28/03/2016

Conheça as origens do Talebã, movimento que reivindica atentado no Paquistão

Um ataque reivindicado pelo movimento islâmico de linha dura Talebã deixou ao menos 69 mortos e mais de 300 feridos ontem (27) em um parque na cidade paquistanesa de Lahore.
O parque estava cheio de famílias, algumas comemorando a Páscoa. A maior parte das vítimas são mulheres e crianças.
Autoridades policiais disseram à BBC que o ataque provavelmente foi feito por um homem-bomba. O presidente do Paquistão condenou a explosão e o governo regional anunciou três dias de luto.
Mas qual é a história desse grupo que já realizou vários ataques no Paquistão e no Afeganistão? Quais são seus objetivos e como ele ganhou tanta força nos dois países? Leia abaixo um pouco da história do movimento.

Origens

O Talebã surgiu no início dos anos 1990 no norte do Paquistão, após a retirada das tropas soviéticas do Afeganistão.
Um movimento predominantemente pashtun - povo que lutou contra o imperialismo britânico, a invasão soviética e atualmente luta contra a intervenção ocidental - o Tabelã ganhou destaque no Afeganistão em 1994 .
Acredita-se que apareceu pela primeira vez nos seminários religiosos - principalmente pagos pelo dinheiro da Arábia Saudita - que pregavam uma forma linha-dura do Islã sunita.
A promessa do Talebã - em áreas pashtun abrangendo o Paquistão e o Afeganistão - era restaurar a paz e segurança e impor sua própria versão da Sharia, ou lei islâmica, uma vez no poder.
Em ambos os países introduziram ou apoiaram punições islâmicas - como execuções públicas de assassinos condenados e adúlteros e amputações dos culpados de roubo.
Os homens foram obrigados a deixar a barba crescer e as mulheres a usar a burca que cobria todo o corpo.
O Talebã proibiu televisão, música e cinema e reprovou que meninas com mais de dez anos fossem à escola.
O Paquistão tem negado repetidamente que é arquiteto das estratégias do Talebã. Mas não há muitas dúvidas de que afegãos que inicialmente se juntaram ao movimento foram educados em madrassas (escolas religiosas) no Paquistão.
O Paquistão foi também um dos únicos três países, juntamente com a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos, que reconheceu os talibãs quando eles estavam no poder no Afeganistão de meados da década de 1990 até 2001. Ele também foi o último país a romper relações diplomáticas com o movimento.
Embora o Paquistão tenha, nos últimos anos, adotado uma linha mais dura contra militantes do Talebã que realizam ataques em seu território, o primeiro-ministro Nawaz Sharif - que foi eleito em 2013 - disse que falar com os tais militantes é uma de suas prioridades.
Pelo menos três líderes importantes do Talebã paquistanês foram mortos em ataques aéreos norte-americanos em 2013. Em novembro do mesmo ano, o líder do grupo no Paquistão, Hakimullah Mehsud, foi morto em um ataque de drone.
Mas, apesar destes contratempos para os militantes, há evidências de que a sua influência em Karachi, cidade mais populosa do Paquistão, aumentou significativamente.
Uma das ataques mais criticados do Talebã paquistanês aconteceu em outubro de 2012, quando estudante Malala Yousafzai foi atacada a caminho de casa, na cidade de Mingora.

No Afeganistão

A atenção do mundo foi atraído para o Talebã no Afeganistão após os ataques ao World Trade Center, em Nova York, em setembro de 2001.
O Talebã no país foi acusado de proporcionar um santuário a Osama Bin Laden e o movimento al-Qaeda, que foram responsabilizados pelos ataques.
Logo após o 11 de setembro, o Talebã foi expulso do poder no Afeganistão por uma coalizão liderada pelos Estados Unidos, apesar de seu líder, Mullah Mohammad Omar, não ter sido capturado.
Nos últimos anos, o Talebã ressurgiu no Afeganistão e cresceu muito no Paquistão, onde observadores dizem que há coordenação, ainda fraca, entre diferentes facções do Talebã e grupos militantes. A principal facção paquistanesa foi liderada por Hakimullah Mehsud até sua morte. Tehrik-e Taliban Pakistan (TTP) é acusada de dezenas de atentados suicidas e outros ataques.
No entanto, observadores alertam para o excesso de afirmações sobre a existência de uma insurgência unificada contra o Estado paquistanês.
Durante anos, o Talebã no Afeganistão foi liderado por mulá Mohammed Omar, um clérigo de aldeia que perdeu seu olho direito lutando contra as forças de ocupação da União Soviética na década de 1980.
Afegãos, cansados de disputas internas depois que os soviéticos foram expulsos, geralmente acolheram bem o Talibã quando ele apareceu em cena pela primeira vez.
Sua popularidade no início foi em grande parte devido ao seu sucesso na luta contra a corrupção, coibindo a ilegalidade e tornando as estradas e as áreas seguras sob seu controle para o desenvolvimento do comércio.

Ataque dos EUA

Do sudoeste do Afeganistão, o Talibã rapidamente estendeu a sua influência. Eles capturaram a província de Herat, na fronteira com o Irã, em setembro de 1995.
Exatamente um ano depois, dominaram a capital afegã, Cabul, depois de derrubar o regime do presidente Burhanuddin Rabbani e seu ministro da Defesa, Ahmed Shah Masood.
Em 1998, eles estavam no controle de quase 90% do Afeganistão.
Eles foram acusados de vários abusos culturais e contra os direitos humanos. Um exemplo notório foi em 2001, quando o Taleban foi adiante com a destruição das famosas estátuas de Budas de Bamiyan no centro do Afeganistão, apesar de indignação internacional.
Em 7 de outubro de 2001, uma coalizão militar liderada pelos EUA invadiu o Afeganistão e na primeira semana de dezembro o regime talibã tinha desmoronado.
Apesar de números cada vez maiores de tropas estrangeiras, os talibãs estenderam sua influência, tornando grandes áreas do Afeganistão inseguranças e a violência no país voltou a níveis não vistos desde 2001.

Retorno

Sua retirada no início desta década permitiu-lhes limitar suas perdas humanas e materiais e voltar como uma forma de vingança.
Houve inúmeros ataques do Talebã em Cabul nos últimos anos e, em setembro de 2012, o grupo realizou um ataque de alto perfil na base de Camp Bastion da Otan.
No mesmo mês, os militares americanos passaram o controle da controversa prisão de Bagram - onde estão mais de 3.000 combatentes do Talebã e suspeitos de terrorismo - para as autoridades afegãs.
Em setembro de 2015, o Talebã tomou o controle de uma capital provincial, pela primeira vez desde sua derrota em 2001. Kunduz é uma cidade estrategicamente importante.
Na ocasião, o Talebã afegão também disse que tinha posto de lado semanas de disputas internas para se reunir em torno de um novo líder: mulá Mansour, o vice de longa data de mulá Omar, o líder supremo do movimento. Omar morreu em 2013, mas só teve a morte anunciada no ano passado.
Nesse cenário, muitos observadores acreditam que o futuro da paz no Afeganistão só pode vir se o governo em Cabul negociar com o Talebã.
Apesar dos presságios negativos, é importante ressaltar que o Talebã se encontra como uma organização muito dividida, também ameaçada pela ascensão do Estado Islâmico no Afeganistão e pelas forças americanas que seguem no país.

fonte:http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2016/03/160327_origens_taleba_if#orb-banner
foto:http://www.uripakistan.org/uriglobalnews.asp

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