Esperado desde novembro do ano passado, o balanço auditado da
Petrobras referente ao terceiro trimestre de 2014 e ao ano fechado será
finalmente divulgado nesta quarta-feira. O atraso de 160 dias decorre dos
desdobramentos da Operação Lava Jato, que levaram a estatal ao centro de um
turbilhão de denúncias envolvendo pagamento de propina a ex-diretores e obras
superfaturadas. O mercado aguarda com apreensão o relatório que deve apontar os
prejuízos causados pelo esquema de corrupção, além de detalhes sobre plano de
desinvestimento da empresa e a revisão do valor dos ativos. Só a expectativa de
apresentação do balanço fez com que as ações da Petrobras subissem 11% nos
últimos cinco dias.
Mais do que um grande
passo para reerguer a estatal, conforme alardeia o governo federal, a
apresentação do balanço é, antes de tudo, um imperativo: por contrato, credores
da Petrobras podem pedir o pagamento antecipado de seus empréstimos se a
estatal não informar seu demonstrativo financeiro. Em termos práticos, os
números auditados servem como base para investidores decidirem se a empresa
merece mais um voto de confiança. Com a demora na publicação dos resultados,
fica cada vez mais difícil (e caro) para a Petrobras captar recursos. Não à
toa, a maior fatia de seu último grande empréstimo foi conseguida junto a dois
bancos públicos: Banco do Brasil e Caixa.
"É como se a
companhia se destravasse. Com a divulgação do balanço, a companhia fica, dentro
do possível, apta para investir, cuidar de seus problemas, de seus
investimentos e negócios. Mas o mais importante é saber o que vem depois",
disse o estrategista-chefe da XP Investimentos, Celson Placido. Para o
economista, algumas diretrizes são indispensáveis para que a estatal consiga
fechar o caixa em 2015 e retomar a confiança do mercado: a venda de ativos, a
redução de investimentos, e principalmente, o fim da interferência do Estado
nos negócios da empresa.
O governo, por sua vez,
se empenha em limpar a imagem da estatal que foi tragada no turbilhão de
escândalos descobertos no âmbito da Lava Jato - três ex-diretores da alta
cúpula da estatal foram denunciados por corrupção passiva, sendo que um deles,
Paulo Roberto Costa, admitiu as fraudes e comprometeu-se a contribuir com as
investigações por meio de delação premiada. Enquanto Costa está em prisão
domiciliar, outros dois ex-dirigentes estão presos: Renato Duque e Nestor
Cerveró.
Num intento de fazer
coro ao Palácio do Planalto, o ministro da Fazenda Joaquim Levy afirmou que o
balanço será um marco para virar a página e acabar com a preocupação dos
investidores em relação à empresa. "A expectativa é de que teremos o
balanço auditado, e isso é algo muito bom. Marca um novo passo na reconstrução
da Petrobras. A principal questão é que isso vai acabar com essas
preocupações", afirmou Levy em evento em Nova York, nesta segunda-feira.
Analistas de mercado não
encaram o assunto com o mesmo otimismo. "Lógico que acalma o mercado. Uma
empresa do tamanho da Petrobras assusta quando fica quase um ano sem balanço.
Mas é uma calmaria passageira, pois ela tem muitos desafios pela frente para
voltar a ter lucratividade. O primeiro deles é saber se vai adotar uma política
de preços de combustível com previsibilidade ou uma política que ajuda a
controlar a inflação e a eleger candidatos do governo", afirma Adriano
Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIF). Sobre as últimas
declarações do ministro, Pires afirmou que o governo tenta criar um
"factóide", uma notícia positiva para a empresa em meio à profusão de
fatos negativos que a colocam nas páginas policiais dos jornais. "Balanço
auditado não é um passo para reconstrução, mas uma obrigação da empresa",
diz.
A apresentação do
balanço do terceiro trimestre já foi adiada duas vezes, uma em novembro e a
outra em dezembro do ano passado. A auditoria PriceWaterhouveCoopers (PwC),
responsável por chancelar os resultados financeiros da Petrobras, recusou-se a
assinar o relatório até que as perdas com a corrupção fossem conhecidas. Ao dar
seu aval para um balanço, em última instância, falso, a auditoria também pode
ser responsabilizada. Agora, tudo indica, a PwC chegou a um consenso sobre os
números.
A maior preocupação dos
investidores, que viram o valor de mercado da empresa despencar 20% em um ano,
será a revisão no preço dos ativos da empresa, tendo em vista o fato de muitos
de seus contratos terem sido superfaturados. Investigações da Lava Jato
detectaram irregularidades em obras no Complexo Petroquímico do Rio (Comperj),
na Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, e na refinaria de Pasadena, no Texas.
Informações obtidas pelo jornal Valor
Econômico apontam que
a Petrobras deve reportar perdas entre 14 a 28 bilhões de reais em valor de ativos no balanço que deve
sair nesta quarta. Desse montante, os prejuízos referentes à corrupção ficariam
entre 4 e 8 bilhões de reais.
Em janeiro deste ano,
sem o aval da Pwc, a Petrobras publicou um balanço do terceiro trimestre de
2014 apontando uma queda de 38% no lucro em relação aos três meses anteriores.
Os números não foram bem recebidos pelo mercado por não indicarem as perdas com
a corrupção, o que levou as ações da estatal a despencarem na Bolsa. Uma
estimativa preliminar apresentada ao Conselho de Administração da estatal ainda
dava conta de que os ativos da empresa estavam supervalorizados em 88,6 bilhões
de reais - parte disso por causa da corrupção. O governo, no entanto, considerou
inadequada a metodologia para chegar ao cálculo e não a incluiu no balanço.
Isso criou uma indisposição entre a presidente Dilma e a então presidente da
Petrobras, Graça Foster. Resultado: dias depois, ela foi substituída pelo então
presidente do Banco do Brasil, Aldemir Bendine.
Para analistas de
mercado, os problemas da Petrobras vão muito além do anúncio do balanço.
Reconhecida internacionalmente nas áreas de prospecção, extração, refino e
distribuição de petróleo, a maior estatal do país viu o seu patrimônio se
esfacelar nos últimos anos. Enquanto o seu valor de mercado caiu
gradativamente, as despesas só aumentaram. De 2012 a 2014, sua dívida quase
dobrou: passou de 181 bilhões para 332 bilhões de reais - esse número a
transforma na petroleira mais endividada do mundo. O endividamento subiu ainda
mais diante dos novos empréstimos contraídos recentemente com a China e os
bancos públicos.
As dúvidas sobre a
capacidade da estatal de honrar tantos compromissos fez a agência de
classificação de risco Moody's rebaixar sua nota de crédito para o nível
especulativo. Não apenas a Lava Jato, mas também a perniciosa política de
controle de preços dos combustíveis para segurar a inflação, de autoria do
governo Dilma, motivaram a decisão da agência. "A situação da Petrobras é
como se fosse uma pessoa que tem muito dinheiro, mas que está completamente sem
liquidez. Ela mora na Zona Sul do Rio, tem uma casa em Angra e uma lancha. Mas
não recebe mais dinheiro porque foi demitida. Mesmo assim, ela continua gastando
e, por isso, precisa vender seus bens", resumiu Placido.
Reportagem de Eduardo Gonçalves
fonte:http://veja.abril.com.br/noticia/economia/petrobras-divulga-balanco-nesta-quarta-saiba-o-que-esta-em-jogo
foto:http://www.jornalnh.com.br/_conteudo/2015/01/noticias/regiao/124220-medidas-para-a-economia-e-balanco-da-petrobras-nas-charges-dos-jornais-de-sexta-feira.html
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