Escolhido há quase um ano pelo secretário-geral Ban Ki-moon
como alto representante da Aliança de Civilizações da Organização das Nações
Unidas (UNAOC, na sigla em inglês), Nassir Abdulaziz Al-Nasser, natural do
Catar, dedica seu trabalho a promover a paz entre os países. A Aliança que ele
hoje lidera a partir de Nova York defende a educação, o desenvolvimento
sustentável e a cooperação entre os governos para evitar e resolver conflitos.
Em uma entrevista exclusiva concedida ao Terra em Tarrytown, nos Estados
Unidos, onde abriu oficialmente um curso de verão promovido por sua organização
a 100 jovens de 90 países - inclusive o Brasil -, Al-Nasser descreve a atuação
da UNAOC, sua crença de que os jovens serão responsáveis por mudar o mundo e como
duradouras guerras, como na Síria, preocupam as Nações Unidas.
Al-Nasser revela a necessidade de atuação em conjunto para
encontrar soluções a casos graves de violação dos direitos humanos,
especialmente no Oriente Médio e no norte da África. Ele afirma que a Aliança
está comprometida com situações humanitárias ao redor do planeta - tanto as
causadas pela ação humana quanto devido a desastres naturais - e diz que a
proteção ao ambiente, com atitudes sustentáveis, pode levar paz ao mundo.
Responsabilidade que deve ser compartilhada por população e governos, mas que,
ele acredita, será capitaneada pelos jovens, a quem ele descreve como o maior
recurso da humanidade. Defendendo o diálogo e a tolerância entre partes
conflitantes, Al-Nasser pede que as causas da violência sejam discutidas em
busca de acordo.
Designado embaixador não residente do Brasil e diversos
outros países das Américas, o alto representante da Aliança de Civilizações
trabalha com diplomacia há mais de 40 anos. Através da UNAOC, visa promover a
melhoria das relações interculturais em todo o mundo. Confira, a seguir, a
entrevista com Nassir Abdulaziz Al-Nasser.
Terra - Qual é o
papel da Aliança de Civilizações na prevenção e resolução de conflitos ao redor
do mundo?
Nassir Abdulaziz
Al-Nasser - A Aliança de Civilizações das Nações Unidas foi construída
sobre a premissa de que o diálogo é o melhor caminho para a paz. Esse é o
núcleo da missão da Aliança desde que foi lançada, em 2005. Os valores
fundamentais da Aliança são respeito e tolerância entre os seres humanos e
aceitar a diversidade de suas culturas e crenças. Com isso em mente, a Aliança
trabalho com quatro pilares principais: Juventude, Educação, Mídia e Migração.
Então, como você vê, a juventude é um dos principais pilares da Aliança, em que
obviamente investimos muitos recursos - e esse curso de verão em Tarrytown é um
bom exemplo de como fazemos isso.
Acredito que os jovens são o maior recurso do mundo. Eles
são o verdadeiro futuro e os reais agentes de mudança. É por esse motivo que
temos muitos programas que têm a juventude de todo o mundo - não apenas do
Oriente Médio e norte da África - como alvo. Além dos cursos de verão (Summer
Schools), a Aliança conta com um programa de bolsas destinado a facilitar a
exposição de líderes em desenvolvimento dos mundos ocidental e muçulmano à
mídia, cultura, política, think tanks (usinas de ideias), sociedade civil e
religião. Também criamos o festival da juventude Plural+, o Youth Solidarity
Fund (Fundo de Solidariedade da Juventude, em tradução livre). Esses programas
fomentam o diálogo intercultural, o respeito ao outro independente de sua
língua, raça ou crença. Todos esses programas e iniciativas se baseiam na
convicção de que os jovens são a força propulsora da mudança.
Terra - O
investimento em educação representa um esforço importante para prevenir a
violência?
Al-Nasser -
Certamente. É por isso que a Educação é um dos quatro pilares da Aliança. Esse
curso de verão aqui em Tarrytown é todo desenvolvido sobre a educação dos
jovens. Veja, nos contextos cada vez mais multiculturais que moldam nossas
vidas no século 21, a educação é fundamental para tratar da ignorância e
desconfiança que estão no cerne do conflito humano. A educação ajuda a superar
estereótipos e intolerância, e a vencer a batalha contra a ignorância.
Também gostaria de acrescentar aqui que tenho o privilégio
de uma parceria com sua alteza, sheika Mozah bint Nasser, do Catar, em sua
iniciativa global Educate a Child (Eduque uma Criança, em tradução livre), que
atinge 61 milhões de crianças. Também sirvo como membro do conselho do comitê
Education Above All (Educação Acima de Tudo). Em outubro, participarei do World
Summit for Education (WYSE).
Terra - Quais
situações humanitárias mais preocupam a UNAOC atualmente?
Al-Nasser - Há
muitas situações humanitárias (preocupantes) ao redor do mundo: algumas são
devido a desastres naturais, algumas a conflitos religiosos ou políticos.
Porém, talvez a situação humanitária na Síria seja uma das mais terríveis, e
também na Somália. Estamos nos aliando ao Escritório das Nações Unidas para a
Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA, na sigla em inglês) em missões
humanitárias, e a mais recente foi uma missão às Filipinas para sensibilizar a
sociedade a respeito da situação humanitária em Mindanau, causada por um tufão.
Terra - O senhor
diria que o desenvolvimento sustentável deve ser uma prioridade para todos os
países?
Al-Nasser - Você
está absolutamente correto. O desenvolvimento sustentável é essencial para um mundo melhor e mais
pacífico. É por isso que tenho desenvolvimento e cultura ligados um ao outro e
defini ambos como uma das seis prioridades durante o meu mandato. A Aliança
está direcionando seus esforços às preocupações expostas pela Agenda de
Desenvolvimento pós-2015 e, particularmente, os objetivos de desenvolvimento
sustentável, em que levamos em conta o contexto cultural de uma maneira que
poderia acomodar diferentes religiões, etnias e culturas.
Reportagem de Guilherme Justino
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