06/02/2017

Um ombudsman trabalhista: efetiva proteção ao trabalhador


Iniciar minha tese de doutorado em Derecho Laboral pela Universidade de Buenos Aires (UBA) com a frase de poeta francês Charles Baudelaire (1821-1867) hay días que en la mañana abrimos la ventana y tenemos la impresión de que el día nos está esperando" expressa exatamente o meu ímpeto em mais esta etapa da minha trajetória acadêmica. Despertar todos os dias pronta para começar mais uma pesquisa, reconstruir raciocínios e seguir buscando o conhecimento, sempre com a certeza que estas ações são perenes, continuarei dia após dia empenhada neste ideal.
Mas devo confessar que a frase de Karl Marx "tudo o que é sólido se desmancha no ar" também me inspirou na realização desta tese.  Embora esta metáfora tenha sido criada no século XIX pode ser utilizada com eficiência com relação ao que está acontecendo com os direitos trabalhistas diante da nova ordem mundial em formação. É possível dizer que com tantas transformações as conquistas dos trabalhadores demonstram fragilidade diante de pressões econômicas e políticas que influenciam o seu reconhecimento e preservação. 
A institucionalização do ombudsman no setor trabalhista, anunciado no título desta tese, tem como objetivo ser uma alternativa de eficiência na mediação de questões do Direito do Trabalho entre os órgãos classistas e os setores governamentais e empresariais. 
A escolha do tema proposto, ou seja, a necessidade da formação e institucionalização de um núcleo de ombudsmen no setor trabalhista na região da América Latina em países como o Brasil e a Argentina foi motivada por três fatores em ascensão e que indicam a vulnerabilidade dos trabalhadores: o aumento vertiginoso do número de acidentes de trabalho envolvendo trabalhadores terceirizados; a diferença salarial entre o trabalhador terceirizado (mesmo com capacitação igual ou superior) e o contratado e a ocorrência sistemática de conflito de jurisdição no setor laboral. 
Entre os objetivos propostos nesta tese o principal deles é comprovar a urgência da institucionalização de um ombudsman devidamente capacitado e que tenha total independência para mediar as questões de âmbito trabalhistas e defender os trabalhadores de toda e qualquer tentativa de flexibilização negativa de seus direitos, assim como garantir a aplicabilidade das decisões da Justiça do Trabalho.
Afinal, penso que a paz é possível. Não apenas  teoricamente, não porque nascemos bons e somos corrompidos pela sociedade (como afirmou Jean-Jacques Rousseau no século XVIII), sendo necessário apenas uma volta às origens. Pelo contrário, penso a paz como uma possibilidade real a partir do momento em que cada um de nós assume o compromisso de torná-la um elemento presente em todas as ações, em transformar uma possibilidade em realidade, assumir a responsabilidade de que o caminho do conflito, do litígio é o caminho mais curto para a destruição, para a eliminação de toda e qualquer possibilidade de um desenvolvimento pleno. 
O litígio, ao contrário da paz, tolhe o crescimento, limita as ideias, castra voos mais plenos e amplos em busca de um horizonte que todos nós temos a nossa frente. Não é como pode parecer, o caminho mais curto para conquistar o que se almeja, trata-se de um equívoco, talvez o maior que o ser humano comete para justificar um comportamento bélico em todos os níveis e estágios da sua vida.
Sendo assim, penso que o reconhecimento de instrumentos eficazes para viabilizar o processo de paz e garantir a sua construção e permanência na sociedade deve ser prioridade, inclusive no âmbito do Direito Trabalhista e em todos os setores da Justiça. Com certeza a institucionalização de um ombudsman trabalhista é um desses instrumentos.


Dra. Tânia Mota de Oliveira



foto:http://www.almcalabria.org/?p=6152

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