22/09/2016

Por que temos a sensação de cair quando adormecemos?

Artigo de Jason Ellis,catedrático de Ciências do Sono na Universidade de Northumbria, Newcastle. Este artigo foi publicado originalmente em inglês no site The Conversation.




Deveria ser um dos momentos mais relaxantes do dia. Vamos para a cama, ficamos cômodos e quentinhos, começamos a sentir como nosso cérebro se desacelera… e de repente experimentamos a perturbadora sensação de que estamos caindo. É como se a gente calculasse mal o número de degraus ao descer a escada e deixasse a perna no ar um momento a mais que o esperado. Não é agradável.
Essa sensação de cair quando estamos na cama é o fenômeno conhecido como “espasmo hípnico” e pode ser acompanhada por uma alucinação visual. Talvez você já tenha ouvido chamarem isso de sobressalto do sono, espasmo hipnagógico ou mioclonia, mas para não complicar, usaremos a primeira designação.
O espasmo hípnico ocorre quando os músculos, em geral os das pernas (embora possa ocorrer em todo o corpo), contraem-se rapidamente de forma involuntária, quase como um puxão ou um espasmo. Embora não se conheçam com exatidão as razões para isso, a perspectiva evolutiva sugere que esse fenômeno cumpre pelo menos duas funções relacionadas entre si, a primeira das quais mantém sua importância na atualidade.
Em primeiro lugar, esse despertar brusco nos permite vigiar pela última vez nosso ambiente, dá-nos a oportunidade de garantir que é realmente seguro dormir, criando uma resposta semelhante a um sobressalto. Afinal, é possível que tenhamos adormecido sem querer em um lugar perigoso.
Outra função evolutiva da qual falamos é que isso nos permitia – ou pelo menos permitia aos nossos primeiros ancestrais – comprovar a estabilidade de nossa posição corporal antes de dormir, principalmente se começávamos a adormecer em uma árvore. O espasmo nos permitia comprovar nosso “ponto de apoio” antes de entrar na inconsciência.
Uma outra teoria é a de que o espasmo hípnico é um mero sintoma de que nosso sistema fisiológico ativo cede finalmente, embora às vezes de forma relutante, ao impulso de dormir, passando de um controle motor ativo e voluntário a um estado de relaxamento e, finalmente, de paralisia corporal. Em essência, o espasmo hípnico pode ser um sinal de que finalmente a pessoa está passando do sistema ativador reticular do cérebro (que usa neurotransmissores excitatórios que promovem a vigília) ao núcleo pré-óptico ventrolateral (que utiliza neurotransmissores inibitórios para reduzir a vigília e propiciar o sono).
De qualquer forma, embora na maioria dos casos se trate de um fenômeno normal e natural, o espasmo hípnico pode ser uma experiência desconcertante ou aterradora. Em casos extremos – seja por sua frequência ou pela velocidade e violência do espasmo –, pode manter a pessoa acordada, impedindo-a de entrar em um processo normal de início do sono e provocando, a longo prazo, uma forma de insônia de conciliação.
Como o espasmo hípnico está relacionado com a atividade motora, é provável que tudo aquilo que mantém ativo nosso sistema motor à noite aumente as possibilidades de experimentar esse fenômeno, e possivelmente de modo mais intenso.
Assim, a cafeína (e outros estimulantes) e o exercício intenso no final do dia, assim como os níveis elevados de estresse e ansiedade à noite, são associados a uma maior probabilidade de que ocorra um espasmo hípnico. Por isso, na medida do possível, devem ser evitados. Outras razões poderiam ser o cansaço excessivo, a privação de sono ou os horários de sono irregulares. Neste caso, é importante manter um padrão regular de sono/vigília.
Por último, do ponto de vista nutricional, indicou-se que a deficiência de magnésio, cálcio ou ferro também pode aumentar as probabilidades de ter um espasmo hípnico espontâneo. Dito isso,insinuou-se também que os espasmos hípnicos poderiam ser causados pela estimulação sensorial durante o período de início do sono, de modo que garantir um ambiente fresco, escuro e tranquilo para dormir pode ajudar a reduzir a frequência e a intensidade dessas sacudidas.
O fato é que há muito pouca investigação sobre o assunto, provavelmente porque se considera em grande medida um fenômeno normal, o que dificulta a proposta de um “tratamento” definitivo. No entanto, sabemos que, com a idade, o número de espasmos hípnicos que experimentamos deveria cair de forma natural. O mais importante quanto a isso é verificar se o espasmo hípnico causa problemas para você ou para a pessoa com quem divide a cama. Se for esse o caso, deverá consultar um especialista em sono. A dificuldade é que há diversos transtornos, como a apneia do sono, que produzem sintomas parecidos com essa experiência.
E se todo o resto falhar, sempre podemos jogar a culpa nos nossos antepassados.



fonte:http://brasil.elpais.com/brasil/2016/07/27/ciencia/1469632885_965986.html
foto:http://www.sonharcom.net/sonhar-com-queda/

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