22/10/2016

Argentina se mobiliza contra os feminicídios no país


Milhares de mulheres, vestidas de preto, interromperam seu trabalho na Argentina durante uma hora para protestar contra uma praga que não tem fim: mais de 200 delas são assassinadas por ano, vítimas da violência de gênero. Horas depois, outras dezenas de milhares marcharam sob a chuva com guarda-chuvas e capas majoritariamente pretas em vários pontos do país para fechar um dia de luta que mobiliza como nunca a Argentina há mais de um ano, mas por enquanto sem resultados concretos. Um assassinato e estupro especialmente cruéis de uma adolescente de 16 anos, Lucía Pérez, revoltou novamente a sociedade que não consegue parar a violência. A luta foi seguida em vários lugares do mundo, inclusive no Brasil, onde um grupo de manifestantes se reuniu no centro de São Paulo em apoio à mobilização argentina no final da tarde –um novo protesto contra a violência machista está marcado para o próximo dia 25, na avenida Paulista.
Argentina vive um paradoxo: a batalha contra a violência de gênero – também chamada de feminicídio– nunca teve tanta presença pública, mas nada parece conseguir sequer reduzir os assassinatos. Apesar do país ter vivido, há mais de um ano, a maior mobilização já vista na Argentina e uma das maiores do mundo contra esse mal, após o assassinato de Chiara Páez, que tinha 14 anos e estava grávida, poucas coisas parecem ter mudado. Somente em outubro foram contabilizados 20 assassinatos de mulheres por violência de gênero, quase um a cada 23 horas. A média fornecida pelas estatísticas durante o ano é de um a cada 30 horas.
Boa parte das mulheres em todo o país seguiram a diretriz lançada nos dias anteriores: se vestir de preto, usar as diversas hashtags nas redes sociais – da campanha #NiUNaMenos, a #VivaNosQueremos e #MiércolesNegro – e parar por uma hora às 13h (14h de Brasília) para comparecer à marcha na parte da tarde no Obelisco, no centro de Buenos Aires. Todos os políticos, artistas e jornalistas mais conhecidos participaram. O protesto teve grande participação sobretudo nos prédios públicos, ministérios, transportes e especialmente nos colégios, onde causou muita emoção porque a última falecida, que foi estuprada e empalada, o que a matou, tinha só 16 anos quando foi enganada e levada a uma casa onde iriam vender-lhe drogas em Mar del Plata.
Os detalhes de sua tortura e assassinato emocionaram a Argentina. Nas ruas de Buenos Aires, nas portas dos edifícios de escritórios, milhares de mulheres de preto saíram para gritar as palavras de ordem "nem uma a menos". A sensação de que nada avança é constante entre elas. Chiara Páez também era uma adolescente, assassinada por seu namorado e enterrada no quintal. A mobilização foi enorme, mas não foram conquistados grandes avanços. Toda a América Latina, incluindo a Argentina e o Brasil, é vítima de uma onda de violência de gênero em sociedades nas quais o machismo ainda está muito enraizado.
De tarde, e apesar de uma chuva torrencial e um frio incomum para a primavera do hemisfério sul, dezenas de milhares de mulheres marcharam com seus guarda-chuvas do Obelisco à Praça de Maio, epicentro dos protestos sociais na Argentina. Com aplausos, gritos de “vivas nós as queremos, nem uma a menos” e cartazes com a inscrição “O machismo mata”, mulheres de todas as idades repudiaram a violência machista. “Nem uma a menos, mais nenhuma, se não existe justiça há escracho popular”, cantavam pelas ruas do centro da cidade, que ficou abarrotado pela quantidade de manifestantes que vinham de todas as direções rumo à Praça de Maio.
Familiares de vítimas com fotos de filhas, irmãs e netas assassinadas exigiram na marcha o fim da impunidade desses crimes. Jovens estudantes, com cartazes contra o assédio nas ruas e a frase “Nem uma a menos” escrita em seus rostos, pediram para conseguir “viver sem medo”. Ativistas pela descriminalização do aborto reivindicaram do Estado que não exista “mais nenhuma morta por aborto clandestino na Argentina”. Trabalhadoras e sindicalistas denunciaram, mais uma vez, a diferença salarial que persiste entre homens e mulheres e a disparidade de oportunidades para se chegar em postos de poder.

Uma questão política

O assunto rapidamente se transformou em uma questão política. O Congresso reagiu e quase no mesmo instante em que os manifestantes protestavam era aprovada no Senado por 54 votos contra dois uma reforma para garantir por lei que existirá paridade no Parlamento, como ocorre em outros países. Ninguém na esfera pública pode se sentir alheio a um movimento que praticamente não existia há um ano e meio, além de algumas pequenas organizações, e que agora mobiliza milhares de pessoas.
Todos observam o Governo para ver como ele pensa em resolver esse problema. O presidente, Mauricio Macri, se mostrou solidário ao protesto e acredita que o plano de choque colocado em andamento, ainda sem resultados claros, começará a funcionar. O essencial, disse, está na educação. “Com a educação temos a possibilidade de entender que todo tipo de violência é algo do qual precisamos nos afastar, especialmente a violência de gênero, que hoje nos atinge e afeta de maneira ruim”, afirmou.
Mas enquanto Macri se mostrava comprometido, a oposição o criticava por não destinar os fundos suficientes. “É incrível, no dia da paralisação das mulheres, o projeto com o qual pretendem reformar o Ministério Público elimina a unidade especializada em feminicídios (UFEM). É inacreditável.”, afirmou Cristina Kirchner, a ex-presidenta e de alguma forma líder da oposição. “Meu coração estará na marcha com cada uma das mulheres que se mobilizarem nessa quarta-feira. Junto a cada companheira”, disse em outra mensagem na qual afirmava que o fato de uma mulher ter ocupado a presidência pode ter contribuído indiretamente para uma certa raiva de alguns homens que se transformou em violência de gênero.
Reportagem de C.E.C, M.C, R.B e F.R.M
fonte:http://brasil.elpais.com/brasil/2016/10/19/internacional/1476905030_430567.html
foto:http://tecnoalimeninfo.com/2016/10/21/mi-rcolesnegro-las-mujeres-argentinas-de-negro-para.html

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