A comunidade internacional mais uma vez fracassou em tomar medidas
contra o tráfico de marfim
Após 12 dias de discussões, o clima era de otimismo entre os defensores
da natureza: os 178 países que participaram, de 3 a 14 de março, em Bancoc
(Tailândia), da 16ª Conferência dos Partidos (CoP16) da Convenção sobre o
Comércio Internacional das Espécies Ameaçadas de Extinção (Cites) deram ali
importantes passos na proteção aos tubarões, às tartarugas e às florestas
tropicais.
Em compensação, o tom era de decepção quanto à ação conduzida em favor
dos elefantes africanos, vítimas em seus países de origem de uma caça ilegal
sem precedentes e de um comércio desenfreado na Ásia.
"A comunidade internacional fracassou em proteger os
elefantes", avaliou a maioria das ONGs envolvidas nessa luta.
Um plano de ação para o elefante da África --cujo financiamento ainda
deve ser determinado-- foi adotado. Os países nos quais grandes apreensões de
marfim foram efetuadas deverão agora submeter amostras a testes de DNA para
rastrear a origem e os itinerários desses produtos contrabandeados. Mas nenhuma
medida foi tomada contra os oito países acusados de não serem suficientemente
ativos no combate a esse tráfico: Uganda, Tanzânia e Quênia (países de origem),
Malásia, Vietnã e Filipinas (países de trânsito), China e Tailândia (principais
mercados).
Antes da conferência, o comitê permanente da Cites havia intimado esses
países a lhe submeterem planos de ação. Com exceção da China e da Tanzânia,
eles cumpriram a ordem. Cada país deverá ter um plano definitivo até o dia 15
de maio e manter a Cites informada de seu andamento até o verão de 2014. Todos
esses países "manifestaram um comprometimento determinado em tomar medidas
imediatas e decisivas", afirmou o comitê. Para a maior parte das ONGs, no
entanto, esse simples monitoramento não atende à urgência da situação.
"A Cites não se importa nem um pouco com a caça ilegal de
elefantes", avaliou uma dezena de associações em um comunicado coletivo,
ressaltando que a China, "onde a representação e a venda do marfim
prosperam, nem mesmo reconheceu parte da responsabilidade".
Carlos Drews, chefe da delegação da World Wildlife Fund (WWF), se
declarou "decepcionado com a falta de zelo dos governos em acelerar o
processo de punições". O tráfico de marfim dobrou desde 2007 e mais do que
triplicou desde 1998.
Segundo as pesquisas apresentadas em Bancoc, restam entre 420 mil e 650
mil elefantes na África: 25 mil foram mortos em 2011, provavelmente quase 30
mil em 2012. Um outro estudo, publicado no início de março na revista
científica PLoS One, especifica que 62% dos elefantes-da-floresta foram
abatidos por causa do marfim ao longo dos dez últimos anos.
Nesse ritmo, as populações da África Central poderiam desaparecer até
2025. E, se a caça ilegal continuar, segundo os especialistas, com o tempo
todos os elefantes do continente estarão ameaçados.
No que diz respeito a essa espécie, talvez esta seja a única verdadeira
boa notícia da CoP16: cientes da gravidade da situação, os países africanos
falaram quase em uníssono. Em Doha (Qatar), onde foi realizada a CoP15 em 2010,
dois princípios se colidiram. A Tanzânia e a Zâmbia, apoiadas pelos países da
África austral, solicitavam uma flexibilização na proibição do comércio
internacional de marfim instaurada em 1989 para poder escoar seus estoques. Uma
coalizão de 23 outros países africanos, liderada pelo Quênia, se opôs a eles,
mas a reunião havia sido marcada por essas divergências. Este ano foi
diferente.
"Pela primeira vez, os países da área de distribuição da espécie
concordaram quanto ao fato de que é preciso fazer de tudo para colocar na
prática o plano de ação para o elefante da África", observa Pierre
Kafando, representante do ministério do Meio Ambiente de Burkina Fasso e
presidente da coalizão africana, que reúne 27 países. Foram feitos esforços de
concessões de todos os lados.
A Tanzânia retirou sua proposta de alterar a classificação de seus
elefantes do Anexo 1 (comércio internacional proibido) para o Anexo 2 (comércio
regulamentado), bem como seu pedido de uma venda única de 100 toneladas de
marfim. Em contrapartida, Burkina Fasso e Quênia desistiram de pedir que os
elefantes da África do Sul, de Botsuana, da Namíbia e do Zimbábue, atualmente
no Anexo 2, passassem para o Anexo 1.
Teriam esses dois blocos históricos começado uma iniciativa comum de
combate ao tráfico de marfim? Seria um avanço essencial. Mas esse seria somente
o primeiro elo da cadeia. "Nenhum esforço de repressão dará certo se a
demanda de marfim não diminuir. Pedimos a todos os Estados envolvidos que façam
campanha para reduzi-la", afirmou a associação queniana Save the
Elephants. Só que, nesse ponto, nem a China nem a Tailândia fizeram propostas
concretas.
Para várias ONGs, não é mais hora de tergiversar. "A única maneira
de dar um fim ao massacre e de salvar os elefantes da África e da Ásia é uma
suspensão imediata, total e sem data de término do comércio legal de marfim nos
mercados internacionais e nacionais", resume Charlotte Nithard, da
associação francesa Robin des Bois. O fato de um representante chinês ter
admitido que seu país era incapaz de distinguir o marfim legal do ilegal só
reforçou essa convicção.
Reportagem de Catherine Vincent
Tradutor: Lana Lim
Fonte:http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/lemonde/2013/03/16/comunidade-internacional-fracassa-no-combate-ao-trafico-de-marfim.htm
Foto: http://oglobo.globo.com/mundo/quenia-incinera-5-toneladas-de-marfim-em-alerta-contra-caca-ilegal-2713211
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