04/12/2015

Em reta final, oposição venezuelana reforça denúncias de fraude nas eleições legislativasel

No encerramento de campanha da coalizão opositora MUD, era difícil encontrar quem acreditasse que não haveria nenhuma manipulação eleitoral no domingo.




Lilian Tintori, esposa do político opositor Leopoldo López, preso desde fevereiro, deu o tom sobre como a oposição enxerga as eleições legislativas na Venezuela. “Podem acontecer duas coisas em 6 de dezembro: ou ganha a oposição ou houve fraude”. O posicionamento dela — uma espécie de relações públicas da oposição dentro e fora do país — é parte de um amplo e antigo discurso de desacreditação das eleições, compartilhado dentro e fora da Venezuela.

E que tem eco entre seus eleitores. Na quinta-feira (03/12), no encerramento de campanha da MUD (Mesa de Unidade Democrática, coalizão opositora), em Caracas, era difícil encontrar entre as pouco mais de 300 pessoas reunidas quem acreditasse que não haveria nenhuma manipulação eleitoral no domingo.


“Eles [chavistas] vão nos roubar de novo, tenho certeza”, afirma Giovana González, de 40 anos. Acompanhada da filha e da mãe, ela diz não confiar nos processos eleitorais venezuelanos. “Quando [Henrique] Capriles ganhou o governo de Miranda [em 2013] sim, acreditei. Mas quando eles ganham é mentira. Estamos passando fome! Não é possível que as pessoas queiram continuar votando no chavismo!”, grita, para logo depois posar para uma foto com a família. “Vamos mandá-la ao meu filho, que está estudando nos Estados Unidos”, conta, com orgulho.

Enquanto balançava uma bandeira do partido Primeiro Justiça, Micalia Plaza, de 52 anos, dizia torcer por uma grande “unidade nacional” para tirar o chavismo do poder. “Precisamos impulsar um processo de paz. É como se o nosso país estivesse em guerra”, afirma. Apesar de mais otimista com os resultados, ela revela temer igualmente a validação de uma vitória da MUD.  

Apesar de a oposição ter voltado a participar de processos eleitorais na Venezuela — em 2005, por exemplo, o bloco boicotou o pleito —, já é comum que desde muito antes da votação, denuncie irregularidades e desacredite o trabalho do CNE (Conselho Nacional Eleitoral). Dessa vez, com as eleições legislativas, não é diferente. Munidas com pesquisas de intenção de voto produzidas pelas principais consultorias de tendência opositora venezuelanas, como Datanalisis, e que sugerem uma vitória da MUD, as lideranças se adiantam nas denúncias.

Freddy Guevara, candidato da MUD à Assembleia, foi tão enfático quanto Lilian: somente respeitará os resultados se esse refletirem “o que diz o povo”. E para ele, só se forem favoráveis à oposição “Se o CNE não diz o que dizem os votos, o impugnaremos. Se temos a prova que ganhamos, temos direitos a apelar”, afirmou.



“Campanha suja”

Ligeiramente na corrente contrária, está o secretário executivo da MUD, Jesus “Chúo” Torrealba, quem em entrevista a Opera Mundi apostou mais numa suposta “campanha suja” do chavismo do que em fraude como complicador do voto. “Viemos aceitando resultados negativos há quase 17 anos”, pontua. Ele, que chegou ter um programa de televisão chamado “Radar da favela”, que percorria localidades pobres de Caracas, diz que na Venezuela “sempre houve irregularidades eleitorais”, porém, “a situação escalou: agora estão cometendo delitos eleitorais. Ampliaram sua vantagem com a aplicação do estado de exceção em algumas zonas do país”.


Chúo se refere à medida usada pelo governo venezuelano este ano para coibir o contrabando de produtos e a violência paramilitar, que cresciam na fronteira com a Colômbia. Circuitos dos estados de Táchira e Zulia, por exemplo, estão sob a situação. “Apesar de tudo isso, estamos ganhando esse processo eleitoral, com uma distância próxima dos 35 pontos percentuais”, continua.

Para ele, a oposição deve ganhar “não somente devido à excelência do nosso trabalho”, mas pela crise que vive a Venezuela. No entanto, sobre a enorme diferença de público entre a marcha chavista e opositora — o PSUV reuniu centenas de milhares de pessoas no centro da capital, enquanto a MUD pouco mais de 300 assistentes ao Parque Cristal, em Miranda —, Chúo afirma que a onda de violência iniciada ano passado após a campanha opositora “La Salida”, capitaneada por Leopoldo López, “assustou” os opositores.

Entre fevereiro e março de 2014, mais de 40 pessoas foram mortas, grande parte delas indentificada com o chavismo. Um grupo de parentes de vítimas das “guarimbas”, como foram chamadas as barricadas que eram erguidas nas ruas do país, se manifesta frequentemente exigindo justiça contra membros da oposição, que supostamente teriam incentivado os dias de barbárie.

“Até para dar um golpe de Estado, faz falta ter algum capital político. E Maduro não o tem. Ele não tem nem votos no país, nem aliados no exterior”, conclui Chúo, em uma tentativa de delinear o que seria um isolamento do presidente venezuelano, eleito em abril de 2013. Uma eleição apertada, vencida por 1,49%, e que igualmente foi desacreditada pela oposição. Uma onda de violência que se seguiu aos protestos de fraude matou 13 pessoas, parte delas moradora da comunidade Limonera e declaradamente chavista.




Reportagem de Marina Terras
fonte:http://operamundi.uol.com.br/conteudo/reportagens/42508/em+reta+final+oposicao+venezuelana+reforca+denuncias+de+fraude+nas+eleicoes+legislativas.shtml#
foto:http://brasil.elpais.com/brasil/2015/02/22/internacional/1424579783_786024.html

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