma corrida para a morte, diante da rapidez com que os seres humanos destroem o entorno e a lentidão, próxima a um século, com que se renovam as águas do mar de Ulisses, nas quais vivem, conforme dados da comissão, 6% das espécies marinhas, embora somente 1% quantitativo. "As coisas não podem continuar assim", declarou a comissária Damanaki há um mês em Atenas, em uma conferência internacional sobre poluição do Mediterrâneo por dejetos plásticos.
Atacar o problema na raiz (educação, controles e sanções, redução de objetos que podem ser atirados ao mar, como as onipresentes sacolas plásticas) talvez não seja suficiente, segundo as estimativas de Bruxelas, que também pensa em outros mares e oceanos, não só no martirizado Mediterrâneo. "O Fundo Europeu da Pesca [FEP] oferece ao setor pesqueiro a possibilidade de desenvolver projetos a favor da conservação do meio marinho", indica Damanaki. "Por exemplo, a pesca de embalagens."
Ela vê vantagem na ideia, como salientou em Atenas, e não só devido à despoluição das águas, mas porque muitos dos dejetos são recicláveis, "o que também trará benefícios econômicos", indica a comissária. "Por outro lado, os pescadores terão outro tipo de atividade e receitas adicionais."
A ideia, que não é uma iniciativa legislativa nem um plano que a comissão pretenda impor aos governos, é só uma sugestão quase sem repercussão nas capitais europeias, que como administradores do Fundo Europeu da Pesca têm a última palavra. A Espanha dispõe de 1,13 bilhão de euros destinados a esse fundo para o período 2007-2013. A administração pesqueira espanhola valoriza essa iniciativa, que "permite diversificar a atividade pesqueira em determinados períodos, como são as temporadas de defeso; representam uma renda complementar ao coletivo de pescadores e um indiscutível benefício ambiental". Além disso, dizem no Ministério do Meio Ambiente, "os pescadores têm uma ampla experiência e um profundo conhecimento do meio marinho, e nesse sentido podem ser peças chaves para atuar nesse tipo de novas atividades".
O setor de reciclagem de plásticos da Alemanha, França e Dinamarca aplaude o plano e já está mobilizado. "No ano passado se pagaram na França, com o apoio do fundo, 375 euros por tonelada de plásticos recuperada, e foram recolhidas cerca de 1 mil toneladas", afirma Oliver Drewes, porta-voz de Damanaki.
Eram dejetos capturados sem intenção pelas redes dos pescadores, os quais agora a Associação Europeia de Reciclagem de Plástico (EuPC) quer, com a ajuda da comissão e suas subvenções pesqueiras, ver transformados em pescadores de lixo flutuante. A patronal fala em complementar o FEP com contribuições próprias para o pagamento das redes especiais necessárias para o objetivo, que hoje custam de 16 mil a 40 mil euros, conforme o tamanho.
A nova rede é uma adaptação da criada para o controle de vazamentos de petróleo, que agora cercará e capturará plásticos e outros objetos flutuantes. "A rede é totalmente feita de plástico", salienta Alexandre Dangis, diretor do EuPC, no site da organização. "Não captura peixes e é 100% reciclável." A malha é uma invenção de Thiery Thomazeau, um ex-pescador francês, que calcula que com ela se podem recolher entre 2 e 8 toneladas de dejetos flutuantes, em função do tamanho do aparelho. Segundo ele, "o plano poderia criar novas oportunidades para os pescadores jovens, que agora passam mal economicamente e duvidam do futuro da profissão", declara no mesmo site.
No próximo dia 20, nas águas da delicada Saint-Jean Cap-Ferrat (Costa Azul francesa), onde a patronal europeia da reciclagem de plásticos prevê realizar sua assembleia anual, será lançado o plano piloto, que também deverá se desenvolver em outras três localidades da costa atlântica. Na operação intervirão barcos adaptados para a missão, cujas capturas não serão descarregadas no mercado, e sim transportadas para usinas de reciclagem.
Texto de Ricardo Martínez de Rituerto para o jornal espanhol El País (http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/elpais/2011/05/10/comissao-europeia-propoe-que-pescadores-desempregados-recolham-embalagens-no-mar.jhtm)
foto: odiariodapinkinha.blogs.sapo.pt
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