Fachada da Unifesp
Professores do campus de Guarulhos, na Grande São Paulo, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) pressionam a reitoria para que a unidade se mude da cidade. Um dossiê com o pedido foi entregue ao reitor, Walter Albertoni. O desconforto com a localização do campus já havia surgido entre docentes, mas é a primeira vez que a proposta é oficializada.
O documento, de 18 páginas, diz que a unidade é isolada geográfica e culturalmente, além de não acrescentar nada à região onde está, no carente Bairro dos Pimentas. Além de dificultar o acesso à maioria dos funcionários e alunos, colaborando para os altos índices de abandono, a localização prejudicaria as pretensões de excelência do câmpus.
"A dificuldade extrema de acesso ao câmpus Guarulhos impede que os alunos recebam devidamente a formação concebida pelo projeto acadêmico original da Escola de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (EFLCH )", cita o dossiê. "A EFLCH foi fundada para cumprir seu projeto acadêmico original; não para atender às urgências do Bairro dos Pimentas", acrescenta. Os professores favoráveis à mudança defendem que os cursos poderiam ir para o centro de São Paulo. Isso porque a Unifesp acaba de oficializar o prédio que abrigará um curso de Direto a partir de 2014, no Largo do Paiçandu.
A Unifesp foi para Guarulhos em 2007 por meio do Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni). Desde a inauguração, há queixas de falta de infraestrutura e dificuldade de acesso. De acordo com reportagem publicada no site da revista Veja o prédio principal do campus, que deveria ter sido entregue no 2º semestre de 2010, ainda não saiu do chão e sequer foi licitado. Sem salas de aula suficientes, alunos precisam utilizar o Centro Educacional Unificado (CEU), unidade dedicada ao ensino infantil, localizada ao lado.
Professores se queixam ainda da falta de metrô e trem e alegam que as vias que levam ao bairro não suportam o trânsito local.
Medo - O dossiê não é assinado já que professores dizem temer represálias de lideranças estudantis consideradas radicais e ligadas a movimentos políticos. A proposta não é unanimidade entre o corpo docente, mas, segundo o coordenador da pós-graduação em filosofia da Unifesp, Juvenal Savian, cerca de 70% dos professores apoiam a ideia. "A escola, como foi concebida, não cabe lá, é uma falsa imagem. A Unifesp não faz nada especificamente para a população local", afirma.
Savian lembra o exemplo da USP Leste, unidade da Universidade de São Paulo (USP) que não atrai uma maioria de alunos da região e não colaboraria com sua transformação. Cerca de 70% dos alunos da Unifesp também não moram em Guarulhos. O professor defende que a presença da instituição no bairro possa ser mantida por atividades de extensão universitária ou escola de aplicação. O dossiê sugere que alguns cursos permaneçam no local caso seja de interesse de seus coordenadores.
O documento traz queixas ainda do perfil dos alunos: "Estudantes com melhor preparo desistem de frequentar a EFLCH, obrigando-a a receber estudantes semialfabetizados".
Já professores favoráveis à permanência em Guarulhos criticam a proposta. "Esse dossiê não foi apresentado em assembleia, não é representativo da categoria docente do campus Guarulhos e contém expressões e juízos de valor muito equivocados e alguns até preconceituosos", rebate a professora Lavinia Silvares, do curso de letras. A reitoria criou uma comissão para analisar o dossiê.
foto de Ivan Pacheco para revista Veja
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