08/10/2016

Estudo pretende identificar principais problemas que idosos enfrentam nas cidades brasileiras

Em 40 anos, o número de pessoas com 70 anos ou mais aumentou cinco vezes no Brasil. Saltou de 1,7 milhões para 8,8 milhões e já representa 4,6% da população.
A taxa de envelhecimento dos brasileiros está entre as que crescem mais rapidamente no mundo. Ainda assim, há poucos estudos sobre como encorajar ativamente o envelhecimento saudável nas cidades do país.
Em busca da melhor forma de fazer com que as pessoas sigam ativas e de preparar as cidades para oferecer uma estrutura compatível com esse ritmo acelerado de envelhecimento, 300 idosos do Brasil serão objeto de uma pesquisa por três anos.
O projeto Brazil-UK Healthy Urban Living and Ageing in Place (HULAP) será conduzido entre 2016 e 2019 em Curitiba (PR) por pesquisadores de saúde pública e de planejamento urbano da Pontifícia Universidade Católica do Paraná e da Queen's University de Belfast, da Irlanda do Norte.
A ideia é coletar informações sobre como, onde e quando idosos caminham e realizam atividades diárias para entender como eles lidam no dia a dia com sua vizinhança.
Além disso, serão examinadas informações sobre políticas municipais, estaduais e federais sobre planejamento urbano, saúde e atividade física, além das características do ambiente social e físico em diferentes bairros de Curitiba.
Assim, pretende-se estudar as barreiras e oportunidades que os idosos enfrentam ao longo do dia e associar isso às condições de saúde.
O projeto prevê diálogo com planejadores urbanos e também com representantes de grupos de idosos para encontrar formas de promover atividades físicas por meio de pequenas intervenções urbanas - como, por exemplo, mudança no posicionamento de faixas de trânsito para pedestres, pontos de ônibus e banheiros públicos.
A pesquisa também pretende oferecer suporte local para esses grupos e encontrar o tipo de intervenção necessária para que municipalidades possam integrar as necessidades da pessoa idosa em suas decisões.
Pesquisas como essa são importantes porque as cidades brasileiras têm passado por mudanças profundas nos últimos trinta anos, e continuam a mudar.
Quase 90% da população brasileira vive hoje em áreas urbanas e esse número cresce rapidamente, com milhões de pessoas a mais vivendo em cidades a cada ano.A expectativa de vida no Brasil pulou de 53,3 para 72,8 anos. Muitos dos idosos nasceram em áreas rurais, mas estão envelhecendo em áreas urbanas que são precariamente equipadas para encorajá-los a continuarem ativos.
A habilidade em se manter ativo ao longo da vida pode ser crucial para conservar a independência, ter acesso a serviços locais, se manter em forma e criar oportunidades importantes para a sociabilidade. Esses são elementos vitais que permitirão que brasileiros envelheçam com saúde, sem precisar deixar suas casas e vizinhanças.
Se os futuros novos e reeleitos prefeitos estiverem mesmo engajados em promover com sucesso o envelhecimento saudável, eles devem se basear em evidências para fazer cidades mais habitáveis. Precisam criar oportunidades para atividades físicas próximas aos moradores, entender quais são as barreiras cruciais que desencorajam pessoas idosas a andar em sua comunidade e, por fim, promover formas de superá-las.

Desafios a serem enfrentados

Há enormes desafios para assegurar que essas cidades que crescem tão rapidamente sejam capazes de funcionar com novas moradias, transporte, sistema de água, além de outras formas de infraestrutura vitais para a prosperidade, qualidade de vida e boa saúde dos moradores.
O Brasil já conta com exemplos incríveis de como melhorar suas cidades, como por exemplo, Curitiba. A capital paranaense tem uma longa trajetória de sucesso de implantação de BRT - ônibus que transita em faixa exclusiva -, parques e outras áreas de lazer, conectados por uma rede de transporte pública e serviços municipais.
Já utilizado em mais de 150 cidades no mundo, o BRT tem sido associado a maiores níveis de atividade física e níveis menores de poluição e engarrafamento.
Contudo, a maioria dos municípios sofre com um planejamento inadequado, com um grande número de pessoas tendo que morar em favelas e viver em moradias impróprias, com acesso limitado a água, energia elétrica e saneamento básico.
O crescimento econômico rápido na última década também levou ao aumento do número de carros por habitantes - fenômeno alimentado pela aspiração social e pelo acesso precário ao transporte público.
Algumas das consequências são imediatas como o aumento do número de engarrafamentos nas cidades que, por sua vez, geram um enorme impacto na qualidade do ar e no número de vitimas de acidentes de carro - são quase 40 mil mortes nas rodovias brasileiras anualmente.

Ameaças à saúde

As condições urbanas afetam, portanto, profundamente a saúde de seus moradores. Muitas dessas condições já são compreendidas e têm soluções conhecidas, ainda que as autoridades locais não tenham a capacidade de implementá-las.
Contudo, como cidades se desenvolvem e o estilo de vida dos cidadãos muda, há outras ameaças à saúde.
Entre elas o aumento nos índices de obesidade e falta de atividade física, que podem ter impactos substanciais na saúde da população ao longo da vida. São ainda associados a uma série de problemas incluindo câncer, doenças cardiovasculares e diabetes.
Ainda assim, a forma como as cidades brasileiras se desenvolvem tende a desencorajar moradores a fazerem mais atividades físicas - há poucas e, na maioria das vezes, perigosas vias para pedestres, ausência de áreas verdes de qualidade para se exercitar e falta transporte público para encorajar caminhadas ao final da jornada de trabalho.
Todos esses fatores têm demonstrado um efeito negativo nos níveis de atividades físicas no Brasil e claramente isso tem se tornado uma questão prioritária de saúde para o país.

Intervenções inovadoras

Ainda que existam exemplos emergentes de intervenções inovadoras para encorajar as pessoas a fazerem mais atividades físicas, como por exemplo promover livre acesso a aulas de atividade física e aconselhamento em unidades de saúde, o objetivo a longo prazo deve ser o "retorno" à forma como as cidades facilitam caminhadas e pedaladas.

Essas opções devem se tornar escolhas naturais para jornadas diárias e, assim, resultar em benefícios enormes não apenas para a saúde, mas também para o meio ambiente em geral, economia e interação social dentro da cidade.
Mesmo que em contextos muito diferentes, há muitos exemplos de como isso pode ser feito.
Um exemplo é Copenhague, na Dinamarca. Depois de décadas de intervenções cuidadosas - como investimento em ciclismo e infraestrutura para o pedestre -, a cidade contabiliza mais de 50% de todas as jornadas na cidade feitas de bicicleta por pessoas que pedalam todos os dias.
Copenhague inteira é navegável por bicicletas e 96% da população mora a 15 minutos a pé de uma área verde de qualidade.
A precariedade em opções saudáveis de mobilidade tem implicações importantes a longo prazo para os habitantes, em particular para idosos, estes entre os mais vulneráveis.
Enquanto muitos de nós evitamos pensar sobre os desafios de envelhecer (o que seria muito melhor do que desviar do assunto), o envelhecimento vai inevitavelmente nos confrontar. Deve, portanto, ser uma prioridade para cada um de nós.

Reportagem de Rodrigo Siqueira Reis e Geraint Ellis e Andreza Aruska de Souza Santos
fonte:http://www.bbc.com/portuguese/brasil-37504379
foto:http://lounge.obviousmag.org/chrizoca/2016/08/nossos-queridos-idosos.html

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