21/03/2016

Como a Ciência explica hábito de gritar ao celular

A cena é cada vez mais comum: no ônibus, na praia, na academia, no restaurante, alguém insiste em nos envolver em suas conversas ao celular, simplesmente por falar muito alto.
Muitas vezes, a pessoa nem percebe que está elevando seu tom de voz e tende a reclamar quando outros fazem o mesmo.
Será, então, que há uma explicação científica para esse comportamento?
A resposta surge ao se analisar o design original dos primeiros telefones – aqueles bem anteriores ao celular de hoje. Uma de suas características principais é ser dotado de um sidetone – mecanismo que permite ao usuário escutar sua própria voz no fone enquanto fala.
O artifício serve para assegurar ao usuário de que ele está sendo ouvido, sem a necessidade de elevar o tom de voz. Aparelhos de telefonia fixo têm sidetonesjustamente para evitar a gritaria desnecessária em espaços fechados.

Reação ao entorno

Segundo o tecnólogo em acústica Nick Zakarov, da empresa de tecnologia dinamarquesa Delta, celulares também são dotados de sidetone – e há até diretrizes internacionais que sugerem um certo nível de decibéis para o mecanismo nesses aparelhos.
O problema está na mobilidade dos celulares, o que faz com que o volume dosidetone nem sempre seja suficiente em locais com muito ruído de fundo.
Além disso, é preciso considerar o chamado "efeito Lombard", descoberto em 1909 pelo otorrinolaringologista francês Etienne Lombard: a nossa tendência natural de alterar a voz de acordo com os barulhos à nossa volta. Sem perceber, fazemos um esforço para nos nivelarmos ao som mais alto que escutamos – mesmo que seja uma britadeira em um canteiro de obras ou a voz de quem está do outro lado da linha.
Junte tudo isso e eis o fenômeno das conversas telefônicas que involuntariamente envolvem quem estiver por perto.
É interessante notar, no entanto, que esta não é a primeira vez que o jeito como falamos ao telefone desafia nosso conceito de boas maneiras. Quando os primeiros aparelhos foram comercializados, a elite da era vitoriana não sabia como se comportar. As dúvidas iam de "será que posso falar ao telefone estando nu?" a "quando falar com uma mulher, devo ficar de pé?".
Ao que parece, a telefonia é uma tecnologia que sempre vai desafiar nossa noção de etiqueta.

Reportagem de Adam Rutherford, geneticista e ex-editor da revista Nature e Hannah Fry, professora de matemática na University College London. Os dois apresentam a série The Curious Cases of Rutherford and Fry, sobre Ciência, na Rádio 4 da BBC.
fonte:http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2016/03/160315_vert_fut_celular_gritar_ml
foto:http://www.pakistantoday.com.pk/2014/05/24/entertainment/studies-look-for-link-between-cell-phones-and-brain-tumours/

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