04/04/2017

Paraguai se afunda em violenta crise política


A situação política no Paraguai saiu do controle com protestos em massa e uma pessoa morta pela polícia depois que uma parte do Partido Colorado, do presidente conservador Horacio Cartes, impulsionou uma reforma da Constituição para permitir a reeleição do mandatário em 2018. Uma manobra que já havia sido tentada em 2016, sendo rejeitada pelo Congresso e que levantou muita poeira em um país que abandonou a ditadura mais longa da América do Sul em 1992.
O que mais impressiona é que, para aprovar a reforma, Cartes se aliou com o progressista Frente Guasú, de Fernando Lugo, ex-presidente que foi destituído em 2012 em um rápido processo de impeachment que foi considerado uma "ruptura democrática" pelo Mercosul e outros organismos internacionais. Lugo apoia a reforma, que também lhe permitiria concorrer nas eleições de 2018. Além disso, Cartes demitiu no sábado o ministro do Interior, Tadeo Rojas, e o comandante da Polícia Nacional, Críspulo Sotelo, um dia após os protestos.
Após uma votação entre 25 senadores nas dependências parlamentares da Frente Guasú, sem a presença do restante dos legisladores e do presidente do Senado, Roberto Acevedo, o projeto de reforma foi aprovado, desatando a ira dos opositores.
Cerca de mil pessoas atacaram o Congresso na noite de sexta-feira e atearam fogo ao salão principal da Casa. Enquanto o local ardia em chamas e alguns manifestantes entravam e saiam levando de computadores a cadeiras e mesas, outros travavam confrontos com a polícia em praticamente todas as esquinas do centro de Assunção. Barricadas com lixeiras e carros queimados impediam a passagem de carros em diversos locais. Uma batalha campanha que durou quase até o amanhecer, com mais de 200 detidos e meia centena de feridos.
"Nós protestávamos pacificamente com senadores dissidentes, mas os capacetes azuis começaram a reprimir, e como vinha uma patrulha contra a gente, quebramos o para-brisa", disse Sebastián Navarro, jovem militante do Partido Colorado que saiu às ruas para protestar. Reinaldo González, de 29 anos e com ferimentos na cabeça, ateava fogo a algumas caixas de madrugada. "Vim defender a democracia. Não queremos que continue essa ditadura, sou nacionalista, de nenhum partido, que Horacio renuncie", afirmava.
Os confrontos tiveram o momento mais trágico quando o batalhão de choque da polícia invadiu a sede do Partido Liberal, de oposição, perseguindo alguns manifestantes. Os agentes efetuaram disparos no interior do local, e Rodrigo Quintana, de 25 anos, da juventude liberal, caiu ferido no chão. Morreu pouco depois quando era levado para o hospital. O procurador-geral do Estado, Javier Díaz Verón, disse que o corpo do jovem apresentava nove balas de uma única escopeta, e que um agente foi detido como suspeito pela morte.
Horacio Cartes não apareceu em público, pediu calma por meio de um comunicado e acusou os meios de comunicação e os manifestantes de promoverem o vandalismo no Congresso. A Frente Guasú lamentou os acontecimentos e a morte do jovem em outro comunicado, assim como o presidente do Partido Colorado, Pedro Alliana. Alliana foi além e afirmou que os atos de violência foram "premeditados e estruturalmente organizados" pela oposição.
Reportagem de Santi Carneri
fonte:http://brasil.elpais.com/brasil/2017/04/01/internacional/1491076242_183578.html
foto:https://www.apnews.com/13e92ad571014f16b68d1ed38bebd53a/Interior-minister,-police-chief-fired-after-Paraguay-clashes

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