Especialista em comportamento e tendência de consumo, Russell
Belk defende limites para o uso de dados de navegação dos usuários de internet
como forma de preservar a privacidade e evitar abusos.
A partir de uma busca na
internet por um produto, ele – o produto – passa a ‘apresentar-se’ ao potencial
consumidor em vários momentos do dia. De casa ou da rua, a partir do celular,
compra-se de ingressos para shows a aparelhos eletrônicos – e, como anunciou a
Amazon, pode-se adicionar um item ao carrinho de compras a partir de uma
hashtag. O mundo digital ampliou enormemente os canais entre compradores e
vendedores. Mas não necessariamente os avanços tecnológicos ocorrem em
benefício de mais liberdade de opções, livre concorrência e transparência
nas transações comerciais. As novas formas de consumir e os novos negócios que
a tecnologia proporciona serão temas da palestra que o professor americano
Russell Belk fará no Rio no próximo dia 14, no 5º
Encontro Internacional Coppead de Comportamento do Consumidor. Belk
é PhD em Marketing e um pensador dedicado ao comportamento dos consumidores. Em
entrevista por e-mail ao site de VEJA, defendeu restrições ao uso de dados de
internet de usuários – uma proposta atualmente em discussão nos Estados Unidos
– e arriscou uma ‘previsão’: a de que, em breve, com ferramentas como o Google
Glass, será possível comprar, literalmente, com um piscar de olhos. Leia os
principais trechos da entrevista:
Começou nos Estados Unidos a
discussão sobre a necessidade de se limitar o uso de dados de navegação de
usuários na internet para fins comerciais. Companhias como Google e Facebook
concentram grande poder pela quantidade de informações que detêm de seus
usuários. O uso do ‘big data’ traz, de fato, algum risco para o público?Sim, esse risco existe,
pois o cruzamento de dados pode conduzir a “falsos positivos”. Por exemplo, a
‘previsão’ de que determinada pessoa pode vir a contrair o vírus HIV, ou passar
a agir de determinada maneira. Mesmo o uso de grandes massas de dados, de forma
não identificada – ou seja, sem estabelecer vínculo entre um indivíduo e as
informações referentes a ele – pode ser algo perigoso. O risco, nesse caso,
deixa de ser no nível pessoal, para ocorrer em nível estatístico. Análises de
crédito, informações usadas por planos de saúde e dados de candidatos a
empregos podem ser afetados de forma negativa, caso não haja limite para o uso
dessas informações.
O comércio eletrônico oferece
aos consumidores imensa quantidade de opções de produtos, marcas, preços e
formas de pagamento. A sensação é de que a liberdade de escolha se ampliou.
Isso é real ou ilusão? Para alguns, essa
sobrecarga de informação pode gerar frustração. Comparo isso à busca por
encontros e parceiros amorosos na internet. Quando buscamos certas
características desejadas em um par, passamos a tratar essa busca como uma
avaliação de commodities. Inevitavelmente, nós também nos sentimos como um
produto nesse processo. O resultado disso é que passa a haver menos necessidade
de vínculo, pois supõe-se que sempre pode haver algo ou alguém melhor mais à
frente.
Na última semana, a Amazon
revelou seu novo mecanismo de compra, com a inclusão de produtos no carrinho de
compras apenas usando uma hashtag do Twitter. Qual é o próximo passo das
compras através de redes sociais? Em breve, é possível que as compras sejam feitas, literalmente,
com um piscar de olhos. Aguardemos o Google Glass...
Atualmente, a Amazon atua no
Brasil apenas com e-books. A operação física deve começar ainda este ano. Há
risco para as empresas de comércio eletrônico locais? O risco existe, quando se concorre com gigantes do ramo. Mas
marcas menores, capazes de reações mais rápidas, sempre podem atuar em nichos e
encontrar formas de se manter competitivas. A China tem bons exemplos dessa
adaptação.
Foram apontados, recentemente,
muitos problemas nas transações com bitcoin. Há de fato um futuro para o
dinheiro virtual? O dinheiro existe em
muitas formas, mas todas demasiadamente dominadas por governos. Uma moeda
universal instantânea pode resolver muitos dos problemas da economia de hoje.
Compras coletivas, uso
compartilhado e outras tendências de comportamento de consumo transformam
rapidamente o mercado. Que setores são mais sensíveis a essas mudanças? A forma como consumimos músicas, filmes e educação já foi
completamente transformada. A mudança nos transportes é, hoje, a bola da vez.
Compartilhar, em vez de adquirir individualmente, tem sido uma opção crescente
entre os usuários de transportes, seja para economizar ou melhorar as condições
do trânsito.
Os consumidores têm sido mais
cobrados em relação a suas opções na hora de adquirir produtos. O consumo
responsável tem de fato poder de transformar a relação que as grandes
companhias têm com o ambiente e o mercado? O poder do consumidor é real. Mas é bom lembrar que as empresas
também podem recorrer à “lavagem verde” de suas atividades. Isso tende a
confundir o consumidor na hora de escolher. Uma solução potencialmente forte
para isso é o ativismo de consumidores, que une determinado grupo para, com
suas compras, estimular melhores práticas no comércio.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Obrigada pela visita e pelo comentário!