25/11/2016

"O que faz cidade ter vida é uso que pessoas dão às ruas", diz urbanista



Metade da população mundial vive em cidades. Como garantir que a vida na metrópole seja fonte de satisfação, e não de problemas? Para Izabele Colusso, coordenadora da especialização em Cidades: Gestão Estratégica do Território Urbano da Unisinos, os ambientes urbanos bem planejados são aqueles que convidam as pessoas a ir para a rua.

-- O que faz a cidade ter vida é o uso que as pessoas dão às ruas, calçadas, praças, parques e edificações públicas -- afirma a urbanista.

Um dos pioneiros da ideia de "cidades para as pessoas" foi Jan Gehl, palestrante do Fronteiras do Pensamento na última segunda-feira. Nos anos 1960, enquanto o planejamento urbano se voltava para o automóvel, Gehl foi um dos urbanistas envolvidos no fechamento para carros de uma das vias mais importantes de Copenhague. Desde então, a capital dinamarquesa tornou-se referência em habitabilidade, aprovada por 97% de seus moradores -- e Gehl, um de seus filhos mais ilustres, requisitado em projetos como o fechamento da Times Square, em Nova York.

-- Arquiteto é acostumado a planejar a cidade de cima para baixo, como um mapa. Gehl diz que a cidade deve ser planejada do ponto de vista do pedestre -- afirma Izabele, que também é professora da graduação em Arquitetura e Urbanismo. -- A cidade das pessoas é a cidade cujos espaços públicos são apropriados pela população. O centro de Porto Alegre é superapropriado. Por quê? A resposta está no uso do solo pelo espaço privado. Se, no espaço privado, temos um térreo com portas, acessos de lojas, tendemos a ter espaços públicos com vida. Se temos muros, cercas, espaços que se fecham, tende-se a espaços públicos sem vida -- resume.

Segundo Izabele, não se trata de negar um modelo de cidade em função do outro: há espaço para shopping, edifícios altos, viadutos.

-- Só não precisamos construir tudo isso em locais nos quais as pessoas querem usufruir o espaço público -- pondera. 

Além de público-alvo, os cidadãos são, cada vez mais, protagonistas na definição da cidade que querem. Auckland, na Austrália, é um exemplo: o plano da metrópole, que pretende se tornar a mais habitável do mundo em 2040, foi elaborado em parceria com a comunidade. 

Para Izabele, ocupar os espaços -- como têm feito as bicicletadas, feiras de rua , piqueniques -- é uma forma de dar esse recado aos gestores.

-- Temos de sair para a rua, usar a cidade, andar a pé. Assim, ajudamos a cidade a ter a vida que queremos que ela tenha -- garante.

Questão de sobrevivência

A perspectiva de que 70% da população global viverá em zonas urbanas em 2050 impõe desafios que deveríamos estar enfrentando hoje. 

-- Temos de planejar cidades compactas, que não cresçam tanto horizontalmente. Na cidade compacta, otimiza-se a infraestrutura. A segunda questão é a densificação. Uma cidade europeia tende a ser muito mais eficiente do que uma americana, porque coloca mais gente em menos espaço. E a terceira é infraestrutura, nossas redes de abastecimento, como as vias de transporte, estão muito oneradas -- constata.

Os fatores se relacionam: a viabilidade do sistema de transporte público, por exemplo, depende da densificação.

-- É a grande discussão do momento em Porto Alegre: que a cidade não é densa o bastante para custear o metrô, enquanto, na Europa, qualquer região tem densidade suficiente -- compara.

Para Izabele, estes e outros problemas que a Capital enfrenta são reflexo da falta de planejamento típica de cidades brasileiras.

-- Primeiro se joga a população em uma região, depois se pensa em levar o transporte público. Não planejamos: corrigimos -- lamenta. 

Para o futuro, eis um desafio: estancar a dispersão para, então, tornar a cidade mais humana e acolhedora. Afinal, a cidade somos nós.



fonte:http://zh.clicrbs.com.br/rs/vida-e-estilo/caderno-rumo/pagina/cidades-para-as-pessoas/
foto:http://barabasilab.neu.edu/people/marta/Marta'sHomepage_files/nature2008/research.html

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