A profunda recessão vivida pelo Reino Unido provocou um impressionante aumento no número de suicídios entre 2008 e 2010, particularmente entre os homens, principais vítimas das reestruturações industriais. O estudo publicado na semana passada pelo “British Medical Journal” confirmou a correlação entre a crise e os graves distúrbios psíquicos constatados entre os desempregados britânicos. Essa tendência também tem sido observada nos países mais afetados pela recessão da zona do euro, como a Grécia e a Itália.
Após uma queda regular durante os vinte últimos anos de prosperidade, a curva dos suicídios aumentou no Reino Unido de maneira exponencial entre o início da crise, em 2008, e a grave recessão que veio nos dois anos seguintes. Durante esse período, 1001 pessoas – 846 homens e 155 mulheres – que haviam perdido o emprego puseram fim as suas vidas. Em média, o desemprego masculino aumentou 25,6% em três anos, e o índice de suicídios dos homens subiu 3,6% por ano. Em 2010, quando o emprego masculino teve uma breve melhora, esse índice recuou.
“Essas conclusões para o Reino Unido confirmam estudos em outros países em crise que mostram a ligação entre desemprego e suicídios. As preocupações financeiras, o endividamento, o medo de perder sua moradia ou o rebaixamento social estimulam comportamentos desesperados”, explica Ben Barr, um dos autores do relatório, realizado pelas Universidades de Cambridge e de Liverpool, bem como pela Escola de Higiene e de Medicina Tropicais da Universidade de Londres.
A instituição de caridade dos Samaritanos confirmou esse diagnóstico: o número de chamados de pessoas desesperadas após perderem um emprego mais do que dobrou desde 2008. “Os cortes praticados no orçamento da saúde mental agravaram o fenômeno”, garante um dos coordenadores.
Aumento do trabalho em meio-período
A situação econômica do Reino Unido, no entanto, é irregular. Durante o segundo trimestre, quando o crescimento caiu 0,7%, o desemprego recuou 0,2% entre março e maio. Essa melhora foi o resultado do aumento do número de trabalhadores em meio-período ou de autônomos, mais vulneráveis e mais isolados que os empregados em tempo integral. Além disso, como afirma John Philpot, especialista em mercado de trabalho no Reino Unido, “a situação daqueles que perderam o emprego está mais difícil hoje em razão da diminuição do seguro-desemprego a longo prazo”.
O estudo critica a política de austeridade draconiana: “Somente a criação de empregos pode reverter a tendência de aumento dos suicídios, sobretudo entre os homens. Sem isso, o custo humano do desemprego prevalecerá sobre os supostos benefícios das reduções orçamentárias”.
Tradutor: Lana Lim
Reportagem de Marc Roche
foto:thisway.com.br
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