Carmen Gloria Quintana no túmulo do jovem queimado vivo juntamente com ela, Rodrigo Rojas, por militares da ditadura de Pinochet. |
Carmen Gloria Quintana, chilena que
juntamente com o estudante Rodrigo Rojas, em 1986, foi queimada viva por
militares da ditadura de Augusto Pinochet, divulga o nascimento do “Movimento
pela Democratização das FA [Forças Armadas] e da Ordem”. Pretende reunir 1
milhão de assinaturas para serem apresentadas à presidenta Michelle Bachelet,
para que se deem passos nessa direção.
Carmen Gloria assinala que “está claro
que as FA não são de todo o povo, mas de um setor e uma classe política, por
isso, nós chamamos a que voltem a ser de todo o povo, em honra de O’Higgins e
Carrera [Fundadores do Chile], como era antigamente”.
A iniciativa é encabeçada ademais por
María Paz Santibáñez, o ator Benjamin Vicuña, o Agrupamento de Familiares de
Executados Políticos (Afep), a Confech [Confederação de Estudantes do Chile], o
Agrupamento de Familiares de Detidos Desaparecidos (AFDD), a Defensoria Popular
e a Comissão Funa, entre outras.
Entre as demandas que apresentam ao
governo estão: colocar fim à política institucional de encobrimento das
violações de direitos humanos; eliminar as cláusulas de sigilo que
encobrem os nomes de quem foi denunciado como torturadores no Informe
Valech; e rebaixamento de patente de todos os membros das Forças
Armadas envolvidos em delitos de lesa-humanidade. Além disso pedem o fim
das altas pensões e privilégios que gozam os militares processados ou condenados
por violações aos direitos humanos; o fim dos 10% da Lei Reservada do Cobre,
que têm as FA e a destinação destes recursos para a saúde e educação; ingresso
democrático e amplo nas escolas matrizes das Forças Armadas; entre outras
demandas.
Carmen Gloria Quintana foi queimada viva
por uma patrulha militar, em 2 de julho de 1986, acontecimento no qual faleceu
o fotógrafo Rodrigo Rojas de Negri, de apenas 19 anos, e que a deixou com
graves lesões. Ela diz que, a partir do testemunho do oficial Fernando
Guzmán, “revelou-se o que muitos sabíamos, mas que não tínhamos provas: no
interior das FA existe um pacto de silêncio para encobrir todos os crimes de
violações aos direitos humanos e escapar da responsabilidade frente à justiça”.
Carmen assinala que “o Exército e as FA
não dão nenhum sinal de estarem submetidos ao poder civil” e que “o ministro da
Defesa, na minha opinião, parece mais bem um porta-voz das FA do que um
ministro político”.
Carmen recorda que o comandante chefe do
Exército, general Humberto Oviedo, na Comissão de Defesa da Câmara dos
Deputados, fez pouco caso das vítimas “dizendo que o Exército havia entregado
todas as informações e que os militares guardavam seu direito de reter
informação e isto me parece imoral de um comandante chefe, que está formando
jovens que vão ser os que defenderão nosso país”.
“Chegou o momento de que as Forças
Armadas, Carabineiros do Chile [correspondente à Polícia Militar], a Polícia de
Investigações e a Guarda recuperem sua honra ante a sociedade chilena, que
demonstrem que pertencem a todos os chilenos e não somente a quem colaborou com
a ditadura, que se comprometam com o respeito irrestrito dos valores
democráticos e dos Direitos Humanos, pois até agora têm demonstrado o
contrário, ainda seguem honrando os assassinos, protegendo muitos dos que
mataram e torturaram”, indica.
Valentina Saavedra, presidenta da Fech
[Federação de Estudantes], expressa seu apoio à iniciativa e diz, ademais, que
“o que, hoje demandamos, quando defendemos o direito à educação, quando os
trabalhadores exigem seus direitos trabalhistas, quando as mulheres lutamos
pelo direito ao aborto, finalmente o que estamos fazendo é erradicar tudo o que
deixou a ditadura”. Consultada sobre o treinamento que as Forças Armadas
continuam recebendo nos Estados Unidos, aonde são enviados a cada ano ao redor
de 200 militares, assinala que “está dentro das nossas demandas que o Chile não
envie mais soldados à Escola das Américas, que sejam revelados e tornados
públicas os maus currículos, aos quais eles se submetem porque seguir com a
lógica do inimigo interno é seguir com a lógica da Guerra Fria. Eu creio que
isso já terminou, aparentemente”.
Sobre a responsabilidade de civis nas
violações aos direitos humanos, Alicia Lira, presidenta do Afep, indica que sua
organização apresentou uma querela contra os instigadores e executores do golpe
de Estado cívico-militar.
“No Massacre de Laja – assinala a
dirigente – fica claro que o empresário que entrega a lista dos trabalhadores
aos carabineiros atua em cumplicidade e convivem juntos”.
O Massacre de Laja ocorreu uma semana
depois do golpe de Estado no Chile, em 11 de setembro de 1973. Então, um
pelotão de carabineiros assassinou 19 pessoas pertencentes às localidades de
Laja e San Rosendo.
Reportagem de Pablo Ruiz
fonte:http://outraspalavras.net/outrasmidias/destaque-outras-midias/chile-abre-campanha-para-democratizar-forcas-armadas/
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