10/06/2011

Aumento da pobreza marca o fim da campanha política em Portugal


Espaço aberto no Ética para Paz para as eleições em várias partes do mundo. Começamos com Portugal.




O empobrecimento de Portugal, agravado nos últimos tempos pela crise econômica, coloca os dirigentes políticos no alvo durante a reta final da campanha para as eleições de domingo. Dois milhões de pessoas, 20% da população - a metade com mais de 70 anos -, vivem abaixo do limite de pobreza, segundo o Instituto Nacional de Estatísticas (INE). Uma carga pesada para o governo de saída, socialista, embora a pobreza estrutural desse país tenha uma trajetória tão longa que também compromete os que ocuparam o poder antes.
Enquanto os candidatos intensificam os atos de campanha, a última pesquisa publicada ontem pelo jornal "Público" e pela rede de televisão TVI prevê a vitória de Pedro Passos Coelho, líder da oposição do conservador Partido Social-Democrata (PSD), com 37% dos votos, contra 32,3% que obteria o primeiro-ministro em exercício e candidato socialista, José Sócrates. Paulo Portas, do direitista Centro Democrático Social (CDS), conseguiria 12,7%. Os outros dois partidos de esquerda, Comunista e Bloco de Esquerda, ficariam longe, com 7,7% e 5,2% dos votos, respectivamente. Com esse resultado, o próximo governo de Portugal provavelmente será uma coalizão de centro-direita do PSD e CDS.
"Os candidatos falam da pobreza, mas tenho sérias dúvidas de que proponham as medidas mais adequadas para promover uma verdadeira inclusão social", diz a economista Isabel Jonet, presidente do Banco Alimentar (BA), uma organização privada de assistência que reúne 1.980 associações e instituições de solidariedade e que atendeu a 319 mil pessoas em 2010, 17,35% a mais que no ano anterior.
O BA está em plena campanha de coleta de alimentos e sensibilização em todo o país, direta e pela Internet, da qual participam mais de 30 mil voluntários. "A missão dos bancos alimentares é lutar contra o desperdício", explica Isabel Jonet. "Recolhemos todos os excedentes da indústria que provavelmente acabariam destruídos e que depois são distribuídos às pessoas que passam fome através de quase 2 mil instituições." Outras fontes de abastecimento são agricultores, mercados e excedentes da UE.
Na Europa há 240 bancos alimentares. Segundo a federação europeia desse tipo de banco, o de Lisboa "é o banco modelo, por ser o mais eficiente da Europa e por recolher mais e ter uma maior harmonia nas fontes de abastecimento".
A maioria dos beneficiários do BA pertence ao milhão de pessoas de mais de 70 anos que vivem com menos de 280 euros por mês e integram o exército de pobres estruturais. Desde 2007 a situação piorou, com o aumento das taxas de juros das hipotecas, e deixou endividada uma grande parte da geração que tem casa própria. "São os novos pobres, que praticamente dedicam toda a sua renda a pagar créditos", destaca Jonet. A partir de 2009, o desemprego disparou e com ele a pobreza conjuntural: "São pessoas que não podem enfrentar os créditos nem as necessidades da família. Trabalhadores pobres e desempregados".
A ajuda alimentar é a última, o final da cadeia. Aparentemente, não mudará o perfil do beneficiário do BA, porque em Portugal há um elevado envelhecimento da população. "O milhão de velhos pobres serão sempre os grandes beneficiários do banco. Portanto, 30% a 35% da ajuda que damos são para a população de idade avançada. Outros 35% são crianças que vão às creches ou residências, e o restante famílias, na maioria imigrantes da África lusófona - Guiné Bissau, Cabo Verde e Angola."
A presidente do BA opina que "não havia alternativa" ao programa de austeridade imposto pelos órgãos financeiros internacionais em troca de um resgate de 78 bilhões de euros. "Terá um custo social muito elevado. Vai castigar a todos e aos mais pobres também. Mas vai insuflar na sociedade portuguesa uma noção de que é necessário o esforço individual. As pessoas estavam acostumadas a que o Estado ou a UE acabassem resolvendo, e não assumiam suas próprias responsabilidades." Em outras palavras, aproxima-se o fim do Estado assistencial. "A ação do BA aumentará e teremos menos produtos para distribuir. Precisamos ser mais inovadores para ajudar as instituições a ser mais eficientes", explica.


Reportagem de Francesc Relea para o jornal espanhol El País
http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/elpais/2011/06/02/aumento-da-pobreza-marca-o-fim-da-campanha-politica-em-portugal.jhtm
Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves 
foto:globpt.com

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