22/04/2015

Petrobras reconhece perda de 6,2 bilhões de reais com a corrupção


Os desvios identificados com a operação Lava Jato somaram uma perda de 6,2 bilhões de reais na Petrobras, informou o gerente executivo da companhia, Mario Jorge Silva. O valor se refere às perdas entre 2004 e 2012, referentes a “gastos adicionais [em média de 3% de sobrepreço] ao contratar empresas membros do cartel em ativos pagos e não utilizados”. A companhia teve acesso aos depoimentos da Lava Jato o que ajudou a reconhecer a existência de 27 empresas fornecedoras da Petrobras, que trabalhavam no sistema de cartel.
A empresa registrou um prejuízo de 21,6 bilhões de reais, fruto da desvalorização de seus ativos no total de 44,6 bilhões de reais. Esse ajuste negativo no valor de seus ativos se deve a uma conjunto de fatores: postergação de projetos estratégicos, como o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), da desvalorização do real e da redução de demanda por matérias-primas.
Antes de Silva detalhar os números, o presidente da companhia, Aldemir Bendine, disse que com a divulgação do balanço da empresa estava dando um passo fundamental para a restaurar a credibilidade da Petrobras. “Caminhamos rumo ao esclarecimento completo dos desvios da companhia, que vinham corroendo o patrimônio de seus acionistas e de todos os brasileiros”, disse Bendine.

Corrupção

Dos 6,2 bilhões de reais em perdas com corrupção, a maior parte (55%) ocorreu na área de abastecimento - com baixa de 3,326 bilhões de reais. Gás e Energia respondeu por 637 milhões das perdas. As áreas de Distribuição e Internacional tiveram baixas de R$ 23 milhões cada uma, ao passo que o Corporativo da companhia teve perda de R$ 99 milhões.
De acordo com Edson Daniel Lopes Gonçalves, pesquisador do Centro de Estudos em Regulação e Infraestrutura da FGV, as perdas registradas pela estatal em relação à corrupção estão dentro das expectativas divulgadas nos últimos dias. "A base utilizada na metodologia foi calcular o valor dos contratos suspeitos citados na Operação Lava Jato e aplicar um percentual fixo de 3% sobre o valor total, para calcular os gastos adicionais. Já estavam estimado um valor parecido ao apresentado".
Para o especialista, o que mais chama atenção é a soma da desvalorização dos ativos - o chamado "impairment"- que chegou a 44,6 bilhões de rais, mais a baixa contábil pelo esquema de pagamentos indevidos de 6,2 bilhões. "O total chega a 50,8 bilhões de reais, muito distante de uma primeira estimativa, apresentada em janeiro, que estimava perdas de 88 bilhões de reais. É importante que eles divulguem melhor a metodologia. Essa diferença merece ser explicada com cuidado", afirma.
Segundo Bendine, a diferença entre os 88 bilhões - cifra que é citada como um dos motivos da demissão de Graça Foster do comando da Petrobras-  e os 44,6 bilhões se deve à metodologia empregada nos dois momentos. No balanço do terceiro trimestre de 2014 divulgado no final de janeiro, a empresa calculou os valores levando em conta o que seria um preço justo para a venda de ativos. "No impairment, trabalhamos o preço do seu ativo a valor presente", disse Bendine.
Na opinião de Lopes, a divulgação é um grande passo para a estatal e para a economia brasileira. "Caso contrário, a Petrobras sofreria com algumas cláusulas com a não divulgação, como a de pagamento adiantado das dívidas. A perspectiva agora é de melhora das contas da estatal principalmente pela mudança do conselho da estatal", explica.

Investimentos futuros

Apesar do prejuízo, o balanço da companhia mostra que a receita de vendas cresceu 11% no ano passado, na comparação com 2013, para R$ 337 bilhões.
No ano passado, o lucro bruto da estatal cresceu 15% em relação a 2013, alcançando 80,4 bilhões de reais, refletindo o aumento da demanda e maiores preços de venda de derivados no mercado interno em virtude dos reajustes no diesel e na gasolina em 2013 e 2014.
Ainda segundo o balanço da Petrobras, os maiores preços de energia e gás natural também contribuíram para a elevação do lucro bruto. Já o resultado financeiro líquido foi negativo em 3,9 bilhões de reais.
A estatal pretende investir 29 bilhões neste ano, contra a previsão de 31 bilhões a 33 bilhões. Para o ano que vem, a estatal projeta investimentos menores, de cerca de 25 bilhões de reais. A previsão para 2015 é de arrecadar 3 bilhões de dólares com vendas de ativos.
Bendine insistiu, no entanto, que a Petrobras não deve vender ativos do pré-sal: "Volta a reafirmar que não tem interesse de desinvestimento e ativos do pré-sal", disse.
A expectativa da Petrobras é encerrar o ano com caixa de 20 bilhões de dólares, contra saldo inicial de 26 bilhões. A geração operacional da empresa deve totalizar 23 bilhões de dólares em 2015.

Produção

A estatal divulgou a meta de produção para o próximo de ano de 2,886 milhões de barris por dia, um aumento de 2%. Para este ano, a produção projetada é de 2,796 milhões por dia.
A produção total, no Brasil e no exterior, em 2014, atingiu a média diária de 2 milhões 699 mil barris de óleo equivalente, que representa um crescimento de 5,1%  em relação ao ano anterior.

Reportagem de Carla Jiménez e Heloísa Mendonça
fonte:http://brasil.elpais.com/brasil/2015/04/23/politica/1429744001_078177.html
foto:http://tribunadainternet.com.br/na-petrobras-havia-represalias-para-quem-nao-aceitava-corrupcao/

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