Leia este texto e reflita
Esteja certo de uma coisa, compaixão não é dar a roupa rasgada, o brinquedo quebrado, o alimento com data de validade vencida ou por vencer, nem os restos que você estava decidido a jogar no lixo. Compaixão não é usar a caridade como um gesto repleto apenas de vaidade e egocentrismo. Nem muito menos reservar sua compaixão para os dias sagrados do calendário cristão. Compaixão é estar permanentemente atento para as necessidades do outro que podem ser mínimas até como um sorriso, um tempo para ouvir suas histórias, seus desabafos. É atrasar um pouco seus compromissos cotidianos para ser gentil, atencioso, amoroso mesmo com os idosos, os portadores de algum típico de deficiência, as crianças. Não estou falando de pena, esta é muito diferente da compaixão. Compaixão é atender a solicitação do próximo, mesmo quando é feita em silêncio, com entusiasmo, com alegria, apenas por ter consciência de que somos todos iguais e que sendo assim, merecedores de compreensão e amor.
Compaixão não é dar apenas o que está sobrando nas nossas casas. É entrega, é a capacidade de sentir com o outro, de tirar a capa da invisibilidade que cobre aqueles que não fazem parte do nosso círculo familiar, profissional e social e enxergá-lo como um igual. Estamos todos juntos nesta jornada de dores e alegrias, de perdas e ganhos, por isso a adição, a multiplicação deve ser nossa opção de vida. Desta forma nós mudamos, todos nós e o mundo também, para melhor, rumo a Paz que tanto ansiamos. O egoísmo e a apatia  são as ferramentas da guerra, da violência, da divisão. Estamos exaustos de tudo isso. O mundo anseia pela Paz, mas ela deve ser primeiramente germinada dentro de nós, de outra forma é impossível. Vamos reunir nossas crenças, nossos ideais, compartilhar nossos conhecimentos e disseminar o amor. Não, não é uma utopia nem uma simplificação exagerada da vida, apenas uma constatação de alguém que não desiste de acreditar na Vida e na Humanidade.
Dra. Tânia Mota
 (dedico esta mensagem à família paraense Avertano de Macedo Barreto da Rocha)
BONDADE E COMPAIXÃO
palestra do monge budista Dalai Lama
Esta noite, gostaria de falar a vocês sobre a importância da  bondade e da compaixão. Ao discutir esses temas, não me vejo como budista, Dalai  Lama ou tibetano, mas sim como um ser humano e espero que vocês, no auditório,  pensem em si mesmos dessa maneira. Não como americanos, ocidentais ou membros de  um determinado grupo, pois essas condições são secundárias. Se interagirmos como  seres humanos, podemos chegar a esse nível. Caso eu diga "sou monge" ou "sou  budista", as afirmações serão, em comparação com a minha natureza de ser humano,  temporárias. Ser humano é básico. Uma vez nascido assim, não se poderá mudar até  a morte. Outras condições, ser ou não instruído, rico ou pobre, são secundárias. 
Hoje, enfrentamos muitos problemas. Alguns são criados  essencialmente por nós mesmos, com base em diferenças de ideologia, religião,  raça, situação econômica ou outros fatores. Chegou, portanto, o momento de  pensarmos em níveis mais profundos. Em nível humano, condição essa que deveremos  apreciar e respeitar em todos os que nos cercam. Devemos construir  relacionamentos baseados na confiança mútua, na compreensão, no respeito e na  solidariedade, independentemente de diferenças culturais, filosóficas ou  religiosas. Todos os seres humanos são iguais. Feitos de carne, ossos e sangue.  Todos queremos a felicidade e evitar o sofrimento e temos direito a isso. 
Em outras palavras, é importante compreender a nossa igualdade.  Pertencemos todos a uma família humana. O fato de brigarmos uns com os outros  deve-se a razões secundárias, e todas essas discussões são inúteis.  Infelizmente, durante muitos séculos, os seres humanos usaram todos os métodos  para ferir uns aos outros. Muitas coisas terríveis aconteceram, resultando em  mais problemas, mais sofrimento e desconfiança. E, consequentemente, em mais  divisões. O mundo hoje está cada vez menor em vários aspectos, particularmente o  econômico. Os países estão mais próximos e interdependentes e, nesse quadro,  torna-se necessário, pensar mais em nível humano do que em termos do que nos  divide. Assim, falo a vocês apenas como um ser humano e espero, sinceramente,  que vocês estejam escutando com o pensamento: "Sou um ser humano e estou ouvindo  outro ser humano falar". 
Todos queremos a felicidade; nas cidades,  no campo, mesmo em lugares remotos, as pessoas trabalham com o objetivo de  alcançá-la, entretanto, devemos ter em mente que viver a vida superficialmente  não solucionará os problemas maiores. 
Há muitas crises e medos à  nossa volta. Por meio do grande desenvolvimento da ciência e da tecnologia,  atingimos um estado avançado de progresso material, que é necessário. Não  podemos, no entanto, comparar o progresso externo com nosso progresso interior.  As pessoas queixam-se do declínio da moralidade e do aumento da criminalidade,  mas esses problemas não serão resolvidos, se não procurarmos desenvolver nosso  interior. 
No passado remoto, se houvesse uma guerra, os efeitos  seriam geograficamente limitados, porém hoje, em função do progresso, o  potencial de destruição ultrapassou o concebível. No ano passado estive em  Hiroshima, no Japão. Mesmo tendo informações a respeito da explosão nuclear lá  ocorrida, era muito diferente estar no local, ver com meus próprios olhos e  encontrar pessoas que realmente sofreram com aqueles acontecimentos. Fiquei  profundamente emocionado. Uma arma terrível tinha sido usada. Embora possamos  considerar alguém como inimigo, temos de levar em conta que essa pessoa é um ser  humano e que tem direito a ser feliz. Olhando para Hiroshima e refletindo a  respeito, fiquei ainda mais convencido de que a raiva e o ódio não são meios  para solucionar problemas. 
A raiva não pode ser superada pela raiva.  Quando uma pessoa tiver um comportamento agressivo com você e a sua reação for  semelhante, o resultado será desastroso. Ao contrário, se você puder se  controlar e tomar atitudes opostas "compaixão, tolerância e paciência", não só  se manterá em paz, como a raiva do outro diminuirá gradativamente. Do mesmo  modo, problemas mundiais não podem ser solucionados pela raiva ou pelo ódio.  Sentimentos como esses devem ser enfrentados com amor, compaixão e pura bondade. 
Pensem em todas as terríveis armas que existem, mas que, por si  mesmas, não podem iniciar uma guerra. Por trás do gatilho há um dedo, movido  pelo pensamento, não por sua própria força. A responsabilidade permanece em  nossa mente, de onde se comandam as ações. Portanto, controlar em primeiro lugar  a mente é muito importante. Não estou falando de meditação profunda, mas apenas  de cultivar menos raiva e mais respeito aos direitos do outro. Ter uma  compreensão mais clara da nossa igualdade como seres humanos.
Ninguém quer a raiva, ninguém quer a intranqüilidade, mas por causa  da ignorância somos acometidos por sentimentos como esses. A raiva nos faz  perder uma das melhores qualidades humanas, o poder de discernimento. Temos um  cérebro bem desenvolvido, coisa que outros mamíferos não têm. Esse órgão nos  permite julgar o que é certo e o que é errado. Não apenas em termos atuais, mas  em projeções para daqui dez, vinte ou mesmo cem anos. Sem nenhum tipo de  pré-cognição, podemos utilizar nosso bom senso para determinar o certo e o  errado. Imaginar as causas e seus possíveis efeitos. Contudo, se nossa mente  estiver ocupada pela raiva, perderemos o poder de discernimento e nos tornaremos  mentalmente incompletos. 
Devemos salvaguardar essa capacidade e,  para tanto, temos de criar uma companhia de seguros interna: autodisciplina,  autoconsciência e uma clara compreensão das desvantagens da raiva e dos efeitos  positivos da bondade. Se refletirmos a respeito dessas questões com freqüência,  podemos incorporar a idéia e, então, controlar a mente. 
Por exemplo:  pode ser que você seja uma pessoa que se irrita facilmente com pequenas coisas.  Com desenvolvida compreensão e conscientização, isso pode ser controlado. Se  você fica geralmente zangado por dez minutos, tente reduzi-los para oito. Na  semana seguinte, reduza para cinco e, no próximo mês, para dois. Depois, passe  para zero. É assim que desenvolvemos e treinamos nossa mente. É o que penso e  também o que pratico. 
É perfeitamente claro que todos necessitam de  paz interior, que só pode ser alcançada por meio da bondade, do amor e da  compaixão. O resultado é uma família em paz, felicidade entre pais e filhos,  menos brigas entre casais. Em uma nação, essa atitude pode criar unidade,  harmonia e cooperação com saudável motivação. Em nível internacional, precisamos  de confiança e respeito mútuos, discussões francas e amistosas, com motivações  sinceras e um esforço conjunto no sentido de resolver problemas. Tudo isso é  possível. 
Precisamos, porém, mudar interiormente. Nossos líderes têm feito o  melhor que podem para resolver nossos problemas, mas, quando um é resolvido,  surge outro. Tenta-se solucionar este, surge mais um em outro lugar. Chegou o  momento então de tentar uma abordagem diferente. 
É certamente  difícil realizar um movimento mundial pela paz de espírito, mas é a única  alternativa. Caso houvesse outro método mais fácil e prático, seria melhor,  porém não há. Se com armas pudéssemos chegar à paz duradoura, muito bem.  Transformaríamos todas as fábricas em produtoras de armamentos. Gastaríamos  todos os dólares necessários, se conseguíssemos a definitiva paz, mas tal é  impossível. 
As armas não permanecem empilhadas. Uma vez  desenvolvidas, alguém irá usá-las. O resultado é a morte de criaturas inocentes.  Portanto, a única maneira de atingirmos uma paz mundial duradoura é por meio da  transformação interior. E, mesmo que essa transformação não ocorra durante esta  vida, a tentativa terá sido válida. Outros seres humanos virão; a próxima  geração e as seguintes. E o progresso pode continuar. Sinto que, apesar das  dificuldades práticas, e, mesmo correndo o risco de que tal visão seja  considerada pouco realista, vale a pena o esforço. Assim, aonde quer que eu vá,  expresso essas idéias e sinto-me muito motivado porque mais pessoas têm sido  receptivas a elas. 
Cada um de nós é responsável por toda a  humanidade. Chegou a hora de pensarmos nas outras pessoas como verdadeiros  irmãos e irmãs e nos preocuparmos com seu bem-estar. Mesmo que você não possa se  sacrificar inteiramente, não deverá esquecer-se das dificuldades dos outros.  Temos de pensar mais sobre o futuro em benefício de toda a humanidade. Se você  tentar dominar seus sentimentos egoístas e desenvolver mais bondade e compaixão,  em última análise, você é quem irá sair beneficiado. É o que chamo de egoísmo  sábio. Pessoas egoístas, tolas, só pensam em si mesmas, e o resultado é  negativo. Os sábios pensam nos outros, ajudam da melhor forma e também colhem os  benefícios. Essa é minha simples religião. Não há necessidade de templos ou de  filosofias complicadas. Nosso próprio cérebro, nosso coração, são nossos  templos. A filosofia é a bondade. 
foto:blog.opovo.com.br

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