"Há 30 anos,
percebi que a escravidão humana e o analfabetismo são dois lados da mesma
moeda." A frase é de Kailash Satyarthi (foto acima), ganhador do Nobel da Paz 2014 que
atua pelo fim do trabalho infantil e escravo desde 1980 e pelo direito à
educação.
Dando continuidade ao
pensamento acima, o indiano contou, durante uma aula pública em São Paulo, a
história de uma garota que trabalhava numa fábrica de tijolos. "Não
recebia nada, nunca podia sair, não tinha acesso à saúde." Ela foi salva
por uma das missões secretas de resgate feitas por Kailashi, mas acabou
falecendo por conta de uma tuberculose. Tudo isso aos 14 anos.
"Não quero morrer
foram suas últimas palavras. No dia seguinte, levamos seu corpo ao hospital. O
pai precisava assinar uma certidão de óbito, mas não conseguiu. Ele disse:
'Senhores, se eu conseguisse ler e assinar, minha filha não teria
morrido", conta o Nobel.
O pai da jovem se
referia ao momento em que "assinou" o contrato de trabalho com sua
digital. Se ele tivesse conseguido ler o documento, ele saberia que o trabalho
era perpétuo e que ele e sua família nunca poderiam deixar aquele lugar.
"A educação para o pai [da jovem] foi questão de vida e morte",
refletiu Kailashi.
"Impedir a educação é crime"
Na visão do ativista
indiano, vivemos um círculo vicioso, no qual as mais de 160 milhões de crianças
que trabalham são filhas dos mais de 200 milhões de adultos que não trabalham.
"É impossível
acabar com a escravidão sem acabar com o analfabetismo. Estamos em 2016 e ainda
há crianças privadas da educação. A educação é o meio para o progresso e a
chave para abrir o seu futuro. Ela pode trazer justiça e igualdade
social."
Segundo o ativista,
existem no mundo 168 milhões de crianças no trabalho infantil. Além disso, 59
milhões no mundo nunca foram para a escola e 120 milhões saíram antes de
aprender a escrever, a ler e coisas básicas de matemática.
Como solução para o
problema, o indiano reforça que a sociedade civil precisa exigir que os
governos sejam de fato responsáveis pela educação. Afinal, "negar a
educação é violar um direito humano. Impedi-la é um crime."
Ocupações
Na aula pública,
organizada pela Campanha Nacional pelo Direito à Educação, estiveram presentes
estudantes que ocuparam escolas estaduais de São Paulo contra o projeto de
reorganização proposto pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB).
No encontro, Kailashi afirmou aos jovens que
sofreu abusos policiais durante a juventude enquanto defendia melhorias na
educação. "Quando eu tinha 13 anos, fui preso pela polícia porque tentava
ir contra [a entrada do idioma] o inglês no currículo escolar. Fui preso e
apanhei como vocês. Mas se pudesse, faria tudo de novo", disse.
Reportagem de Bruna Souza Cruz e Lucas Rodrigues
foto:http://www.inpacto.org.br/2016/01/agenda-ethos-e-inpacto-trazem-a-sao-paulo-o-nobel-da-paz-kailash-satyarthi/
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Obrigada pela visita e pelo comentário!