Artigo
de Clemency Burton-Hill , apresentadora
dos programas BBC Culture Show, Review Show y Radio 3 Weekend Breakfast. Autora
de vários romances, escreve para FT Weekend, Intelligent Life da The Economist
e The Guardian.
As imagens arrepiaram os 70 mil torcedores que estavam nas arquibancadas
e milhões de outros que as assistiam pela TV. Na abertura da Copa do Mundo,
jogadores da seleção brasileira e o público presente no estádio cantaram à
capela o hino nacional.
O coro, que continuou mesmo após a
interrupção da música, se repetiu nas partidas contra o México, Chile e
Colômbia. Jogadores de outras seleções como Colômbia, Uruguai, Inglaterra,
França e Estados Unidos também cantaram os hinos com fervor juntamente com seus
respectivos torcedores.
Essas melodias fazem aflorar as emoções
quando são tocadas antes de uma partida - mas é possível existir uma fórmula
para criar algo tão especial?
"Certamente há uma fórmula para a
criação dos hinos nacionais", disse à BBC o compositor Philip Sheppard.
Nos Jogos Olímpicos de Londres de 2012, os
205 hinos foram tocados por membros da Orquestra Filarmônica de Londres, e
Sheppard foi o responsável pelos arranjos.
"Muitos seguem o formato ocidental,
com uma marcha de ritmo bem marcado, frequentemente em bemol maior e com uma
melodia clichê realçada pelo toque de trompeta."
"Os hinos que fogem desse formato são
os que tendem a ser brilhantes. As canções que surgiram das ruas, que não foram
impostas pelo Estado, podem ser mágicas e verdadeiramente emocionantes",
acrescenta.
Ópera
italiana
Um exemplo é o meu hino de coração, a
Marselhesa, diz Sheppard: "Vem de algo autêntico, uma motivação
verdadeira. É uma peça revolucionária do povo francês".
"É o oposto dos hinos criados a pedido
de Estados, que podem ser confundidos entre si, gerando situações estranhas
como a de um hino de um país da África Central (como o de Camarões) ser
parecido com um hino da Europa Oriental."
Sheppard é fanático por hinos
latinoamericanos. "A América do Sul tem uma tradição de ópera no estilo
italiano", explica. "Muitos de seus hinos poderiam estar no La Scala
(teatro de Milão). São fabulosos e combinam com eventos esportivos."
"Se alguém escuta um desses hinos, do
Brasil, da Bolívia ou do Uruguai, com certeza se levantará", diz.
Ele acha que o hino do Brasil "combina
perfeitamente com a grande energia que emana do país".
Já o do Uruguai "dura seis minutos e
50 segundos, e tem cerca de seis melodias diferentes. É como uma obra completa
de Verdi!", diz rindo. "Receio que, além de serem vitoriosos no
futebol, também o são nos hinos..."
Dimensões
Mas ele reconhece que é difícil julgar
hinos a partir de um ponto de vista musical.
"A razão pela qual muitos hinos tem a
marcha como melodia básica é que são concebidos para envolver e reunir muitas
pessoas", destaca Sheppard.
"Como uma bandeira, o hino se
transforma num instrumento do Estado. E isso tem um potencional explosivo:
questionar um hino é arriscado, porque as pessoas vivem e morrem por ele. Seria
como ter uma opinião sobre o oxigênio. É o sangue que corre pela veia de uma
nação. Quem é capaz de julgar se tem algum mérito musical?"
Por essa razão, Sheppard - que recebeu
ameaças de morte em 2012 quando uma reportagem sobre os "dez piores
hinos", na qual ele era citado, tornou-se viral - prefere não dizer quais
melodias nacionais pecam em qualidade.
Mas, quando pergunto quais são seus
favoritos, ele cita o da Rússia.
"Gosto muito. Putin resgatou o antigo
hino soviético (da década de 1940). É uma peça musical impressionante. Soa como
uma canção revolucionária dos trabalhadores, mas tem uma elasticidade harmônica
que o torna muito bonito", explica.
fonte: http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/07/140703_wc2014_hinos_rb.shtml
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